César Martiniano

César Martiniano nasceu nos Açores em 1995. Fazendo arte apenas como hobby, em 2013 surge a oportunidade de participar como Jovem Criador no Festival Walk&Talk 2013, em Ponta Delgada. Através desta experiência decide dar um rumo mais criativo à sua vida e em 2016 acaba por licenciar-se em Design Gráfico na ESAD. Neste período foi também curador da exposição coletiva “Cena das Latas”. Participou em vários eventos relacionados com arte, como o Festival Azure, Walk&Talk, Azores Fringe Festival, Mais Jazz, Younger Angra, entre outros. Em 2018, foi eleito vencedor do 6º LAB Jovem, na categoria Artes Digitais com a fonte Gama. Em 2020 defende o mestrado “Arquipélago DADA: Uma fonte humanista sem serifa para composições visuais expressivas”. Hoje em dia está a fazer a transição de trabalhar como designer gráfico e diretor criativo nos Açores, para se tornar um artista abstrato mundial, pintando livremente a sua visão do mundo.

Como nasceu a paixão pela pintura?

A minha paixão pela pintura e criatividade começou na infância, apesar de na altura não saber o que era paixão, sentia um enorme fascínio e curiosidade por desenhar e construir coisas. Dou sempre o exemplo que me lembro melhor, eu desenhava em folhas A4 os meus próprios cenários para os meus brinquedos, fosse a selva ou até pastos verdejantes. Provavelmente os meus pais perceberam essa minha atração pela arte e ao longo do meu crescimento foram-me colocando em vários ateliers de expressão plástica. É com o passar dos anos e destas experiências que a curiosidade natural que já existia em mim evoluiu para uma ligação séria com a arte.

Quando decidiste focar a tua vida na arte e porquê?

Para responder vou incluir o Design dentro da arte. Ao longo do meu crescimento de adolescente olhei sempre para a arte como um hobbie para o qual tinha aptidão e curiosidade. Não conhecia ninguém que tivesse seguido esse caminho artístico, então queria seguir um caminho mais tradicional, virado para as Ciências do secundário. No final do 12º ano ganhei o projeto Jovens Criadores do Festival de Arte Pública do Walk&Talk (2013), o que me possibilitou ir à ilha de São Miguel pintar um mural, nessa semana fiz 18 anos. Esse foi o momento chave para seguir a arte, neste caso o Design. Desde aí tenho seguido um caminho dedicado à criatividade acabando por fazer Mestrado também em Design. Contudo a pintura continuava sempre muito reservada, é no início de 2023 que decidi explorar mais profundamente a pintura, porque sempre senti que há uma liberdade imensa naquilo que posso criar e imaginar. Já se passou quase um ano e tem sido uma viagem extraordinária.

Como é o teu processo de trabalho?

Tenho vários processos, vou explicar aquele que estou a aplicar na minha nova série de pinturas, Atlantic Whisperer. Esta série de pinturas abstratas em acrílico começou com o conceito de querer representar os Açores através da Cor (azul, verde, vermelho) e de algumas formas/movimentos não muito concretos. Começo por pesquisar referências visuais, o estado da arte atual, processos de outros criativos, até chegar a uma ideia para representar em tela. Na tela começo por aplicar textura, através de gesso e massa modular e dou uma camada uniforme de branco. Se a ideia for uma pintura azul (ou outra cor), começo por fazer marcas azuis diluídas em água, para “quebrar o gelo” entre mim e a tela branca. A partir das marcas que são criadas, começo de forma intuitiva a compor a tela com mais tons de azul, brancos e lápis de cor (normalmente cores contrastantes). Nesta fase é onde fico mais tempo, para experimentar e encontrar o balanço certo da pintura entre cores, formas e movimentos. Após terminar, deixo secar dois dias e passo verniz por cima para dar um acabamento uniforme e preservar a pintura.

É possível viver só da pintura?

Viver exclusivamente da pintura é inicialmente um desafio, mas não é impossível. Para tal é imprescindível construir um Nome forte no mundo das artes contemporâneas. Esse é o objetivo que quero alcançar dentro dos próximos 2 a 4 anos. Atualmente, mais de 80% do meu rendimento é gerado pelo Design e Marketing que fui desenvolvendo durante mais de 10 anos. Para viver da pintura sozinho, um artista tem de desenvolver muitas outras competências, como por exemplo, ter a capacidade de sair do estúdio e estar em público, comunicação, vendas, gestão, networking e a cima de tudo usar as ferramentas atuais, a maioria gratuitas, para divulgar o seu trabalho.

