Guilherme Rodrigues

© Nuno Martins

Nasceu em 1988 e começou a estudar violoncelo e trompete quando tinha sete anos na Orquestra Metropolitana de Lisboa e mais tarde no Conservatório Nacional de Música de Lisboa para estudar clássicos e teoria musical até aos seus vinte e três anos. Faz parte da editora Creative Sources Recordings, diretor musical da Hosek Contemporary Art Gallery e membro ativo da Reanimation Orchestra. Tem seguido uma carreira profissional na música desde 1997 e atua em concertos e workshops em toda a Europa e Ásia. Atualmente a viver em Berlim. Com uma abordagem intuitiva à improvisação e exploração dos timbres, utilizando tanto técnicas clássicas como extensivas, a sua música é excitante, polirítmica e cheia de contrastes. O seu trabalho sonda a fisicalidade do espaço em que a audição ocorre. A sua música, incluindo tanto obras acústicas como electroacústicas, tem sido descrita como delicada, intensa, concentrada e física. Para além do trabalho em conjuntos musicais que vão do clássico contemporâneo à improvisação livre, trabalha frequentemente com bailarinos. Tem criado música para teatro, rádio, televisão e cinema mudo.

A música foi um caminho natural, ou simplesmente influência familiar?

Sendo muito sucinto, quando nasci, em 1988, a música fora um dos primeiros feedbacks, muito por “culpa” da minha família – nomeadamente os meus pais e a minha tia. Aos 3 anos já tinha uma mãe que acabara de ganhar o festival da canção com o “em playback”, um pai que para além do braço-direito do Jorge Palma se aventurava por caminhos musicais fora do mainstrem (freejazz/improvisação) e uma tia de seu nome Lena d’Água. O caminho desde o “querer ser” até ao “sou” deu-se de forma natural, pois já nasci no meio!

Como aconteceu a escolha do instrumento? O que pesou na decisão de optar pelo violoncelo em vez do trompete?

Na verdade tive duas hipóteses de escolha – clarinete e violoncelo. Escolhi o violoncelo já não me lembro ao certo o porquê, mas provavelmente pela sua forma e cor. E foi também de forma natural. O trompete foi mais tarde e apenas por 2 anos.

Lançou mais de 50 álbuns de projetos próprios, já dividiu o palco com inúmeros bailarinos e músicos, faz parte da gravadora Creative Sources Recordings, é diretor musical da Hosek Contemporary Art Gallery, membro ativo da Reanimation Orchestra e ainda leciona. É de facto impressionante a produção musical do Guilherme. Os seus dias tem mais do que 24 Horas?

(risos) Bem, isso tudo está dentro dos 34 anos de vida que eu já levo às costas. Respondendo mais seriamente à pergunta, acho que há dias do ano em que efetivamente os dias me parecem maiores, mas noutras alturas acontece o contrário.
Acho que tem a ver com a quantidade de trabalho que se tem para fazer e também o nível de envolvimento mental para cada trabalho. Portanto, depende dos dias!

Em 2016 mudou-se para Berlim. Portugal ainda não tem uma cultura de música improvisada – não tanto em relação aos músicos mas sobretudo ao público?

Ora, a questão que se deve realçar neste tema é que, primeiramente, a “música improvisada” não é um
estilo mainstream. Portanto é uma música para minorias. E como o nosso Portugal é atrasado em muita coisa, a “scene” também demorou a assentar em Portugal, se bem que nos últimos 10 anos houve um crescimento exponencial no interesse do público, na curiosidade de muitos músicos que se descobriram e até de jovens empreendedores que abriram casas com vista em programações culturais onde este tipo de música se enquadra.

Tocou e gravou com Sebi Tramontana? Como foi esse momento?

Eu já conhecia o Sebi desde os meus 13 anos, quando nos cruzámos em concertos num festival na Áustria.
Em 2020 o Sebi teve uns concertos em Berlim e convidei-o para vir almoçar e tocar um pouco em minha casa. O almoço foi maravilhoso, feito pela minha ex-namorada e em jeito de homenagem, depois da produção e sugerido pelo Sebi, demos o seu nome ao disco – Jiae Han.

Já compôs para teatro, rádio, televisão e também cinema mudo. Qual a obra que destaca dentro das suas composições?

Na minha área e na cidade onde eu vivo, o universo musical a nível de composição é muito vasto. Hoje em dia temos composições que não têm nada a ver com a escrita tradicional clássica a que estamos habituados. Já toquei e fiz peças onde a partitura de interpretação era gráfica, outra com números e temporizador, outra com letras e palavras. E os resultados são fascinantes. Por vezes a simplicidade resolve muito coisa e poupa cabelos brancos! (risos) Mas destacar obras minhas, não será fácil. Considero cada composição minha em tempo real, especial.

© Nuno Martins

É importante conhecer bem os outros músicos ao tocar peças de improvisação livre, ou a experiência de cada um é suficiente para a descoberta e interação?

É esse um dos fascínios da improvisação livre. Ter a oportunidade de “conversar” em palco com outro
músico, em frente a uma audiência… Para além da coragem de “saltar na água fria”, temos que ter ferramentas (dadas pela nossa exploração sonora do instrumento) que funcionem bem e técnica aprimorada. E aqui entra outra questão. Ninguém te irá apontar o dedo se estiveres desinspirado. É um
conceito muito próximo do conceito de Liberdade.

Na dança dos instrumentos seja ela um trio, sexteto, ou simplesmente um dueto, nesse diálogo/conflito permanente como se desenrola a história?

Olhemos para um dia normal de um cidadão comum – Sai-se de casa para ir beber café, cruzamo-nos com o vizinho nas escadas, no café interagimos com outras pessoas, e assim a conversa desenvolve.
É o mesmo para mim e para nós improvisadores. Somos influenciados por tudo, desde os músicos que tocam connosco, às suas ações, ao tipo de luzes que há na sala, à proximidade com o público, imensas coisas. Fica difícil explicar ao certo como se desenrolará um trio ou um sexteto no contexto da improvisação.

© Nuno Martins

A sua obra tem sido descrita como delicada, intensa, focada e altamente física. Concorda com esta análise?

Uma vez mais, depende de com quem toco, mas sim, considero que esses adjetivos fazem parte de mim.

Como é atuar com o seu pai em palco?

É como jogar à bola com o teu melhor amigo!

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Todos os dias nos redescobrimos. Sigam sempre os vossos sonhos no que toca ao desconhecido. É aproveitar enquanto cá andamos. Força!

© Nuno Martins
© Nuno Martins

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