Crescimento e incerteza na emigração portuguesa

Em 2021 a emigração portuguesa iniciou a recuperação da queda abrupta registada em 2020, queda devida ao efeito combinado da pandemia de covid-19 e do Brexit. Pelo menos cerca de 60 mil portugueses emigraram em 2021, mais 15 mil do que no ano anterior. Globalmente, verificou-se uma subida de 33% em relação a 2020, mas a emigração é ainda 25% menor do que em 2019. Ou seja, embora voltando a crescer, a emigração não atingiu ainda os valores pré-pandemia (cerca de 80 mil indivíduos).
Esta tendência global teve correspondência na maioria dos destinos. Porém, em seis casos a recuperação está consumada tendo mesmo sido ultrapassados os números de 2019. Escandinávia e Benelux foram as regiões em que se verificou a ultrapassagem, dando assim sequência a uma progressiva e sistemática aceleração da emigração portuguesa para aqueles destinos ao longo deste século. Nestas regiões, um destaque: o dos Países Baixos, que estão em vias de se juntar à lista dos principais destinos da emigração portuguesa. Em sentido contrário, uma referência também a países como a Austrália e Macau, nos quais se mantiveram os obstáculos à mobilidade ainda durante o ano de 2021. Se a emigração para estes destinos era já reduzida, ficou, com a pandemia, praticamente residual.

A progressiva suspensão dos obstáculos à mobilidade internacional ao longo do primeiro semestre de 2021 explicará a retoma em alta da emigração. Uma mais rápida recuperação económica em Portugal explicará a menor amplitude dessa retoma e, portanto, o facto de a emigração ter ficado ainda abaixo dos níveis pré-pandemia. O que nos reserva o futuro próximo?
É ainda cedo para responder à questão que hoje ocupa muitos dos que estudam as migrações internacionais: terá sido a redução sem precedentes das migrações internacionais em 2020 um acontecimento pontual ou se estaremos perante o fim da era das migrações iniciada após a II Guerra Mundial. Estaremos hoje, com a crise pandémica e as suas sequelas, perante uma pausa longa na mobilidade internacional? As incertezas sobre o futuro da mobilidade internacional no pós-pandemia não só não desapareceram como foram agravadas com a eclosão da guerra na Ucrânia e os seus efeitos sobre as economias europeias, nomeadamente no agravamento da inflação pelas perturbações introduzidas no comércio internacional. Os números disponíveis não permitem ainda ultrapassar o cenário de incerteza e afastar de vez a possibilidade de estarmos no início de um processo de redução da mobilidade migratória. A emigração voltou a crescer, mas o ritmo desse crescimento abrandou. Abrandamento temporário ou prolongado? Saberemos a resposta dentro de um ano.

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