Augusto de Fraga
Augusto de Fraga é um realizador e guionista português, especializado na realização publicitária. Representado pela Krypton Film em Portugal, é cofundador da Spectacular Studio, um estúdio escrita e desenvolvimento de conteúdos audiovisuais. O seu primeiro guião de ficção “Rabo de Peixe”, foi premiado pela Netflix entre centenas de candidatos. Rabo de Peixe está em produção e tem estreia prevista para este mês.
Augusto Fraga é Membro da Directors Guild of America. Possui vasta experiência na realização de spots publicitários e videoclipes em todo o mundo, sendo colaborador habitual de marcas como a Vodafone, Mercedes, Nivea, Adidas, VW ou Coca-Cola internacional, o que lhe permitiu trabalhar com grandes estrelas do desporto, desde Rafael Nadal, a Lionel Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo.
Licenciado em Comunicação Social pela Universidade do Minho, alargou os seus estudos em Comunicación Audiovisual na Universitat Autónoma de Barcelona e em Filmmaking na New York Film Academy, em Nova Iorque. Augusto de Fraga é considerado um dos melhores realizadores de spots publicitários da Europa. Entre outros, foi premiado no International Cannes Film Festival, no New York Film Festival, no Chicago Film Festival, no Clube de Criativos de Portugal e no San Sebastian Advertising Film Festival.
É hoje um dos realizadores publicitários mais reconhecidos no panorama nacional e internacional. Como nasceu esta paixão?
O meu amor à arte visual vem de desde muito novo. Desde que usei pela primeira vez uma máquina fotográfica Minolta, com 7 ou 8 anos que pertencia aos meus pais. Muito cedo comecei a sonhar com dedicar-me à imagem como forma de contar histórias.
É especializado em realização publicitária. Em que momento da sua vida percebeu que o seu lugar nesta indústria passaria também pela publicidade?
A publicidade une a comunicação de ideias com a exploração de emoções através da imagem, muitas vezes simbólicas e metafóricas. Também é um terreno de experimentação, de criar novas linguagens, de romper barreiras, de conseguir emocionar para além do óbvio. Claro que há publicidade e Publicidade, aquela que eu gosto de fazer, tem sempre uma mensagem maior que a simples venda, cria uma relação entre as marcas e os consumidores e, sempre que somos realmente bem sucedidos, muda cultura e mentalidades.
Já teve a oportunidade de trabalhar com grande marcas mundiais como Vodafone, Mercedes, Adidas ou Coca-Cola. De que forma se inspira para continuar a apresentar projetos finais inovadores e impactantes?
Trabalhar grandes marcas traz uma motivação maior associada à grande exposição da mensagem. Já não comunicamos apenas para um país, mas para o mercado global. Isso é sempre interessante. No entanto, o que me move realmente, que me faz acreditar em cada projeto e dedicar-me como se fosse o último, é a possibilidade de mudar um pouco a consciência coletiva. Um grão de areia, sou consciente, que é feito sempre desde a humildade.
Possui ainda uma vasta experiência na realização de videoclips. Aliás, o último videoclip escrito e dirigido por si, do artista BRANKO, foi em 2020 considerado o melhor do Ano em Portugal nos Play – Prémios da Música Portuguesa. O que o desafia mais spots publicitários ou videoclips?
Os videoclips são liberdade, terreno de experimentação. Estão suportados por um conteúdo que é por si atrativo – o tema musical – que se basta a si próprio e isso permite-nos que as imagens sejam simbólicas, metafóricas, sensoriais sem terem de cumprir um plot linear. A música são as palavras da alma e tentar criar imagens a essas palavras, tornar visível o invisível, é um como criar um sonho.
O seu primeiro guião de ficção “Rabo de Peixe”, foi premiado pela Netflix entre milhares de candidatos. O que o motivou apostar também na ficção?
Demorei vinte anos a preparar-me para realizar ficção, entre centenas de dias de filmagem por todo o mundo, aprendendo com cada pessoa com quem trabalhei e sobretudo aprendendo sobre mim próprio. Eu não sou completo sem o meu amor pela imagem e pelo Cinema. Esse sempre foi o sonho.
