A Nova Invasão Francesa
Viver em Portugal, entre o sonho e a realidade

Terminou agosto, o querido mês de agosto. Terminaram as férias. Voltaram para o estrangeiro os emigrantes que durante as semanas mais desejadas do ano vieram matar saudades da terra e da família, encheram ruas, praças, festas e romarias. Deixou-se de ouvir falar línguas estrangeiras (sobretudo o francês) em cada esquina. As cidades, vilas e aldeias de Portugal regressam à rotina tranquila de setembro.
No entanto, nem todos os estrangeiros partem. Com efeito, desde 2020, o número de pessoas que se instalaram em Portugal não para de crescer. Não nos debruçaremos aqui sobre as questões de imigração que têm levantado grandes discussões. Escolhemos refletir sobre o aumento da população francesa, no nosso país. Há décadas, os portugueses partiam para França, em busca de uma vida melhor. Hoje, o sentido migratório inverteu-se.
O que leva as pessoas a trocar a França por Portugal? Quem são elas? O que procuram? Quais as maiores dificuldades com que se deparam? E que lugar ocupa a língua portuguesa no seu quotidiano?
A facilidade de comunicação proporcionada pelas redes sociais simplificou a recolha de dados, e quase seis dezenas de testemunhos vieram confirmar o que já suspeitávamos: Portugal é considerado um país onde se vive bem, graças, em grande parte, ao elevado número de dias de sol por ano, à generosidade natural dos portugueses e às boas condições de vida, em geral. Por isso, torna-se um destino atrativo não só para visitar, mas também para viver.
Atualmente, estima-se que vivam em Portugal entre 50 000 e 60 000 franceses, embora apenas menos de metade esteja inscrita nos registos consulares. A maioria tem entre 45 e 59 anos e descobriu o nosso país por meio de familiares, amigos ou pelas redes sociais. Uns trabalham por conta de outrem, outros por conta própria. Os reformados, quanto a eles, representam menos de um quarto da população francesa residente em Portugal.
A esmagadora maioria escolheu o Porto e a região Norte para viver, seguidos da região Centro e da Área Metropolitana de Lisboa. Os níveis de qualidade de vida em Portugal e o clima agradável são as duas principais razões que determinaram a sua instalação. A vontade de mudar de vida levou milhares de franceses a deixar tudo para trás. O facto de Portugal ser um país seguro foi ainda determinante. Tal como o desejo de regressar às origens (no caso dos lusodescendentes) ou a ilusão de um custo de vida mais baixo do que em França.
Longe vai o tempo em que as vantagens fiscais constituíam o objetivo maior. Hoje procura-se autenticidade, qualidade de vida, sol e temperaturas amenas. Mas quando surge uma oportunidade profissional, é difícil resistir aos encantos de Portugal, mesmo sem ter um conhecimento profundo do país ou com base apenas numa viagem realizada no passado.
Contudo, o contacto diário com a realidade portuguesa traz algumas desilusões. Viver em Portugal, nem sempre corresponde ao idealizado. A barreira da língua portuguesa constitui um obstáculo considerável. Embora cerca de metade da população francesa instalada em Portugal saiba falar português, a restante metade vê-se obrigada a recorrer a aulas de português ou a aprender em autodidata. As famílias com filhos inscrevem-nos geralmente em estabelecimentos escolares portugueses, o que facilita a sua integração e a aprendizagem da língua. A dificuldade de integração social é, de facto, um aspeto negativo e por vezes fonte de desânimo. Com efeito, nem sempre é fácil estabelecer-se relações interpessoais, sobretudo quando não se domina o português. Por isso, os franceses que escolheram viver em Portugal criam grupos nas redes sociais e estabelecem programas culturais e de convívio.
Apesar destas contrariedades, o país é visto como um verdadeiro refúgio de tranquilidade. Descrevem-no como um lugar agradável, sereno e autêntico, onde a vida decorre de forma calma e segura. A hospitalidade do povo português assim como a beleza e a diversidade das paisagens nacionais reforçam a sensação de bem-estar que encontram por cá.
De que forma podemos nós, portugueses, tirar partido da presença desses milhares de franceses que se instalaram em Portugal, nomeadamente através de uma enriquecedora partilha intercultural? E, por outro lado, o que podemos ou devemos fazer para que se sintam apoiados, integrados e apreciados?
A resposta a estas questões passa inevitavelmente por um esforço mútuo. Se, por um lado, a chegada de cidadãos franceses representa uma oportunidade para dinamizar a economia local, por outro lado, exige também que a sociedade portuguesa desenvolva mecanismos eficazes de integração. Importa, pois, compreender quais são as suas principais necessidades e de que forma as instituições portuguesas podem facilitar esse processo de adaptação. Da mesma maneira, é essencial que os franceses aprendam a conhecer e a respeitar a cultura portuguesa, como os portugueses se disponham a valorizar e a aprender com a diversidade que eles trazem consigo. Na verdade, este é um dos pilares da Europa!



