Grande Entrevista Luís Araújo
Presidente do Turismo de Portugal
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com diversas especializações em hotelaria pela Universidade de Cornell.
De 1996 a 2001, tornou-se Assessor Jurídico no Grupo Pestana. De 2001 a 2005, foi Assessor da Administração para novos projetos, membro do Conselho de Administração e Vice-Presidente na América do Sul, onde foi também responsável pela área de desenvolvimento e operações na sucursal do Grupo Pestana no Brasil.
De 2005 a 2007, foi Chefe do Gabinete do Secretário de Estado do Turismo no XVII Governo Constitucional. Foi depois, de 2007 a 2011, responsável pelas áreas de Recursos Humanos, Comunicação e Marketing, TI e Compras, bem como pela área de novos projetos na América do Sul do Grupo Pestana. Foi membro do Conselho de Administração do Grupo Pestana, responsável pelas operações hoteleiras da América Hispânica, com hotéis na Argentina, Venezuela, Colômbia, Cuba e Uruguai, e pelo desenvolvimento do Grupo no mesmo continente. Foi também responsável pelo departamento de Sustentabilidade do Grupo desde a sua criação em 2009. É Presidente do Turismo de Portugal desde fevereiro de 2016.
Pelo seu percurso profissional, a nomeação para Presidente do Turismo de Portugal, não deve ter trazido uma grande surpresa, sendo praticamente uma escolha natural. Como encarou inicialmente esse convite?
Foi uma honra e um desafio pessoal.
Tendo já experiência e profundo conhecimento neste setor particular – turismo, quais eram os maiores desafios que se impunham quando iniciou funções?
Na altura, os principais desafios do turismo em Portugal prendiam-se com as acessibilidades, aéreas e terrestres, em melhorar a experiência do turista dentro do território nacional e a sua movimentação pelo país, a capacitação dos recursos humanos do setor e o alargamento do turismo a todo o território, durante todo o ano. Era necessária uma estratégia de médio/longo prazo para o setor que tivesse em consideração estes desafios. Passados cinco anos, aprovada a Estratégia Turismo 2027 e no decurso do trabalho conjunto realizado com as diversas entidades públicas e privadas que intervêm nesta atividade, a realidade é hoje bem diferente: temos um turismo reconhecido internacionalmente e um país que se afirma como um dos mais competitivos e autênticos destinos turísticos do mundo.
A sua experiência como Chefe de Gabinete do Secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade (entre 2005 e 2007) do XVII Governo Constitucional, considera ter sido uma mais-valia para o desempenho destas funções?
Foi uma experiência importante no meu percurso profissional e pessoal.
O Turismo de Portugal e as Entidades Regionais de Turismo, têm conseguido caminhar para um crescimento do setor em todo o território e ao longo de todo o ano, deixando para trás um turismo sazonal, apenas de “sol e praia”? Considera que o turismo em geral e as entidades regionais de turismo em particular são um importante contributo para a coesão territorial, para o apoio aos territórios denominados de baixa densidade?
Na realidade atual, e mantendo os objetivos da Estratégia Turismo 2027, importa valorizar os recursos com estratégias integradas que estruturem e promovam o que Portugal tem de melhor nas suas várias regiões. O mercado interno e a Europa, a que se juntam mais recentemente países como os EUA e o Brasil, são essenciais na retoma da atividade turística, paralelamente com a aposta em produtos integrados com diferentes regiões, como é o caso das redes colaborativas. O país, como um todo, tem um enorme potencial se trabalhar em conjunto.
As Entidades Regionais de Turismo e o trabalho que têm desenvolvido é essencial para a coesão territorial uma vez que é através da promoção da multiplicidade de experiências que Portugal proporciona que podemos concretizar o grande objetivo de ter turismo em todo o território durante todo o ano. Toda a oferta turística nacional se complementa e se completa, respondendo a diferentes segmentos com diferentes necessidades. A atividade turística tem um importante papel em qualquer região porque potencia, como se tem vindo a constatar, o respetivo desenvolvimento económico e social.
Tanto assim é que, não obstante a conjuntura económica de 2020 e 2021, as regiões evidenciam já índices de crescimento positivos; e, em agosto de 2022 (últimos dados disponíveis), registaram-se aumentos dos proveitos globais em todas as regiões, quando comparados com o período homólogo de 2019.
