Marraquexe

A Cidade Vermelho Ocre

De visita ao continente africano, proponho conhecermos uma das cidades mais importantes do centro-sudoeste de Marrocos, a cidade de Marraquexe que se caracteriza pela sua beleza natural e preservação histórico-imperial. Atualmente, é a quarta maior cidade do país, situada no sopé da cordilheira do Atlas, e funciona como o último aglomerado populacional que precede o imponente deserto do Sahara.
A cidade de Marraquexe, integra um conjunto de quatro cidades imperiais que outrora terão sido capitais de antigas dinastias reinantes. A preservação do património imperial e a sua posição geográfica privilegiada, torna a cidade de Marraquexe como a mais visitada por turistas. Igualmente conhecida como “Cidade Ocre”, Marraquexe adquire este estatuto devido às suas muralhas de tom “avermelhado”, e recordo que estamos perante uma cidade Património Mundial pela Unesco.

A história da cidade remonta ao período do Neolítico, existindo relatos de pequenos povoados berberes que viveriam essencialmente em pequenas comunidades. A fundação da cidade ocorre por volta do ano de 1062 sobre a regência de Abu Becre Omar, familiar do emir da Almorávida que controlava o sul de Marrocos. A dinastia Almorávida, viria a ser preponderante na prosperidade da cidade, sendo responsável pela construção de muitas escolas Islâmicas «madraças», mesquitas. A conjetura na época, aliada à convicção religiosa, proporcionou a participação conjunta dos povos da Almorávida em batalhas contra o cristianismo na Península Ibérica, e de acordo com os registos históricos, o Califado de Al Andaluz terá contado com o auxílio das tribos nómadas do Magreb.
No período compreendido entre 1122-1123, terão sido construídos os maiores ex-libris da cidade, nomeadamente a muralha em pedra avermelhada que viria a estar na origem do nome atribuído à cidade «Cidade Vermelha». Seguiram-se ainda alguns anos de prosperidade económico-cultural, todavia seria sol de pouca dura a forte expansão muçulmana na Península, e consequente proximidade do califado viriam atribuir maior importância à vizinha cidade de Fez. No início do século XVI e sobre a regência de diferentes sultões abastados, a cidade conheceu uma grande transformação, foram restauradas ruínas, erigidos palácios e jardins, que perduram até aos dias de hoje.

A viagem em Marraquexe, inicia-se através do aeroporto internacional Menara: ainda no céu conseguimos observar um aeroporto rodeado de um solo de tom ocre repleto de habitações que contrastam com os campos de laranjeiras. O aeroporto da cidade é uma infraestrutura moderna que visa responder à solicitação, estamos perante a cidade que mais turistas recebe. À semelhança de muitas cidades, Marraquexe desenvolve-se essencialmente em duas vertentes, uma parte antiga designada por Almedina-Medina, devidamente fortificada e repleta de lojas e vendedores, e a vertente exterior à cidade essencialmente residencial, lojas luxuosas e grandes cadeias de hotelaria.
Em Marraquexe, existem duas formas diferenciadas de alojamento: riad ou hotel. Pessoalmente recomendo que experienciem o alojamento numa riad. De forma sucinta, uma riad representa a habitação árabe com pátio interno com jardim ou tanque transformado em piscina. Devidamente ornamentada e decorada com artesanato de influência Árabe e dos diversos povos nómadas do Norte África, permite ao viajante uma experiência plena de vivências, odores e sabores realmente Marroquinos. A estadia em riad revelou ser a escolha acertada, além da proximidade com os principais monumentos, o preço contrasta com o das grandes hotéis permitindo alguma economia e a garantia de apoio direto ao alojamento local.



Medina Marraquexe – Praça de Jemaa el-Fnaa

O interior da Medina “Cidade muralhada” é sem sobra de dúvida o coração da cidade e no qual o turista mais desatento poderá perder-se, recomendo alguma prudência. O mercado de Marrequexe consiste num complexo labirinto de ruas repletas de barracas e vendedores, e as indicações locais nem sempre são as melhores, digamos que os marroquinos tentarão de tudo para que o distraído turista entre no seu bazar. Este mercado estende-se até à Praça Jemaa el-Fnaa e nele poderá comprar todo o tipo roupa, especiarias, comida e artesanato. Ao longo do mercado, parece haver uma certa organização por sectores, ficou claro para mim as diversas áreas, nomeadamente peles e curtumes, artesanato em metal, e especiarias.
Recomendo que se visite o mercado pela manhã, o calor é de certa forma tolerável, e é o período mais movimentado no mercado – imiscua-se pelas ruelas de Marraquexe e negoceie com os locais. Já a praça de Jemaa el-Fnaa recomendo que seja visitada antes do por do sol. Suba a um dos terraços nas imediações da praça, peça uma taça de chá de menta e do alto vislumbre como a praça se transforma. A praça de Jemaa el-Fnaa com o pôr do sol por analogia vira uma autêntica Meca do Norte África, e as pessoas surgem de todas as direções. É hora em que o calor abranda e permite que os marroquinos convivam e realizem trocas comerciais. A experiência é única, a vista e sonoro emanado da praça é encantador, falo de uma praça repleta de encantadores de serpentes e macacos, bancadas que servem refeições tradicionais, mulheres que tatuam ao ritmo das tradições árabes, e as famosas bancas de sumo de laranja.
Na praça Jemaa el-Fnaa podem encontrar refeições em conta, estejam preparados para uma mescla de sabores único e para uma culinária com alguns traços mediterrânicos, resultante da convivência islâmica e partilha de território ibérico.

