Elaine Ávila
Elaine é uma escritora norte-americana de ascendência açoriana (Pico) que explora histórias inéditas de mulheres, trabalhadores, mudanças climáticas, globalização e os portugueses nas suas peças convidativas, ousadas, espirituosas, compassivas e abrangentes que muitas vezes incorporam música e humor.
Quando e como iniciou a sua atividade literária?
Quando eu era criança, morava ao lado de uma poetisa, Loie Johnson, que estava a divorciar-se. Eu colocava os meus primeiros poemas para ela na sua caixa de correio, no caminho da escola para casa. Escrevia livros com as minhas amigas, passando-os de umas para as outras. Para mim, a literatura tem uma intimidade, como uma carta feita à mão, que pode viajar no tempo e no espaço.
Como tem sido a evolução da sua carreira?
Trabalho para encontrar pessoas que amem e apoiem minha escrita e sou eternamente grata a elas.
Encontrei esses colaboradores da Tasmânia à China, da Cidade do Panamá a Nova Iorque, ao Pico. Acredito que seja essencial, especialmente para as escritoras, aprender a sobreviver a rejeição. Também acredito em criar oportunidades para os outros: dê o que você quer receber. Estou muito orgulhosa das iniciativas que criei para jovens escritores o Climate Change Theatre Action, como exemplo, que envolve 50 dramaturgos, 200 teatros e atinge 12.000 membros do publico em tudo o mundo.
Quais foram as principais influências que marcaram a sua forma de escrever?
Inspiro-me no que falta, no que não foi feito. Estou inspirado pela escrita de Suzan-Lori Parks, James Baldwin, Katherine Vaz, Rosa Alice Branco, Ana Luísa Amaral, Teolinda Gersão, Eça de Queirós, As Três Marias, Oona Patrick, Diana Silva, Marilyn Duarte, Carolina Cordeiro, José Dias de Melo, Pedro Paulo Câmara, Gabriela Silva, Lara Gularte, Esmeralda Cabral, Sandra Henriques, Alice Moderno, Terry Costa, Manuel Lopes Azevedo, e a escrita académica de Anna M. Klobucka.
Educadora e dramaturga, são atividades distantes ou pelo contrário elas complementam-se?
Complementam-se. Absolutamente. É um grande privilégio ser professor.
No seu meio artístico, o que é necessário para alcançar o sucesso/êxito?
Coragem e generosidade.
Considera importante as artes para o desenvolvimento dos países? Existem apoios do Estado onde reside para a sua atividade artística? Que tipo de apoios?
É essencial. Escrever e pesquisar trabalhos leva tempo. Recebi bolsas locais, nacionais e internacionais: da Fulbright Portugal, do Canada Council e do British Columbia Arts Council, só para citar alguns.
Já realizou trabalhos em Portugal?
Sim, as minhas peças já foram apresentadas em Sintra, Lisboa, Covilhã e Pico.
Fala Português ou tem vontade de aprender a língua?
Não me ensinaram português quando era criança, foi uma época na América em que era importante esconder a sua identidade. Trabalho muito para aprender português, e o meu português está cheio de influências diversas por causa disso. Eu ainda estou a aprender.
Inevitável no momento que estamos a atravessar perguntar-lhe como está a “sobreviver” a esta pandemia do ponto de vista da sua atividade?
É muito difícil. A maioria dos teatros do mundo estão fechados. Ainda assim, dramaturgos dão trabalho para atores, diretores e designers. Tive de entrar em contacto com amigos e colaboradores, mais do que normalmente faço, para manter o meu ânimo. Amo meus cafezinhos virtuais com meus queridos amigos, em todo o mundo. Também é muito importante apoiar as empresas locais, e isso dá-me muita alegria, ver meus amigos na Paper Hound Bookshop, Vancouver Pen Shop e Union Market. Agradeço também as organizações que mantêm vivas as iniciativas, como o Portuguese Beyond Borders Institute, MiratecArts, Archipelego do Escritores nos Açores, Programa de rádio de Diana Silva: “Dá-lha Corda” e um dos meus programas de televisão preferidos, “Mal-Amanhados – Os Novos Corsários das Ilhas,” que viaja para todas as nove ilhas dos Açores.
Quais são os seus projetos para este ano?
A minha peça, Fado, está prestes a ser publicada pela Talonbooks no Canadá. Terei um lançamento no Portuguese Beyond Borders Institute na Califórnia em abril. Estou a publicar uma segunda antologia das minhas peças na NoPassport Press em Nova Iorque, e neste momento estou a terminar a minha última peça, sobre mulheres que usavam o capelo e capote açoriano, que vai ser apresentada no Pico.
Qual é o seu maior sonho?
Tenho escrito peças curtas e cómicas em resposta à crise climática sobre águias, leões marinhos e salmões. Um deles foi apresentado para Al Gore em Washington. Agora estou a ler lindos livros sobre árvores, e a traduzir uma bela história, a vencedora do Prémio Escrita MiratecArts , inspirada nas espécies endémicas do Pico. O meu sonho é termos alguma empatia pelo nosso mundo incrível e sermos responsáveis pelas gerações futuras por cuidar dele.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
Continue a criar, da melhor maneira que puder, mesmo que seja difícil, durante esta pandemia. A arte ainda expressa sonhos para o futuro, honra e explora o passado e ajuda-nos a estarmos juntos nos nossos corações.