A diversificação da oferta que tem vindo a verificar-se um pouco por todo o território poderá ter uma ligação direta à atratividade do turismo em Portugal e à captação de novos mercados? Falar de turismo em Portugal, é inevitável falar de gastronomia e enoturismo. Nesse trabalho e desafio de mostrar o país ao mundo e promover o país no mundo, que papel é atribuído à gastronomia e ao enoturismo?
Quando estabelecemos a Estratégia Turismo 2027, definimos dez ativos estratégicos para diversificar a oferta e captar novos mercados, entre os quais se encontram a gastronomia e o enoturismo que, para nós, constituem um eixo fundamental na promoção do destino Portugal. Não só porque constituem recursos de elevada qualidade, mas porque são elementos distintivos da nossa oferta.
Temos de ter consciência do valor que a gastronomia tem na perspetiva de experiência de quem nos visita. Obviamente, isto faz com que a gastronomia esteja dentro de qualquer iniciativa de promoção. Não existe uma campanha específica só sobre gastronomia, mas faz parte de uma oferta global, por ser fundamental na experiência do turista em Portugal. Aliás, a gastronomia é um dos principais critérios de valorização de expectativa de qualquer turista que vem ao nosso país. De igual modo, tem sido dada uma particular atenção ao segmento do enoturismo. Assim, no âmbito de vários programas de incentivo do Turismo de Portugal, o Enoturismo tem beneficiado de múltiplos apoios. O Plano de Ação para o Enoturismo aprovou mais de 60 projetos, que representam um investimento superior a 90M€ e incluem diferentes tipologias de ofertas de enoturismo distribuídos pelo território nacional. Também o Programa Transformar Turismo dá uma especial atenção ao Enoturismo, uma vez que considera este segmento elegível para receber incentivos e apoios. Dirigido a agentes públicos e privados que atuam na área do turismo, visa fomentar a valorização e qualificação do território, assim como o desenvolvimento de produtos, serviços e negócios inovadores. Noutras vertentes, a formação específica em Enoturismo tem crescido nas Escolas do Turismo de Portugal que, só em 2021, certificou mais de 4.000 formandos. O Enoturismo tem sido, também, objeto de campanhas de promoção externa, dirigidas ao consumidor, ao trade e à imprensa internacionais, com enorme impacte e alcance nos mercados internacionais. No quadro da promoção externa, o enoturismo integra o plano de ações realizadas pelo Turismo de Portugal destinadas aos mercados internacionais. Desde o lançamento da plataforma digital “Portuguese Wine Tourism”, que será o hub de informação e de promoção internacional de Portugal enquanto destino de Enoturismo, à captação de eventos internacionais, como a Conferencia Mundial do Enoturismo realizada pela OMT em 2021 em Portugal, ou programas televisivos de referência internacional como o “The Wine Show”, entre outros, são múltiplas e significativas as iniciativas já concretizadas e previstas implementar.
Hoje, temos um turismo reconhecido pela sua qualidade a todos os níveis, desde as infraestruturas, às acessibilidades, recursos humanos e diferenciação da oferta. E queremos continuar a ser percecionados dessa forma.
Falar de turismo, implica falar de como se entra em Portugal e portanto, esta pergunta é inevitável. Qual a sua posição relativamente à construção do novo aeroporto? Como encara este impasse?
A nossa principal preocupação são as companhias aéreas e temos trabalhado muito no sentido de estarmos atentos aos sinais dos mercados e dos consumidores. O nosso papel é estimular o máximo de rotas oriundas quer dos mercados tradicionais quer de mercados estratégicos. É importante que estas rotas retomem e para todos os destinos. Nesse âmbito, temos sentido um interesse enorme por Lisboa e Portugal por parte de muitas companhias aéreas que, fruto das condicionantes e capacidade atual, não podem realizar as suas operações para o nosso país. A competitividade do nosso país enquanto destino turístico depende, no caso de Lisboa, de um novo equipamento aeroportuário.
Em termos de estratégias de marketing e promoção, de campanhas de comunicação, quais têm sido as grandes apostas? Nesta matéria, as entidades regionais de turismo têm uma ação completamente autónoma, ou pelo contrário existem orientações emanadas do Turismo de Portugal e/ou da tutela?
