Depoimento de Victor Amorim Guerra

Victor Manuel Sousa Amorim Guerra, nascido em Benguela, escritor, dramaturgo e cronista, participou em várias antologias de contos em Portugal, França e Chile. Em 2012 venceu o prémio revelação da Sonangol/União de Escritores Angolanos com o livro “Contos do Céu e da Terra”, com o pseudónimo Manuel Guerra. Em 2013 escreveu a peça de teatro “Cinderela de Luanda”, apresentada ao público pela Companhia Henrique Artes.

© História Social de Angola

O Victor foi indicado pela Muki Produções, empresa responsável pela parte audiovisual dos depoimentos do HSA. Durante a transcrição percebemos algumas das particularidades sociais deste cidadão, a sua memória retrata o sentimento dos angolanos no processo de repatriamento semi forçado dos portugueses no período do governo de transição para a independência de Angola, expressa na negação de “não retornado”, pois nunca estivera em Portugal e por isso se sentia quase turista em Portugal.

Este depoimento retrata dimensões sociais da integração de angolanos chamados brancos em Angola e negros em Portugal, onde se evidencia a preservação do laço afectivo a sua pátria também preservada pelas férias periodicas em Angola durante o período que a família reside em Portugal até o regresso a Angola. Quantos e quais foram os angolanos envolvidos neste processo de retornados, como se integraram na diáspora, sobre quais condições regressaram a Angola, em que condições se integraram e qual o seu contributo à construção do novo tecido social do país Angola. Esta memória pode ser o início destas respostas, as memórias de uma criança de cinco anos a data da independência descrevem o período pós independência.

Este depoimento não contém memória do período anterior. Embora a primeira parte deste texto seja a transcrição do audiovisual, a sua organização obedece a sequência da apresentação dos depoimentos do HSA entre as quais a sequência cronológica e a organização de acordo às necessidades primárias dos seres humanos enquanto método de descrição do desenvolvimento social.

Introdução

Sou o Victor Manuel Sousa Amorim Guerra, nasci em Benguela a 8 de Novembro de 1970, a verdade é que eu comecei a estudar em Portugal porque quando tinha cinco anos era para começar a estudar numa escola angolana, começaram aos tiros uns com os outros e fomos para Portugal e fomos recebidos como retornados, sempre me achei mais um turista em Portugal do que retornado, não estava a retornar para lado nenhum, tinha nascido em Benguela de onde nunca tinha saído, mas em poucos anos a família começou a preparar o regresso à Angola e viemos para aqui onde eu fiz o meu curso superior de Ciências e Comunicação na Universidade Independente e a minha profissão neste momento é escritor dramaturgo.

Escrita e dramaturgia sobre Angola para a Juventude

Escrevo para angolanos, sobre Angola, sobre as províncias, sobre as diversas personagens simpáticas do nosso país e outros nem tantos… e quando escrevo tento sempre incorporar as histórias que nós todos vivemos, a maka da água, a maka da luz, a maka do táxi, a maka da escola, vamos incorporando, por exemplo quando escrevo e a ação passa-se em Malange tento escrever para os problemas mais localizados em Malange, quando é o Uíge, estou no Uíge, para que todos os angolanos possam conhecer as províncias e os seus cidadãos.

Ganhei o prémio da União de Escritores de Angola em 2012 e comecei a participar em concursos de literatura internacionais como Portugal, Chile e França, o que deu um grande problema, porque traduzir um texto que se passa no Namibe para francês, porque há aquelas expressões que são típicas e se não se escreve como o povo fala, não está a ser verdadeiro, passamos quase um ano até eles elaborarem uma tradução que eu aceitasse que fosse digna e depois comecei a escrever para revistas, mas não escrevo política e nem desporto, só escrevo literatura e poesia, não me agrada temas que não domino e acho que todos nós deveríamos escrever sobre coisa que conhecemos. Estes últimos trinta e cinco anos de Luanda já nem sei se sou mais de Benguela ou mais de Luanda, as visitas que fiz às províncias e conheci tanta gente diferente, mas que falava da sua cultura, dos seus hábitos.
Nós os colegas escritores como o José Luís Mendonça, o Ondjaki, o Burity da Silva, estamos a tentar escrever com dignidade, não fugindo, não contando mentiras, mas não agravando as verdades, não sei se foi a melhor maneira de pôr esta ética profissional, porque às vezes nós vemos contos que nos surpreende porque o “problema já estamos com ele”, já há fome, já há violações, já há tudo e vem um escritor que tem a hipótese de embelezar, não o faz, ainda cria mais drama, mais perseguição e mais diferença entre as pessoas.

Leia o depoimento completo

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