Yulanda Fumane

«O Poder da Dificuldade»

Moçambicana, empresária desde 2005, com experiência nas áreas de liderança, gestão de equipe, criação e estruturação de negócios, mentora de negócios, palestrante internacional, Yulanda Fumane escreveu o seu primeiro livro intitulado «O Poder da Dificuldade» que visa empoderar mulheres, cognitiva e psicologicamente, consciencializando-as para a realidade do empreendedorismo feminino e fornecendo ferramentas para compreenderem as causas, consequências e escolhas a fazer para concretizar o sonho de empreender com sucesso perante as adversidades. Incentivar mulheres a empreender e a quebrar as crenças limitantes que lhes são incutidas socialmente, ultrapassando estrategicamente todos os desafios que tenham que enfrentar, priorizando o equilíbrio entre a mente, o corpo e a alma para o seu bem estar é um dos objetivos do livro.


A obra é mais um contributo para um projeto social que já beneficiou inúmeras jovens moçambicanas. A autora compromete-se a doar metade das receitas de venda para a Casa Madre Maria Clara, com a qual colabora desde 2019. Os remanescentes 50% serão dados para entidades similares que atuam nos outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). A Casa Madre Maria Clara é um internato moçambicano destinado ao acolhimento, educação e acompanhamento de meninas de todas as idades, órfãs e/ou em situação de vulnerabilidade social. Elas recebem apoio até conquistar uma formação capaz de lhes garantir a independência profissional. Já há alguns anos que a fascinante empresária e escritora abraçou a missão de contribuir positivamente para a melhoria das condições de vida de meninas do seu país natal, doando uma percentagem dos ganhos provenientes do seu trabalho de mentora de negócios para mulheres.

O livro será lançado no Porto no dia 12 de outubro às 16h na FNAC, em Braga na biblioteca Lúcio Craveiro da Silva no dia 14 de outubro às 15h, em Paris no « Carrousel du Louvre » no dia 22 de outubro às 15h, em Cabo Verde no Hotel Praia Mar no dia 30 de novembro às 15h, em Dubai no dia 11 de novembro no Palazzo Versace Dubai às 18h, o lançamento do livro está também previsto para 2024, em Luanda.

Quem a inspirou para empreender?

Sem dúvida foi a minha mãe que me pôs no caminho do empreendedorismo propondo em abrir uma escola primária no meio rural, na periferia de Maputo, porque havia necessidades educacionais, essa escola ainda existe hoje, foi a minha primeira experiência de empreendedorismo, quis depois fazer algo sozinha, sempre quis estar no mundo dos negócios, estive na banca, nos seguros durante dez anos, adquiri experiência nas áreas corporativas e obtive qualificações, aí resolvi empreender por mim própria. Desenvolvi e estruturei um projeto de rede de óticas no país, montei um plano de saúde de raiz com todas as particularidades do país porque os planos de saúde vinham de um modelo exterior, americano e sul africano, ali tive a oportunidade de criar um produto à medida tendo em conta as necessidades reais do país e da população, fomos bem sucedidos, começámos a expandir tendo em conta todas as áreas de saúde que interagissem com o plano de saúde, acabámos por criar uma holding, fomos para audiologia, faltavam farmácias, de facto, não era fácil encontrar medicamentos, podíamos importar alguns da Europa, África do Sul, houve a necessidade de criar prestação de serviços para servir estas empresas e no meio disso tudo, fui sempre a componente de gestão e operacional, o meu marido tratava da componente comercial. Coube a mim criar equipes, montar departamentos, criar processos, ou seja, toda a área que tivesse a ver com gestão. Transformei-me numa máquina de trabalho, virei uma workaholic, como tinha traumas do passado, o meu refúgio era o trabalho, isso acabou afetando, fui diagnosticada com o síndrome de burnout, o médico disse-me que se continuava assim ficaria numa cama como um vegetal, tive que parar de imediato mas foi uma fase muito difícil, principalmente para quem estava habituada a uma vida extremamente agitada, acabei por entrar noutro stresse porque estava habituada a uma rotina movimentada e de um dia para outro, não devia fazer nada. Nessa fase, o tratamento não estava a funcionar, autorizaram-me a estudar porque precisava fazer algo, comecei a investigar sobre a área de desenvolvimento humano, foi profícuo, comecei a entender quem eu era e perceber como podia contribuir para a vida de outras pessoas, fui aprendendo ferramentas de coaching, de desenvolvimento humano que me são úteis hoje para a mentoria.

Porque optou pela mentoria?

Apercebi-me que tinha dezoito anos de experiência numa área em que poucas mulheres lá estavam, há mais mulheres que provavelmente gostariam de estar em cargos de liderança, ter as suas próprias empresas, serem reconhecidas pelo seu trabalho, poder gerar emprego e contribuir para a economia dos seus respetivos países mas por vezes não vão por falta de apoio, posso intervir e explicar às mulheres como podem fazer essa trajetória, mostrar outras possibilidades que não conheceria se tivesse a fazer o caminho sozinha, afinal a mentoria é partilhar a experiência para que o caminho seja menos penoso do que o nosso.
Quando comecei a estudar o desenvolvimento humano, entendi o quão errada estava no passado quando dizia que só queria vinte por cento da minha equipe como mulheres porque já me transformava numa barreira porque não lhes dava oportunidade em atingir os seus objetivos, é preciso estender a mão, ajudar porque o mundo também precisa, nós mulheres temos determinadas peculiaridades e capacidades, unidas fazemos coisas extraordinárias.
Advogo a sororidade e pratico, faço disso um lema de vida, continuo a ter negócios mas priorizo esta questão de poder contribuir nesta causa para outras mulheres, priorizo a mentoria, a consultoria de negócios, eventos relacionados com mulheres.

Por que hoje está pelo mundo e não no seu país de origem?

Durante aquele período difícil que chamaria « ano sabático », comecei a valorizar a qualidade de vida, a liberdade geográfica, alcançar outros pontos, conhecer mais pessoas, absorver culturas, afinal tudo o que me fazia sentir bem, quem corre por gosto não cansa! Comecei a fazer aquilo que amo, não sinto o tempo passar, sinto-me orgulhosa por deixar « uma pegada » nalgum sítio que faça a diferença sem esquecer as minhas origens e a minha forma de comunicar com as minhas origens é através da Casa Madre Maria Clara, identifico-me com aquelas meninas, revejo-me, sou oriunda de uma família humilde, quero contribuir de alguma forma através da minha obra na qual explico como não parei, onde fui buscar força para seguir em frente e quais foram as estratégias que adotei para continuar sempre a avançar com foco, partilho algumas estratégias que as mulheres possam implementar para manter os seus negócios, procuro transmitir equilíbrio e que é necessário estar bem para poder servir «servir é um ato de amor»!
A obra é o meu propósito, é a minha forma de contribuir para uma sociedade melhor, obter igualdade de género e equidade. Quando conto a minha história não é com intuito de vangloriar-me ou vitimizar-me, é meramente para partilhar a experiência e fazer perceber que não existe dificuldade que nos faça parar se nós não quisermos parar.

Qual é a mensagem que deixaria às mulheres?

Que sejamos unidas, que haja interajuda, que estejamos mais abertas, que não se alimente rivalidade descabida, unidas podemos indubitavelmente fazer a diferença!
Convido igualmente as mulheres em apoiar as meninas não só de Moçambique mas de outros países dos PALOP que também têm dificuldades.

Deixe um Comentário

Your email address will not be published.

Start typing and press Enter to search