Obra de Capa
A morte do Pernilongo
Olho para a tela tentando apreender o seu significado. Quem compreende uma tela descobre-se a si mesmo, diz-se. Olho aquela que está diante de mim donde sobressaem duas figuras humanas. Reparo nas suas mãos estendidas, nos seus olhos atormentados e sobretudo nos indesejáveis pernilongos, nome que se designa em terras moçambicanas aos mosquitos, que se saciam nos corpos indefesos. Penso: quantos não se contorcem de malária agora que a chuva e as cheias assolam a minha terra? Olho atentamente para a tela e vejo, lá no fundo, um homem só, como se estivesse fora do mundo. Será um duende? Imagino-o com uma poção mágica capaz de matar os pernilongos que molestam o meu povo.
Marcelo Panguana
Marcelo Panguana
Nasceu na cidade de Lourenço Marques. Cronista, poeta, autor de contos reconhecido internacionalmente. Nas estantes das livrarias pode-se encontrar diversas publicações da sua autoria: coletâneas de contos, romances, um livro de entrevistas, uma história de literatura infantil e uma recolha de contos tradicionais. Recebeu em 2005 o Prémio Rui de Noronha concedido pelo FUNDAC. Foi-lhe atribuído em 2011 uma menção honrosa no Grande Prémio SONANGOL de Literatura.