O Pai Natal dos Políticos

Na semana passada, entrando num táxi para fazer uma viagem longa, tive a sorte de ser acompanhado por um motorista que poderia ombrear com qualquer um destes comentadores políticos que vemos todos os dias na televisão a explicarem ao povo as notícias do dia-a-dia, não vá ele não as perceber.
Este taxista anunciava-me que o parlamento tinha acabado de chumbar a intenção de se criar um grupo de trabalho para depenar — desculpem, taxar — o património de certos cidadãos. E acrescentava: “Sabe, não sei se reparou que, normalmente, quem tem uma grande apetência para cobrar impostos sobre o património dos outros são pessoas que nunca tiveram sucesso com negócios próprios e que estão habituadas a viver do orçamento público ou de entidades financiadas pelo Estado.” Não se ficando por aqui, alertava-me ainda que havia deputadas — as mais aguerridas neste domínio — cujo património familiar provinha de um assalto a um banco durante a revolução de Abril. Sem hipótese de argumentar, concordar ou discordar, continuava: “Sabe, essa gente somente se sabe governar com o dinheiro dos outros. Governar com os meios que se têm, isso sim são bons políticos. Agora, aqueles que somente sabem dizer para aumentar os impostos porque têm o poder… desses não precisamos. Qualquer um sabe fazer isso; nem é preciso ter a primária.”
Acabei por sair do táxi, e, enquanto eu esperava pelo meu cliente, fiquei a refletir nesta maré de argumentos. Não posso deixar de reconhecer que os políticos, muitas vezes, esquecem — é um modo de dizer — que há pessoas que, por mérito, conseguem acumular património para si e para os seus, poupando os rendimentos que sobram depois de pagarem os impostos devidos.

Existem outros cidadãos que privilegiam outros interesses, gastando tudo em jogo, álcool, fruta e frivolidades, deixando os seus em necessidade. Os primeiros estão em melhores condições para proporcionar estudos aos filhos e favorecer o aparecimento de novos negócios e empresas. Já os segundos contribuem para o aumento de pessoas que dependem de habitação social e todo o género de apoios públicos.
No entanto, os primeiros têm de enfrentar “aves de rapina” que procuram, de todas as formas, taxar um património que foi acumulado após o pagamento de impostos elevados. É um contrassenso: procura-se penalizar quem sabe administrar bem o seu património.
Não será por acaso que não encontramos nenhum grupo português presente na bolsa de valores de Lisboa com a sua holding em Portugal. Procuram, sim, colocar as suas sedes em países que tratam com respeito e valorizam quem produz riqueza.
O Estado, antes de exigir mais impostos aos cidadãos, devia dar provas de que consegue fazer cada vez mais com cada vez menos. Deveria concentrar-se nos cidadãos que, sem terem fonte de rendimento, conseguem gastar, gastar e gastar. Talvez, focando-se nesses últimos, se descubra um bom primeiro-ministro que, sem receber qualquer imposto, consiga financiar todo o tipo de serviços e despesas públicas. Temo, porém, que haverá uma desilusão quando perceberem como conseguem gastar com tanta facilidade…
Em vez de confundir os contribuintes com o Pai Natal, esperando obter cada vez mais impostos — pois, pelos vistos, o saco não tem fundo — os políticos deveriam gerir com inteligência os impostos que já arrecadam e permitir que os contribuintes tenham um Natal cada vez mais próspero.

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