Obra de Capa janeiro

Preciso de dar a luz ao Mundo, a mesma luz que dou quando, depois de nove meses de espera, das minhas entranhas expulso mais uma mulher, mais um homem, mais uma pessoa para vir habitar este universo, esta Natureza, para vir ver e viver a luz deste Mundo que tende a ficar escondida pelas vicissitudes mil que lhe impomos, quero dar a luz a este Mundo, não importa a minha estatura baixa. Eu vou dar a luz ao Mundo para livrá-lo do holocausto que todos os dias se desenha com as cores mais violentas. Vinde, vinde todos os seres deste Universo, vinde pássaros, vinde, a minha estatura baixa não alcança o céu mas eis-me aqui. Com a ponta dos dedos dos meus pés vou ajudar o pássaro a voar mais alto e tu que tens uns metros mais que eu eleve, segura nessa mão e vamos acender a luz. Vamos todos de mãos dadas acender as luzes que o Mundo precisa para uma vida melhor.

Será isso que este poeta dos traços e cores nos quer transmitir? Não sei. Mas eu leio assim esta imagem, vejo uma mulher determinada a devolver a luz ao Mundo,  a devolver ao homem aquilo que parecia perdido. Estamos na iminência de conhecer uma nova realidade sugerida pela criatividade do artista. Ao oferecer-nos esta imagem, o artista expõe, por um lado, a fragilidade com que o Mundo, hoje, se sustenta, por outro, o elixir que a força da união de todos pode conquistar. Fugindo do pessimismo das respostas que muitas vezes nos damos quando nos interrogamos sobre o verdadeiro sentido da existência Humana, João Timane traz-nos nesta surrealista imagem, a enigmática colaboração entre os seres da Natureza, concretizada pela, aparentemente frágil, mulher, mas demonstrando que ela é a mais sofre, é quem mais carrega, é a impulsionadora que inspira e leva à ação o homem, o tal forte e, juntos podem comandar toda a Natureza, em prol dum Mundo Melhor.

Marcelo Panguana

Marcelo Panguana

Nasceu na cidade de Lourenço Marques. Cronista, poeta, autor de contos reconhecido internacionalmente. Nas estantes das livrarias pode-se encontrar diversas publicações da sua autoria: coletâneas de contos, romances, um livro de entrevistas, uma história de literatura infantil e uma recolha de contos tradicionais. Recebeu em 2005 o Prémio Rui de Noronha concedido pelo FUNDAC. Foi-lhe atribuído em 2011 uma menção honrosa no Grande Prémio SONANGOL de Literatura.