Nas prioridades da nossa estratégia para os mercados externos inclui-se, necessariamente, a reposição das acessibilidades aéreas. Para o efeito temos realizado um trabalho conjunto com as várias companhias aéreas, e reforçámos o Programa VIP em mais 20 milhões de euros. Estamos ainda a desenvolver ações de capacitação do trade internacional, através das nossas equipas no estrangeiro, e a dinamizar a oferta de produtos diferenciados como o Enoturismo, o Turismo Literário e o Turismo Industrial, entre outros. Este trabalho é realizado em conjunto e de forma coordenada com as Agências Regionais de Promoção turística.
Continuamos a envidar todos os esforços no sentido de manter Portugal como o primeiro destino a visitar, continuando a acompanhar de perto o tecido empresarial do turismo nacional, dando a melhor resposta possível às suas preocupações e necessidades.
Como avalia o serviço prestado pelas empresas portuguesas da Hotelaria e Restauração? Estamos a conseguir prestar um serviço de excelência a quem nos visita, deixando uma boa impressão e a vontade de voltar?
Quem disso melhor pode dar testemunho são os mais de 17,5 milhões de hóspedes que já nos visitaram de janeiro a agosto deste ano.
O turismo é uma atividade económica essencialmente de serviço, através da qual o trato humano qualificado e capacitado é o pilar que sustenta não só um serviço de excelência, como configura o garante de uma experiência turística suscetível de catalisar um regresso no médio prazo.
Portugal é um destino que, a partir dos seus elementos identitários, da sua história, cultura e preservação de memória, consegue de forma estruturada e sustentável manter uma capacidade de atração turística crescente, sem que com isso se perca autenticidade e o equilíbrio de convivência entre quem visita e quem recebe. A esse propósito nunca é demais sublinhar que Portugal continua a ser considerando um destino turístico de referência, seguro, inovador, atrativo e cada vez mais sustentável, dotado de serviços turísticos de enorme qualidade, com infraestruturas de primeira linha.
Sem prejuízo da muito boa perceção de quem nos visita e do reconhecimento internacional enquanto destino turístico que temos obtido, existe sempre margem de progressão e um caminho de crescimento a percorrer. Seja numa perspetiva de inovação, de melhoria da qualidade do serviço e do produto, do trabalho em rede, do empreendedorismo e, também, de internacionalização.
Permanecer na memória de quem nos visita, por boas razões, é o melhor certificado de qualidade e excelência que podemos e devemos almejar.
Considera que deve existir uma forte aposta na formação, para garantir qualidade e excelência? Como é que isso se faz?
Quando definimos a Estratégia Turismo 2027 partimos de uma série de desafios, como os eixos ou os ativos, tendo em vista um conjunto de metas. Curiosamente ou não, uma das questões que saltava sempre mais à vista era a das pessoas.
As “Pessoas Turistas”: aquelas que tenham melhor experiência e que venham mais e que fiquem mais tempo no território e em todo o território; as “Pessoas Locais”: que reconheçam o valor do turismo enquanto atividade económica, principalmente nos grandes centros urbanos; e as “Pessoas Colaboradores do Setor”: na altura trabalhavam no setor cerca de 350 mil pessoas, agora trabalham 411 mil, ou seja, houve um crescimento muito expressivo nos últimos anos.
O Turismo de Portugal gere uma rede nacional de 12 Escolas – Porto, Douro/Lamego, Viana do Castelo, Coimbra, Oeste, Estoril, Lisboa, Portalegre, Setúbal, Vila Real de Santo António, Portimão e Faro -, líderes na formação do capital humano para o turismo, que garantem a preparação de jovens para o primeiro emprego e a qualificação dos profissionais do setor. A Estratégia Turismo 2027 e o acompanhamento atento das necessidades do mercado laboral na área do turismo são os instrumentos-base com que as Escolas do Turismo de Portugal definem os seus objetivos estratégicos, designadamente (i) potenciar o conhecimento, (ii) valorizar as profissões do turismo, (iii) assegurar a formação de recursos humanos, (iv) a capacitação em contínuo de empresários e gestores, (v) a difusão de conhecimento e informação e (vi) contribuir para a afirmação de Portugal como smart destination.
Cozinha, Pastelaria, Restauração e Bebidas, Turismo de Natureza e Aventura, Turismo Cultural e do Património, Hotelaria/ Alojamento e Gestão de Turismo, são alguns dos cursos disponíveis nas 12 escolas do Turismo de Portugal que apostam num programa formativo abrangente, focado no talento das pessoas, no desenvolvimento de soft skills, na inovação e na internacionalização dos profissionais do turismo, como base do sucesso do setor em Portugal.
