Gabinete para toda a obra

Muitas vezes um gabinete de contabilidade mais parece um gabinete de psicologia, onde o cliente vem partilhar os seus anseios, as suas preocupações, os seus desabafos de temas que nada têm a ver com a contabilidade, fiscalidade, salários ou plano de negócios, mas sim sobre temas pessoais, familiares ou atualidades da nossa sociedade.
Um Lusodescendente de passagem por Portugal ficou admirado de ver tantos e tantas, inclusive várias associações, a manifestarem-se pela morte criminosa de um cidadão americano às mãos da polícia americana. No entanto, quando mais tarde regressou, não conseguiu entender porque essas mesmas pessoas não realizaram as mesmas ações quando um cidadão europeu morreu às mãos da polícia portuguesa. Ouvi o desabafo e não lhe consegui avançar com uma explicação.
Outro de passagem também por Portugal, notou que o português por vezes tem tendência a tratar melhor os estrangeiros que propriamente os portugueses e confessava que até evitava falar português para gozar da mesma atenção…
Outros clientes confundem o gabinete de contabilidade com um gabinete de “macumba”, pedindo toda a sorte de previsões sobre os seus negócios, sobre os seus processos fiscais, sobre o comportamento dos seus bancos, da Segurança Social e de outras entidades públicas.
Infelizmente, e apesar das minhas insistências, a Microsoft ainda não me enviou um hardware apropriado: uma bola de cristal, pelo que nesta situação privilegio o conselho do João Pinto: “Prognósticos, só no fim do jogo”. O ambiente atual é muito adverso a previsões e é difícil assumir cenários pelos outros e pelos quais não temos nenhum controlo.

Nestas andanças de contabilista, tenho-me apercebido que vários lusodescendentes, talvez por ingenuidade, olham para os bancos com boa fé aquando da sua passagem por Portugal, tendo sido várias vezes demonstrado pelos inúmeros casos na banca nacional que a cautela e a desconfiança protegem melhor os seus interesses.
Por outro lado, os bancos nacionais estão atingidos atualmente por um mal: compliance, o que torna quase impossível um banco olhar para um lusodescendente não residente com olhos de boa fé. Se este pretende trazer as suas economias para Portugal, defrontará provavelmente a compliance do seu banco que tem por hábito desenvolver este raciocínio: se tem muito dinheiro é criminoso, logo deve-se tratar de uma situação de branqueamento de capitais e não vai de modas, sem qualquer aviso, a conta é bloqueada e inicia-se um processo tortuoso. Estes departamentos dos bancos, pareceram sempre cegos quando os seus colegas e acionistas do banco, durante anos delapidaram o seu próprio banco, como aconteceu com a série de bancos que faliram em Portugal. Agora para mostrarem trabalho, infernizam a vida de quem se tem limitado a trazer divisas para o País. Um erro frequente cometido pelos lusodescendentes quando passam a residir em Portugal, é deixar de trabalhar com o banco que o tem acompanhado no exterior.
Apesar de tudo, em caso de dúvidas não deixe de falar com um contabilista certificado, não vá ele já ter uma bola de cristal…

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