Empresas lusodescendentes
Um ativo estratégico por valorizar

Um país cria riqueza essencialmente de duas formas: pela exploração dos seus recursos naturais e através da atividade económica — e, quase sempre, são as empresas ou os empresários em nome individual os principais geradores dessa mesma riqueza. As empresas são o motor da economia, os centros de decisão, risco e criação de valor. Em Portugal, o foco incide — e com razão — sobre o tecido empresarial nacional. No entanto, há um universo ainda por cartografar e valorizar: o das empresas detidas por portugueses e lusodescendentes no estrangeiro.
Espalhadas pelos cinco continentes, milhares de empresas fundadas por portugueses ou seus descendentes têm contribuído decisivamente para as economias onde se inserem — criam emprego, desenvolvem produtos, geram inovação, formam quadros e pagam impostos. Porém, muitas destas histórias de sucesso enfrentam um desafio silencioso: a sucessão empresarial. A transmissão entre gerações, natural no plano familiar, torna-se complexa no plano empresarial. E quando não há continuidade — familiar ou profissional — a saída tende a ser a alienação a grupos estrangeiros.
Cada vez que uma destas empresas é vendida, Portugal perde uma oportunidade estratégica: a de partilhar dessa riqueza e reatar laços com comunidades que, embora distantes no espaço, continuam próximas na identidade. Não é uma questão de nostalgia — é uma questão de visão económica. Uma empresa que se mantém nas mãos de uma família portuguesa, ainda que radicada no estrangeiro, pode ser um elo ativo entre mercados, culturas e investimentos. É uma ponte viva entre comunidades e uma plataforma para sinergias com a economia portuguesa.
O problema da sucessão não se restringe às empresas familiares nacionais. As comunidades portuguesas no estrangeiro enfrentam o mesmo dilema, com agravantes: dinâmicas culturais distintas, desinteresse das novas gerações e, muitas vezes, a ausência de uma estrutura de apoio adequada. Ignorar esta realidade é desperdiçar uma reserva estratégica de talento, património e influência económica.
Estou convencido de que parte significativa do investimento estrangeiro em Portugal tem origem em comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Mas pouco se sabe, com rigor, sobre o seu real contributo. É imperativo estudar e mapear estas empresas “externas”: quantas existem, que setores representam, que volumes movimentam, que empregos geram, que inovações exportam, que vínculos mantêm com Portugal. É uma missão de diplomacia económica, de captação de investimento, de inteligência fiscal.
Urge, por isso, criar políticas públicas para apoiar a sucessão empresarial nas comunidades portuguesas, estimular o enraizamento institucional com Portugal e facilitar mecanismos de investimento cruzado. Racionalmente, será sempre mais fácil vender Portugal a quem tem nome português do que a um investidor sem raízes. Talvez ainda estejamos por descobrir que o contributo potencial destas empresas supera largamente o impacto do próprio PRR.