No ano letivo 2021/2022 a rede escolar do Turismo de Portugal contou com 2.900 alunos. Destacamos que, segundo dados do Estudo de Inserção Profissional de 2020, 96,7% dos alunos formados nas Escolas do Turismo de Portugal ficaram a trabalhar em Portugal, dos quais, 84% nos subsetores da Restauração e Hotelaria.
Por outro lado, desde o início de 2021 foram organizadas um total de 1.530 ações de formação para mais de 123.758 mil participantes. Entre outras, foram ministradas 509 ações de Formação Executiva Certificada Online, com 31.910 participantes; 104 ações de formação “Clean & Safe” para 17.271 participantes; 446 ações do “Programa Upgrade” para um total de 26.915 participantes, realizados 31 Webinares e MasterClasses que envolveram 1.352 pessoas.
O turismo é uma área profissional com futuro, com perspetivas de carreira, com um potencial de desenvolvimento pessoal e profissional únicos. Neste sentido, e concretizando uma das missões que estão atribuídas ao Turismo de Portugal – a de criar sinergias colaborativas entre todos os operadores de formação em turismo – está a ser desenvolvido um conjunto de projetos colaborativos com outras entidades públicas que trabalham a formação em turismo para que, de forma articulada, seja possível disponibilizar mais cursos e mais formação especializada incrementando, de forma significativa, o número de pessoas a estudar e a fazer formação em turismo. Paralelamente, estão também a ser delineados projetos de valorização das profissões do turismo, em cooperação com as entidades de formação, com as associações do setor, e com as empresas, evidenciando o valor social e económico das profissões do turismo.
Neste contexto, importa referir que a rede de Escolas de Hotelaria e Turismo do Turismo de Portugal receberam uma das Medalhas de Mérito Turístico de grau Prata. Podemos afirmar que as Escolas do Turismo de Portugal são hoje uma incontornável referência na formação profissional em turismo?
Sem dúvida. Para além do reconhecimento do seu determinante papel na formação e colocação no mercado de trabalho de profissionais altamente qualificados, desde a sua fundação em 1958, a recente criação e dinamização da Academia Digital durante o período pandémico, que assegurou a capacitação de mais de 180 mil profissionais do turismo, foi determinante na atribuição desta distinção.
As Escolas do Turismo de Portugal são uma referência na formação profissional em turismo. A aposta nas pessoas e no talento tem sido uma das suas prioridades de atuação, formando cerca de 3.000 alunos por ano e qualificando, simultaneamente, cerca de 7.500 profissionais do turismo, com formação on the job. São uma rede única no mundo, reconhecida internacionalmente, premiada e certificada pela Organização Mundial do Turismo. Para além da formação, promovem a inovação e o empreendedorismo, disponibilizando condições técnicas e conhecimento especializado, que colocam ao serviço das pequenas e muito pequenas empresas do setor, contribuindo em última análise para a competitividade e qualidade do serviço prestado agentes do setor, visando um crescente prestígio das profissões turísticas.
Recentemente, o Turismo de Portugal apresentou duas novas Linhas de Apoio especialmente dirigidas às empresas e aos territórios afetados pelos incêndios, numa dotação global de 10 milhões de euros. Fale-nos um pouco mais sobre esta nobre iniciativa e de que forma constitui uma importante ferramenta de recuperação para as empresas e territórios afetados por este flagelo?
Estas duas novas Linhas de Apoio, com uma dotação global de 10M€, visam financiar e revitalizar a atividade turística desses territórios. A Linha de Apoio à Tesouraria das Empresas Turísticas Afetadas pelos Incêndios destina-se a fazer face às necessidades de tesouraria das empresas turísticas com atividade nos concelhos afetados. E o Aviso específico no âmbito do Programa Transformar Turismo, intitulado Regenerar e Valorizar Territórios – Incêndios 2022, visa apoiar o desenvolvimento de produtos turísticos endógenos bem como as ações de prevenção e mitigação do potencial de risco em espaços de vocação turística de modo a tornar o território mais resiliente e regenerar e revitalizar os ecossistemas e as comunidades. Qualquer um destes projetos, cada um na sua vertente, consolida a aposta que o Turismo de Portugal tem vindo a fazer num turismo responsável, que contribui para o desenvolvimento económico e social de todo o território e garantindo a sustentabilidade da atividade turística e dos recursos preciosos de que Portugal dispõe.
