As remessas

As remessas são o outro lado da emigração: aos fluxos de pessoas entre países correspondem fluxos financeiros em sentido contrário. Em 2021, Portugal recebeu mais de 3,6 mil milhões de euros de remessas de emigrantes. As remessas enviadas para o estrangeiro pelos imigrantes a residir em Portugal foram quatro vezes menores. Portugal é, também no domínio das remessas, um país de emigração mais do que de imigração.
Em termos temporais, as remessas cresceram continuadamente desde 2010, estabilizando nos últimos anos, em correspondência com as flutuações da emigração no período pós-crise de 2010-13. A estabilização fez-se em valores elevados: as remessas dos emigrantes foram, nos últimos anos, da mesma ordem de grandeza das transferências europeias para Portugal. Note-se que, ao contrário destas, as remessas são fluxos entre particulares e não entre estados. Como tal, não sustentam políticas públicas (como as transferências europeias) e contribuem desigualmente para o rendimento das famílias.
A partir da segunda década do século XXI, o valor das remessas recebidas em Portugal fixou-se em torno dos 1,8% do PIB. Estamos longe dos valores observados na sequência da grande emigração dos anos que antecederam o 25 de abril: em 1979, as remessas representavam perto de 10% do PIB.

Sendo um grande país de emigração, Portugal é, quando se tem em conta a sua população, um dos países do mundo que mais remessas recebe. Contudo, sendo um país de emigração desenvolvido, que integra o grupo dos países de muito elevado desenvolvimento humano, Portugal depende menos do contributo económico das remessas do que países com volumes de emigração semelhantes.
Mais de metade das remessas recebidas em Portugal vêm da Suíça e de França, os países onde residem mais portugueses emigrados e que são destinos ativos da emigração portuguesa. Seguem-se, com valores bem menores, Reino Unido, Angola, EUA e Alemanha. Em sentido contrário, o país que recebe mais remessas de Portugal, enviadas por imigrantes aqui estabelecidos, é o Brasil (quase metade). Hoje, as remessas enviadas de Portugal para o Brasil são 37 vezes superiores às originárias daquele país. Ou seja, o Brasil, que no passado foi o principal destino da emigração portuguesa, transformou-se no maior país de origem da imigração em Portugal. Transformação inversa aconteceu com Angola: em 2001, este país recebia o dobro das remessas que enviava para Portugal, hoje envia remessas num valor 32 vezes superior ao das que recebe. Angola transformou-se, neste século, num dos poucos países de destino não europeus da emigração portuguesa. As variações das migrações têm um espelho nos fluxos das remessas.

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