Comecei a escrever há anos porque percebi que nunca me convidariam para um projeto de ficção, estando associado à publicidade. Decidi tentar criar uma oportunidade para mim, um projeto que, se acontecesse, ia contratar-me a mim próprio para o realizar. Parece que o momento era certo para esta história e a Netflix decidiu avançar com a produção.
“Rabo de Peixe” é a segunda série original da Netflix em Portugal, após Glória. Fale-nos um pouco mais sobre este projeto.
Rabo de Peixe é uma série de ficção, baseado num evento real, mas que responde absolutamente a uma visão pessoal da realidade. Contada com ritmo e dinamismo, tem um plot fácil de seguir, mas com profundidade e responsabilidade. Também com uma proposta estética muito forte, o que é pouco habitual no audiovisual nacional.
De onde surgiu a ideia inicial para a criação deste enredo?
Tenho uma certa facilidade em criar histórias. Difícil para mim é escolher. Rabo de Peixe era um dos 10 ou 12 projetos que estava a trabalhar quando a Netflix lançou, junto ao ICA, o concurso de guiões. Decidi perguntar a algumas pessoas em que confio artisticamente que ideia preferiam. Rabo de Peixe foi uma das preferidas. Então sentei-me e comecei a reescrever. Uma e outra vez. Mas só tive realmente guiões sólidos depois de juntar numa sala durante meses cinco escritores, entre eles o João Tordo e o Hugo Gonçalves, que não só trouxeram ideais incríveis, como souberam levar os guiões muito mais além, em termos de estrutura, mas também no simbólico.
Sendo açoriano sente um orgulho diferente por levar uma série produzida nos Açores para os grandes ecrãs da Netflix?
Imenso. Sinto-me profundamente Açoreano e, mesmo sendo um emigrante que já viveu em vários países, sinto que nunca sai realmente dos Açores. Mesmo estando fora, o nosso coração fica sempre nas ilhas, no verde dos campos, no vento do Nordeste, no abraço do Atlântico. Poder mostrar os Açores ao mundo, nem que seja só uma pequena parte dos Açores, é um enorme orgulho, mas também uma enorme responsabilidade. Temos uma terra única que deve ser protegida, da exploração de recursos, mas também da exploração da alma.
O primeiro projeto em ficção é já um sucesso. Pretende continuar a investir nesta indústria?
O nosso desejo é que Rabo de Peixe chegue ao maior número de pessoas possível e que seja relevante para essas pessoas. Está pensada, desde início, para que seja vista por muita gente, de várias gerações, de norte a sul do país. Mas na verdade esse impacto não depende de nós, realmente. O nosso compromisso, dedicação e entrega ao projeto foi absoluto, desde a escrita, à filmagem e à finalização. Sempre acreditámos que tínhamos nas mãos uma oportunidade única de fazer algo realmente especial, equipa e elenco dedicaram talento, esforço e entrega sem nunca duvidar. Isso tornou este projeto mágico.
Que projetos podemos esperar para 2023?
Acredito que 2023 vá ser um ano incrível pois finalmente tenho projetos de ficção em cima da mesa. E apetece-me fazer tudo! Mas primeiro acho importante definir que tipo de projetos quero fazer, ouvir a minha alma. Porque acredito que cinema não se pode fazer a meio gás, sem um mergulho absoluto. Sem uma entrega total ao objeto. Escolher, mergulhar e aprender a respirar debaixo de água. Esse será o meu 2023.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
Queria também partilhar um pensamento com os jovens e as jovens artistas, com todos e todas as aspirantes no mundo das artes: creio que minha maior aprendizagem foi a de me desafiar a criar as minhas oportunidades. Filo porque acho que dificilmente nos vão chamar para um projeto incrível sem antes termos prestado provas de que somos capazes de o fazer. Mas muitas vezes não nos surgem os desafios necessários para prestar essas provas, por isso temos que ser nós a desafiarmo-nos e a criar as nossas oportunidades. E há sempre quem queira participar connosco dessa viagem.
Maria Antónia Fraga
2 anos agoO meu coração de açoriana está cheio de alegria e orgulho!