Ainda no âmbito do plano de apoio e recuperação económica das zonas do país mais afetadas pelos incêndios deste verão, o Turismo de Portugal apresentou três iniciativas de objetivos complementares entre si, visando a promoção do desenvolvimento da atividade turística de forma responsável e sustentável. Podemos afirmar que Portugal está a caminhar a passos largos para se transformar num destino turístico mais sustentáveis do mundo?
O Turismo de Portugal assume a sustentabilidade como um propósito maior, como o único caminho possível para construir o turismo do futuro, mais responsável. Todos os projetos e iniciativas que concretizamos procuram, em última análise, promover os princípios da sustentabilidade junto de toda a cadeia de valor do turismo nacional. Isto implica, por um lado, a compreensão dos verdadeiros impactes ambientais, sociais e económicos da atividade turística e, por outro lado, a dinamização de todo o seu potencial no quadro global da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
A Estratégia Turismo 2027, referencial estratégico do desenvolvimento do setor para os próximos anos, definiu de forma muito clara metas de sustentabilidade económica, social e ambiental e áreas estratégicas de intervenção, sem perder de vista os objetivos concretos de aumentar a procura e as receitas turísticas, de reforçar as qualificações, de reduzir o índice de sazonalidade, de assegurar uma integração positiva do turismo nas populações residentes, de incrementar os níveis de eficiência energética e hídrica nas empresas e de promover uma gestão eficiente dos resíduos na atividade turística.
Foi com este enquadramento que o Turismo de Portugal lançou, em 2021, o “Plano Turismo +Sustentável 20-23”, o qual visa acelerar o alcance dessas metas e, ainda, reforçar a contribuição do turismo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Este Plano criou mais de 100 ações, a implementar até 2023, dirigidas para a estruturação de uma oferta crescentemente sustentável, para a qualificação dos agentes do setor, para a promoção de Portugal como destino sustentável e para a monitorização do desempenho do setor em sustentabilidade.
Estrategicamente, foram definidas metas de curto/médio prazo, mas sabemos que alcançar o desenvolvimento sustentável do setor exige um nível de ambição contínuo. Por não ser um conceito passageiro ou conjuntural, antes impondo um ciclo contínuo de melhoria, a sustentabilidade determina que reconheçamos a importância de não colocarmos limites para o que podemos fazer. Se queremos que o turismo seja um setor líder na resposta aos desafios da sustentabilidade temos de incluir os seus princípios e diretrizes nos modelos de governação das organizações, procurando a melhoria contínua nos serviços e nos produtos para conseguirmos garantir uma adaptação estrutural às realidades e aos desafios que surgem em cada momento. É aqui que entra a importância da medição objetiva do desempenho, porque o caminho para um turismo mais competitivo, mais justo e responsável e mais eficiente no uso dos recursos não pode existir sem indicadores que, acompanhando as exigências do mercado e as expetativas da sociedade, permitam analisar ineficiências e vulnerabilidades e desenvolver mecanismos de crescimento.
Foi por essa razão que o Plano “Reativar o Turismo | Construir o Futuro”, aprovado em maio de 2021, inscreveu o “Programa Empresas Turismo 360°” no conjunto de ações orientadas para projetar o setor no futuro – uma iniciativa ambiciosa que procura aproveitar toda a força transformadora do setor ao incentivar as empresas a reportarem o seu desempenho em sustentabilidade através da integração dos fatores ESG – Environmental, Social and Governance na cultura organizacional e na estratégia de negócio, orientando-as no processo de reporte de um sistema de indicadores criado com o objetivo de refletir as suas práticas ambientais, sociais e de governação. Não é possível operacionalizar a sustentabilidade sem garantir uma monitorização e uma disponibilização de dados de desempenho, pelo que o Programa Empresas Turismo 360° surge como um mecanismo que, resultando de uma reflexão estratégica orientada para a compatibilização do desenvolvimento económico com a proteção ambiental e com a equidade social, permite abordar vulnerabilidades, antecipar e contornar disrupções, e maximizar oportunidades e benefícios para os destinos, para as empresas, para as comunidades, para os trabalhadores e para os visitantes. Ao permitir uma padronização no processo de recolha e de processamento dos dados de desempenho do setor, o Programa permitirá medir e percecionar as diferentes variáveis que podem condicionar os objetivos de transição e, ao mesmo tempo, criar uma base de conhecimento útil para os processos de tomada de decisão adotados por agentes públicos e privados e para a compreensão dos fatores determinantes da competitividade de Portugal enquanto destino turístico.