O que te seduz na arte de rua?

Sinto que a arte de rua ou pintura mural têm um apelo especial devido à sua acessibilidade e impacto imediato. Enquanto artistas temos a capacidade de transformar espaços comuns em galerias ao ar livre, além de ajudarmos um público alheio às artes a sair da sua rotina, nem que seja por breves instantes, a refletir sobre aquilo que veem à sua frente, possibilitando novos diálogos.

Uma das tuas últimas aventuras foi em Nova Iorque. Qual a importância de presença internacional para a tua carreira?

A minha recente exposição em Nova Iorque foi crucial e extremamente enriquecedora para a minha carreira artística. Esta experiência não só conectou-me com um público novo e interessado em arte abstrata, mas também foi fundamental para expandir o meu alcance e reconhecimento internacional. Esta presença internacional é vital, pois traz um reconhecimento que reverbera tanto a nível local quanto nacional, o qual em pouco tempo já senti fazer efeito.
Expor em Nova Iorque mostrou-me novas perspetivas e oportunidades para minha carreira. Além disso, estar neste cenário internacional deu-me a oportunidade de entender como a arte é trabalhada e percebida em outras partes do mundo, destacando a dinâmica rápida do cenário artístico global. Essa perceção foi um verdadeiro impulso para continuar explorar novos públicos e colecionadores para minha arte.
Esta aventura, sobretudo, inspirou-me para continuar a desenvolver-me enquanto artista e pintor, porque senti que com trabalho e dedicação consigo chegar mais além, não me restringindo à minha “zona”. Além disso, confirmou-me a importância de me manter ativo no cenário artístico internacional, continuando a alimentar minha paixão e determinação em levar minha arte para o mundo.

Quais foram as principais influências que marcam o teu percurso de artista plástico?

Sendo eu um artista autodidata no que toca à pintura, a minha primeira grande influência foi sem dúvida a minha Licenciatura e Mestrado em Design. Os conhecimentos que utilizo no meu dia-a-dia consigo transferi-los para a pintura, através da utilização de conceitos como, a cor, balancear o espaço e utilizar espaços brancos, composição, apresentar uma ideia ou conceito, ter a capacidade de procurar e gerar novas ideias.
A minha outra grande influência é estudo do trabalho e percurso dos artistas clássicos e contemporâneos, nomeadamente, J. M. W. Turner, Joan Mitchell, Kandinsky, Claude Monet, Ellsworth Kelly, Pantónio, Jadé Fadojutimi e Ian Rayer-Smith, entre muitos outros…

Se tivesses que referenciar uma obra tua, qual escolhias? Porquê?

De momento, escolheria as obras que estou a criar dentro da série Atlantic Whisperer, porque acredito que ela resume perfeitamente o meu desenvolvimento atual enquanto artista abstrato e a minha filosofia artística. São pinturas que à partida o conceito “Açores” já está definido, mas permitem continuar a desafiar o espectador a interpretar e encontrar o seu próprio significado.

És um dos artistas colaboradores da MiratecArts. Como é que esta entidade tem contribuído para a evolução da tua vida no setor artístico?

A MiratecArts tem sido uma plataforma incrível para o desenvolvimento e exposição do meu trabalho, além disso permite-me conhecer e conectar com diferentes artistas açorianos noutras partes do mundo. É uma entidade incansável, embaixadora da criação artística, ajudando dentro das possibilidades da associação o desenvolvimento de projetos pouco convencionais, mas importantes para expandir a nossa visão artística.

Projetos para 2024?

O meu principal objetivo em 2024 será explorar a pintura a óleo e desenvolver a minha aptidão técnica com este material.
Além disso, quero continuar a apostar numa estratégia internacional, em abril já vou estar representado numa feira em Berlim, além de duas exposições coletivas em Itália e Espanha no decorrer do ano. Já tenho também exposições individuais, nos Açores e em Portugal Continental.
E por fim, continuar a criar novas séries de pintura, tanto para ter um maior volume de trabalhos disponíveis, como para evoluir na minha identidade artística enquanto pintor.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Seja por hobbie ou profissão, continuem sempre com paixão e curiosidade, só assim temos a vontade de procurar novas formas de expressão. Para mim a arte é um idioma universal que tem o poder de conectar e transformar.


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