As partículas finas que pairam sobre a Europa

A poluição atmosférica nas várias regiões da Europa é motivo de preocupação, não só para as pessoas, mas também para os governos. Sendo assim, que medidas precisam ser tomadas para o combate a essa mesma poluição?
Apesar de a poluição do ar ser em grande parte invisível, o mesmo não se poderá dizer das suas consequências, sobretudo dos efeitos nefastos das minúsculas partículas PM2,5 (partículas finas) na saúde das pessoas, dos animais e no ambiente.
Sobre esta matéria em apreço, o instituto de investigação de Barcelona ISGlobal desenvolveu um estudo baseado nos valores de 800 cidades europeias, com o objectivo de estabelecer a ligação entre as fontes de poluição e os impactos na saúde, apontando para cada uma das situações, as prioridades de acção. As conclusões parecem ser óbvias – quase toda a gente na Europa respira ar tóxico.
Globalmente, avaliando a Europa como um todo, constata-se que a principal fonte de poluição atmosférica é o aquecimento doméstico. Depois, e por esta ordem decrescente de grandeza, aparece a agricultura, a indústria, os transportes e a navegação. Todavia, importa ressalvar que existem variáveis, de região para região. Por exemplo, na região noroeste da Europa, a agricultura destaca-se como a maior fonte de poluição. Por outro lado, nas cidades do centro e noroeste da Europa, assim como no norte da Itália, o destaque vai para a poluição dos transportes. Na Europa de leste, ganham maior expressão, o aquecimento doméstico, logo seguido pela produção de energia e pela agricultura. Todas estas fontes de poluição precisam de soluções estruturais, além do que cada pessoa, individualmente, pode fazer no seu dia-a-dia.
A queima de combustíveis sólidos é considerada a forma mais poluente de aquecer casas. Todavia, a partir da década de 1970, muitas casas da Europa Ocidental, devido à disponibilidade de gás fóssil, abandonaram o aquecimento a lenha, resultando daí grandes melhorias na qualidade do ar. Mais recentemente, essa tendência reverteu-se, devido à grande popularidade dos fogões a lenha, que passaram a funcionar como elementos estéticos e como segunda fonte de calor. Por outro lado, na região oriental da Europa, o aquecimento doméstico com base no carvão continua bastante popular.

A solução para contrariar esses extremos de poluição do ar, resultantes da queima de combustíveis sólidos, excedendo muitas vezes as recomendações da Organização Mundial de Saúde, passaria pela sua interdição. No entanto, essa medida só seria viável em casas devidamente isoladas e com possibilidade de aquecimento através de energia eléctrica proveniente de fontes renováveis.
Relativamente à agricultura, a principal fonte de PM2,5 é o amoníaco emitido pelos fertilizantes e pelos resíduos animais, resultando não só na poluição do ar, mas também na contaminação dos rios. No caso da Europa, a actividade agrícola é responsável por cerca de 94% de todas as emissões de amoníaco. A amónia emitida como gás, quando combinada com sulfatos e nitratos, transforma-se rapidamente em partículas de amónio, que representam cerca de 20% a 40% do total de PM2,5 existentes no ar. Neste caso as mudanças para a melhoria da qualidade do ar podem ser conseguidas através de mudanças operadas na forma de trabalhar dos agricultores e numa menor utilização de fertilizantes para incorporação de azoto nos solos.
Durante a década de 1970, as florestas começaram a morrer, devido às chuvas ácidas resultantes da poluição atmosférica proveniente das grandes indústrias. Após o encerramento dessas instalações industriais poluentes, registaram-se melhorias repentinas na saúde das populações. Um desses exemplos paradigmáticos foi o encerramento de uma fábrica de processamento de carvão perto de Pittsburgh, EUA, que ocorreu no ano 2016. Após essa medida, registou-se uma redução imediata de 42% nas visitas aos serviços de urgência por problemas cardíacos na comunidade local e novas melhorias nos anos seguintes.

Os efeitos das partículas resultantes da combustão de combustíveis fósseis resultam em efeitos nefastos para a saúde, nomeadamente, no aumento de mortes por motivos cardiovasculares, internamentos hospitalares e atendimentos de urgência, assim como, risco aumentado de ataques de asma nas crianças. Actualmente, existe um maior controlo, mas ainda há um grande caminho a ser percorrido no sentido da melhoria da qualidade do ar.
Outra das fontes de grande poluição atmosférica é o tráfego terrestre, aéreo e marítimo. No caso do tráfego terrestre movido a combustíveis fósseis, têm sido atingidas algumas melhorias, quer ao nível dos sistemas de gestão dos motores, quer através da utilização de filtros e catalisadores para limparem os escapes. Por outro lado, com a produção em grande escala dos veículos eléctricos, a emissão de poluentes pelo escape parece estar resolvida, no entanto, a extracção de minerais para a construção de baterias, assim como a sua reciclagem, estão a tornar-se problemas sérios de contaminação ambiental e de instabilidade social. Por outro lado, estes mesmos veículos eléctricos, tal como os movidos a combustíveis fósseis, também produzem poluição por partículas devido ao desgaste dos travões, pneus e das superfícies das estradas. Uma forma de minimizar a emissão destes poluentes passaria, por um lado, pela adopção de modelos de condução mais suaves, com velocidades mais reduzidas e, por outro, pela utilização dos transportes públicos, bicicletas e caminhadas, em detrimento das deslocações em automóvel particular.
No que ao transporte marítimo e aéreo diz respeito, sabemos que passam, respectivamente, pelos mares e pelos céus da Europa algumas das rotas marítimas e aéreas mais movimentadas do mundo. Apesar dos recentes avanços implementados nas embarcações e nas aeronaves em matéria de protecção ambiental, o transporte marítimo, incluindo os navios de cruzeiro, assim como o transporte aéreo, continuam a ser das maiores fontes de poluição por partículas finas. Apesar de ser particularmente elevada nas zonas costeiras, nos portos e aeroportos, a poluição atmosférica causada pelo transporte marítimo e aéreo consegue atinge centenas de quilómetros ao seu redor.

Posto isto, o que é que nós podemos fazer, individualmente, não só para reduzirmos as emissões de PM2,5, mas também para evitarmos a nossa exposição a este tipo de partículas? No caso da nossa contribuição para a redução das emissões, por um lado, podemos começar por não aquecer as nossas casas com combustíveis sólidos, caso tenhamos outras opções ecologicamente mais viáveis. Por outro lado, podemos evitar utilizar o automóvel individual, em benefício de outras opções de transporte mais amigas do ambiente.Relativamente à redução da nossa exposição às partículas finas PM2,5, um bom exemplo a seguir é optarmos por fazer caminhadas por vias secundárias em vez das artérias principais, habitualmente com maior volume de trânsito. Para concluir, importa ressalvar que, nestas questões da preservação da qualidade do ar e da protecção ambiental, a excessiva concentração nas acções individuais que cada um pode adoptar, pode desviar as atenções sobre a grande responsabilidade dos sectores que verdadeiramente são os grandes responsáveis pelo problema. Além disso, estes pequenos ajustes na vida quotidiana não resultarão em melhorias na redução da poluição por partículas finas resultantes da indústria, do transporte marítimo, do transporte aéreo e da agricultura. Quanto à resolução destes problemas, a acção deve partir das próprias indústrias e de uma adequada regulamentação por parte dos governos.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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