O Turismo de Portugal venceu, recentemente, o 1.º Prémio Nacional dos European Enterprise Promotion Awards – EEPA, na categoria de “Empreendorismo Responsável e Inclusivo”. Gostaria de escutar a sua reação a este reconhecimento e o que distanciou o país, contribuindo de forma decisiva para sua a projeção e afirmação como destino seguro?
O selo “Clean & Safe” venceu o 1.º Prémio Nacional dos European Enterprise Promotion Awards – EEPA, prémio esse que resultou do reconhecimento deste projeto como uma iniciativa pioneira e inovadora que tem contribuído, de forma inequívoca, para a projeção e afirmação de Portugal como destino seguro. Criado pelo Turismo de Portugal em 2020, o Selo “Clean & Safe” visou então distinguir as atividades turísticas que assegurassem o cumprimento de requisitos de higiene e limpeza para prevenção e controlo do vírus COVID-19 e de outras eventuais infeções. Em paralelo, foi desenvolvida e implementada uma plataforma de gestão do projeto que registava e disponibilizava as respetivas adesões, bem como delineado e concretizado um programa de formação e capacitação dirigido a todos os aderentes e que atingiu mais de 42.500 pessoas.
Não temos dúvida que, em plena crise pandémica, este projeto revelou-se mais do que uma mera ferramenta de preparação das empresas do setor do turismo para responder à emergência de saúde pública, ele assumiu, de igual modo, um papel essencial na retoma da atividade turística e na manutenção da excelência de Portugal enquanto destino turístico.
Mais recentemente, pelo enorme sucesso e maior abrangência que este selo devia deter, em junho de 2022 passou a estar disponível a nova versão do Selo “Clean & Safe”, agora enquanto instrumento de apoio às empresas para a “gestão de crises”. Assim, mantendo o enfoque na questão sanitária, continuando a promover a excelência no desempenho higiénico-sanitário das empresas e entidades aderentes, passa a prever outras eventuais crises de saúde pública (como outras pandemias, além da COVID-19, ou ondas de calor), bem como uma nova dimensão de segurança transversal às atividades turísticas, abrangendo possíveis situações de risco decorrentes de fenómenos extremos (caso dos incêndios rurais, as inundações, os sismos ou tsunamis) e de constrangimentos internacionais (como por exemplo o cibercrime). O elevado índice de adesões – que ultrapassou os 23.000 aderentes – e a projeção tanto a nível nacional como internacional, são demonstrativos do sucesso e da credibilidade do projeto, circunstância que nos dá uma enorme satisfação porque traduz o papel que o Turismo de Portugal assume no contributo para esta importante atividade económica, conferindo confiança e segurança a quem nos visita, diferenciando-nos como destino de excelência.
Pela 5ª vez nos últimos seis anos, Portugal foi mais uma vez considerado o «Melhor Destino Turístico do Europa», na edição europeia dos World Travel Awards 2022. A eleição resulta da votação de milhares de profissionais do setor, oriundos de todos os países do mundo, e neste ano Portugal arrecadou mais 30 prémios, entre destino, regiões e produtos e serviços. Esta distinção assume particular significado depois dos difíceis anos da pandemia?
É um motivo de grande orgulho nacional e uma grande motivação para todos os agentes do setor porque reflete o reconhecimento do empenho e do trabalho desenvolvido por todos, numa das fases mais difíceis que o turismo atravessou nos últimos anos.
Envolvendo todos os protagonistas do setor, estes prémios representam, também, o apreço internacional pelo esforço conjunto e pela ambição que temos de posicionar Portugal como um dos destinos mais competitivos e sustentáveis do mundo.
Que mensagem gostaria de deixar neste momento aos turistas (internos e externos), aos operadores da restauração e bebidas, operadores de alojamento turístico e seus profissionais, aos portugueses em geral e às nossas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo (leitores da Descendências Magazine)?
Portugal enquanto destino turístico de excelência continua autêntico, diversificado, atrativo, inclusivo e seguro. O Turismo de Portugal, enquanto autoridade turística nacional, mantém a ambição de afirmar o setor não só como um catalisador de desenvolvimento económico, social e ambiental, posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos, inovadores e sustentáveis, mas também como “força para o bem”, assumindo-se como atividade que protege culturas e tradições, dinamiza os territórios, constrói comunidades e cria pontes entre países.