Geografia da emigração portuguesa

As migrações percorrem canais estreitos. O papel das redes sociais na reprodução das migrações tende a concentrar origens e destinos: mais do que de um país para outro, migra-se de umas poucas regiões dos países de origem para umas poucas regiões dos países de destino.
Dados recentemente compilados pelo Observatório da Emigração permitem começar a identificar a expressão daquela concentração na emigração portuguesa contemporânea. Por exemplo, sabemos hoje que mais de 60% dos portugueses emigrados na Alemanha residem em apenas quatro estados, onde estão claramente sobrerrepresentados: Renânia do Norte-Vestfália, Baden-Württemberg, Hessen e Hamburgo. Nestes quatro estados vivem 66% dos emigrantes portugueses e apenas 42% dos alemães. Em Espanha, residiam nas regiões fronteiriças, em 2020, 42% dos portugueses emigrados, o que indicará, provavelmente, a existência de migrações pendulares internacionais entre os dois países ibéricos. Particularmente impressiva era a concentração na Galiza, onde residiam 20% dos portugueses emigrados e apenas 6% dos espanhóis. Na Suíça, os portugueses estão concentrados nos cantões predominantemente francófonos: em Vaud, Genebra, Valais, Friburgo e Neuchâtel vivem 61% dos emigrantes portugueses (mas apenas 22% dos suíços).

Uma maior concentração regional é visível no Reino Unido: mais de dois terços dos emigrantes portugueses vivem na região de Londres e nas regiões vizinhas do Este e do Sudoeste, territórios em que residem apenas pouco mais de um terço dos britânicos. É, porém, no Brasil que a concentração é maior: 47% dos portugueses emigrados neste país viviam em São Paulo e 37% no Rio de Janeiro. Ou seja, 84% dos emigrantes portugueses no Brasil viviam em apenas dois estados, nos quais, no entanto, residiam apenas 30% dos brasileiros.
Não temos, para já, dados sobre as regiões portuguesas de partida dos emigrantes, não podendo por isso comprovar a hipótese de uma elevada concentração regional também na origem daqueles fluxos migratórios. Esta lacuna só poderá ser ultrapassada com a realização de estudos de caso que vão acumulando dados que compensem a inexistência de estatísticas neste domínio. No final, encontraremos provavelmente redes de interconhecimento pessoal entre emigrantes que canalizam o seu fluxo, assim se explicando, como refere Thomas Faist, “por que há tão poucos migrantes de tantos lugares e tantos de tão poucos lugares” (Thomas Faist, The Volume and Dynamics of International Migration and Transnational Social Spaces, Oxford, Oxford University Press, 2000).

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