Mesquita Koutoubia

Nas imediações da Praça Jemaa el-Fnaa encontramos a imponente mesquita Koutoubia, em tempos uma das maiores do mundo, apenas poderá ser visitada por muçulmanos. De acordo com os registos históricos, a construção deste monumento terá sido concluída no início do séc.XII. Nas imediações, é possível observar os vestígios arqueológicos desta construção, assim como passear pelos jardins repletos de repuxos ao estilo árabe.
O ex-libris da mesquita, é sem dúvida o seu alto minarete de tom ocre e do qual emanam as orações islâmicas.

Madraça Ben Youssef

De arquitetura ímpar, este local merece sem sombra de dúvida uma visita. Construída e ornamentada ao estilo árabe, terá sido a maior e mais importante madraça de norte África. Esta escola árabe tinha como principal função o estudo religioso e teria no seu apogeu capacidade para 900 alunos. No interior da Madraça o destaque principal vai para os quartos com poucas condições que se precipitam para um pátio central devidamente ornamentado em madeira.

Palácio El-Badi

Na proximidade da praça Jemaa el-Fnaa, podemos visitar as ruínas doutrora de um palácio. O palácio El-Badi terá sido construído como forma de comemorar a derrota dos portugueses na famosa batalha de Alcácer-Quibir. Apesar do atual estado de conservação, ainda é possível observar um pátio central devidamente ornamentado com sistema de água e jardins. Visite o Palácio, suba a uma das suas múltiplas varandas e contemple a vista para a cidade no interior das torres. Poderá visitar exposições que retratam o período histórico no qual terá sido erigido este fabuloso monumento.

Túmulos Saadianos

Apesar de não ser apanágio de uma viagem uma visita a um cemitério, estamos perante um local onde residem sepulturas dos sultões e familiares. Este monumento é contíguo a um jardim, no qual sobressaem túmulos devidamente ornamentados com mosaicos coloridos. Recordo que estamos perante um dos monumentos mais visitados de Marraquexe, que caso tenha tempo merece uma breve visita.

Palácio da Bahia

Estamos perante uma das obras mais importantes da cidade, terá sido construído no final do século XIV com propósito de ser um palácio de renome mundial. De construção ímpar, o palácio apresenta um conjunto de quartos que interligam com os pátios e jardim. O pátio principal é esplendoroso e proporciona fotografias únicas.

Jardins de Menara

Afastado do centro da cidade e nas imediações do aeroporto principal o viajante poderá visitar os jardins mais conhecidos de Marraquexe. Criados em 1870 sobre um lago, permite que o viajante observe o extenso olival que prospera através de um antigo sistema de rega.

Jardins Majorelle

Uma das pérolas escondidas da cidade, é sem sombra de qualquer dúvida, os Jardins Majorelle. Este jardim terá sido construído em 1924 pelo pintor Jaques Majorelle e integra o atual património da fundação Yves Saint Laurent.
O destaque principal deste jardim vai para as diversas espécies de plantas, lagos devidamente ornamentados com azulejos de tons azul o que transfigura uma espécie de Oásis no interior da cidade. O jardim integra igualmente um museu de arte que alberga um conjunto de obras de arte islâmica.

Aproveite este jardim para uma pausa delicie-se com um chá de menta e refresque a alma e a vista.

Cidade Fortificada – Aït-Ben-Haddou

Afastado da cidade de Marraquexe, é possível visitar esta obra-prima da arquitetura, Património Mundial da Unesco. Esta cidade fortificada para lá das montanhas do Atlas, é última paragem para o visitante a caminho do deserto. Este local idílico, parece retirado de um filme, aliás é mesmo conhecido e utilizado regularmente pela indústria cinematográfica. No local estão assinaladas o uso da cidade para diversos filmes, nomeadamente, Lawrence da Arábia, A Múmia, Gladiador, Alexandre e Príncipe da Pérsia, entre muitos outros.
No sopé de um monte encontra-se esta cidade fortificada que se precipita sobre o rio Unila. Apesar de inabitada, o visitante poderá percorrer as ruas repletas de casas em barro que albergam pequenos comércios. A subida até ao topo faz-se devagar devido ao calor desértico que se faz sentir, todavia a vista do cume é deslumbrante sobre a aldeia e os campos repletos de palmeiras que serpenteiam o deserto ao ritmo da linha de água.
Marraquexe uma cidade que emana sentimentos únicos
Sem rumo pelas vielas de Marraquexe a cidade Ocre.

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