Mensagem do Presidente da AILD
Religião na tradição
Na minha última passagem por Paris, um familiar chamou-me a atenção de que ninguém regressava ao seu país para festejar em família as festividades laicas, como o 25 de Abril ou o 25 de Novembro, mas em contrapartida, várias festividades religiosas despertam a vontade de regressar a Portugal, para rever os seus e para festejar em comunidade, dando oportunidade aos lusodescendentes de se interessar por Portugal.
Talvez porque as festividades laicas têm um carácter histórico ou político, faltando-lhes por isso alguma profundidade emocional e espiritual, enquanto as festividades religiosas são a maneira de darmos significado ao tempo, permitindo manter vivos os laços familiares e a cultura portuguesa.
Basta ver a quantidade de lusodescendentes que mantiveram a sua ligação emocional a Portugal e à cultura portuguesa, sendo o exemplo mais gritante, o povo de Timor ou as comunidades de lusodescendentes em Mianmar.
As festividades religiosas reforçam os sentimentos de pertença dos imigrantes, a uma comunidade à qual pertencem mesmo estando longe, e se não podem, por exemplo, festejar o Natal em Portugal, fazem questão de trazer Portugal a suas casas e se possível os seus familiares também.
As festividades acabam por recentrar os emigrantes na sua identidade nacional e focar o dia-a-dia no que realmente importa, os seus filhos, os seus pais, os seus amigos, as suas famílias, mantendo vivas as tradições portuguesas, familiares onde quer que estejam, preservando-se assim a cultura e os valores portugueses, hoje e amanhã.
As festividades acabam por ter um impacto mais profundo em cada um, que vai além do imediato, abarcando várias dimensões da existência humana. Elas proporcionam momentos de reflexão sobre o transcendental, criando oportunidades de reconciliação consigo mesmo e com os outros, criando oportunidades de solidariedade com os seus e com os outros, criando enfim oportunidades de cada um ser melhor, ajudando os outros a serem ou a estarem melhor, fomentando a solidariedade.
As festividades religiosas mantêm viva a celebração do amor, da generosidade, da humildade, da esperança (Natal), ou a renovação, o arrependimento, e a superação das dificuldades (Páscoa).
Não tenho dúvida que a religião, teve e tem, uma grande influência na maneira de sermos portugueses. Para que a nossa sociedade se mantenha longe dos extremismos e fundamentalismos, é importante que o Estado garanta o ensino da filosofia e da ciência, fundamentais para o bom uso da razão e do sentido critico que nenhum cidadão pode abdicar, sob pena de perdermos a liberdade, e com isto ver desaparecer todo o esforço que levamos para construir uma sociedade democrática. Em última análise, tanto a fé como a razão, procuram que vivamos em amor. Ora nada melhor que uma sociedade de amor para acolher o nascimento de uma criança.
Vivamos intensamente o Natal, como os nossos familiares, com as nossas comunidades e com os outros, recordando os ausentes e desejando conhecer quem nos vai suceder.
Feliz Natal.