Uma floresta é mais que um aglomerado de árvores
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A criação de uma floresta vai muito além da importante e necessária plantação de árvores. Logo, um conjunto de árvores não é necessariamente uma floresta. O simples acto de plantar árvores encerra em si vários objectivos distintos. Nós, humanos, plantamos árvores para colmatar as necessidades de madeira, frutos, óleo, borracha ou de outros produtos; para decorar e sombrear os nossos jardins, parques, quintais e avenidas; para bloquear a força do vento, para deter a erosão ou para sequestrar o carbono. O fim a que se destina a plantação determina a escolha das espécies e a forma como essas árvores serão distribuídas pelos espaços. Tomemos como exemplo uma plantação para produção de madeira – à distância, pode parecer uma floresta natural, todavia, se observarmos mais de perto, podemos ver um padrão uniforme, composto por árvores de crescimento rápido, de tronco recto e plantadas à mesma distância entre si. De igual modo, se o objectivo passa pelo sequestro de carbono, podemos optar por espécies de crescimento rápido para obtermos o melhor resultado no menor espaço temporal.
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Mas, existe algum problema em plantar árvores em vez de plantar florestas? Não, de todo, dependendo do fim a que se destina. Todavia, devemos privilegiar a plantação de florestas. A explicação, apesar da grande complexidade dos processos, é muito simples: nas florestas, ocorrem interacções que não se encontram ao alcance da nossa vista, mas que impulsionam o desenvolvimento dos processos ecológicos que valorizamos. A “vida” da floresta vai muito para além daquilo que vemos. No solo, debaixo dos nossos pés, existe uma infinidade de redes subterrâneas de fungos que formam relações mutuamente benéficas e conectam as árvores umas às outras, permitindo-lhes que se comuniquem e partilhem nutrientes.
Grosso modo, uma floresta natural é composta por uma comunidade de organismos que coexistem e interagem – árvores, arbustos, mamíferos, aves, musgos, fungos, bactérias, insectos e outros microrganismos – que dependem uns dos outros para se alimentarem, para obterem abrigo e outros ingredientes necessários à sua existência. Estas interacções entre as várias espécies fortalecem a resiliência do ecossistema como um todo.
Por exemplo, a presença de fungos permite às plantas a transferência de carbono para o solo, onde pode ser armazenado por centenas ou até milhares de anos. Por outro lado, esses fungos também contribuem para a melhoria da estrutura e da consistência do solo, tornando-o mais esponjoso e com maior capacidade de absorção da água da chuva, parte da qual se infiltra naquele, contribuindo desse modo para o reabastecimento dos aquíferos. Como sabemos, um solo vivo rico em matéria orgânica é fundamental para a capacidade da floresta mitigar a ocorrência de cheias e secas. Mas esse tipo de relações vitais ocorre apenas quando as plantas podem crescer e prosperar numa comunidade natural. Quando plantamos árvores individuais ou em regime de monocultura, perdemos muitos dos benefícios que provêm dessas redes de interdependência.
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As florestas, quando comparadas com as monoculturas, são mais estáveis e mais resistentes relativamente às agressões externas provocadas pelos fogos, cheias e outros agentes destruidores.
Para criar uma floresta ecologicamente equilibrada, além da plantação de árvores, é necessário fazer-se uma selecção criteriosa e adequada das espécies a plantar; uma boa preparação do solo e a criação de condições propícias para um bom desenvolvimento das plantas e animais que interagem, em simbiose, no ecossistema florestal, o qual deve ser o mais funcional e saudável possível.
As florestas ajudam a manter a água e o ar limpos, fornecem habitat para os animais e funcionam como sumidouros de carbono. Em sentido inverso, o desmatamento contribui, consideravelmente, para as emissões de gases com efeito estufa.
A restauração de ecossistemas estáveis na sua plenitude poderá levar centenas de anos, daí a premente necessidade de se manterem os existentes. Para restaurar um ecossistema, a opção deverá recair sobre espécies nativas, pois estão mais adaptadas ao clima e necessitam de menos cuidados.
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico