Inês Ribeiro

© Monique Sainz

Concluiu a Licenciatura Bietápica em Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, sendo Bacharel em Escultura e com um semestre de estudos na Guzel Sanatlar Facultesi – Akdeniz Universitesy, na Turquia, ao abrigo do Erasmus. Em 2007 ingressou no Cencal, nas Caldas da Rainha onde concluiu o Curso de Cerâmica Criativa com estágio profissional em São Pedro do Corval – Maior Centro Ibérico da Cerâmica. Em 2008 iniciou-se na carreira do Ensino das Artes Visuais, lecionando em Barrancos e Moura. Em 2009 mudou-se para São Miguel, nos Açores. Está ligada à Fundação Inatel, como formadora e à Associação Anda & Fala, promotora do Walk and Talk em projetos pontuais. Com um percurso de desenvolvimento criativo nas áreas da ilustração, cerâmica e impressão, a par com a educação através da transmissão de conhecimento, Inês Ribeiro foi a vencedora em 2015 do 1º prémio LabJovem, na categoria de Design de Cerâmica com a obra “Ceramic Postcard”.
Em Novembro de 2019 criou a Matéria 47.

Quando e como despertou o seu interesse pelas artes?

O interesse pelas artes acho que está presente desde que me conheço. Quando era pequena tinha fascínio pela materialização do pensamento… pensar uma coisa e ter capacidade de a fazer! Com 6 anos fazia fatos bem sofisticados para as minhas bonecas.
Quando percebi que era possível Inventar e Fazer, sempre me lembro de criar. Devorava papelarias e lojas que vendiam materiais e empenhava-me a sério a explorá-los. Nunca interrompi o trabalho criativo que com o tempo, se foi solidificando e me trouxe até onde estou hoje.

A Inês demonstra muita versatilidade na sua obra. Escultura, ilustração, cerâmica, pintura de murais, desenho. É uma necessidade criativa, a contínua mudança de materais e técnicas, ou é o momento que determina essa complementaridade?

Julgo ser uma questão de época com a variante das possibilidades do momento! O trabalho artístico é um percurso no tempo que se vai adaptando às circunstâncias do artista, estas dependem do trabalho que se está fazer na altura, do tempo, espaço e meios de que se dispõe.
Ás vezes também depende da proposta do promotor. O que acaba por acontecer é que as várias áreas se fundem. O trabalho da cerâmica também vive da ilustração.
Cada vez mais, tendo a misturar materiais e técnicas procurando abrir novas possibilidades, sobretudo dentro do processo cerâmico.

Como foi essa mudança de “artes e bagagens” para os Açores em 2009?

A mudança para os Açores aconteceu em outubro, quando já estava a viver novamente nas Caldas da Rainha, no nr. 13 da Ruas dos Artistas, como sempre. Estava já a trabalhar como professora no Bombarral pronta para mais um ano letivo…não foi o que aconteceu, afinal em fevereiro, tinha concorrido para o concurso de professores nos Açores! Fiquei colocada em São Miguel, num horário completo até final do ano letivo. Na escola onde estava não tinha horário completo e aceitei o horário em São Miguel. Convicta que estaria apenas por um ano, daí a 2 dias aterrei em Ponta Delgada. Foi uma surpresa ver a ilha do ar pela primeira vez (em 2 dias tinha construído uma imagem mental bem diferente!), foi surpresa perceber que o aeroporto, embora sendo pequeno, era um aeroporto incrível.
Enfim, essencialmente chegar a São Miguel foi uma grande descoberta.

Na sua obra está muito presente a mensagem, seja ela escrita ou não. Quais são os seus principais temas e objetivos?

Sou muito influenciada pelo que vejo, pelo que ouço, pelo que experiencio.
Por norma, a paisagem está presente e os 4 elementos também, seja através do próprio processo da cerâmica ou da própria representação. A influência dos elementos marinhos é inevitável e tenho-me dedicado a essa exploração com técnicas novas. Sobretudo, trabalho muito com conceitos, que represento através do desenho em composições únicas direcionadas a alguém específico. O objetivo é chegar o mais perto possível das emoções do outro utilizando a minha linguagem de trabalho. Há sempre mensagens a passar ações a tomar. Preocupa-me sobretudo a quantidade de coisas que se produzem e ficam no planeta… incluindo o meu trabalho. Então, procuro reduzir a utilização de matérias e materiais nocivos ou prolongar-lhes a vida através da reutilização. Trabalho frequentemente com itens reutilizados. Neste sentido, a cerâmica é a matéria perfeita, pode ter uma duração de milhares de anos. Este fator foi fundamental para me direcionar para o trabalho com a cerâmica.
Trabalhar o barro é em si uma mensagem de preservação de Saber e Tradição.
O objetivo é sempre inovar na infindável possibilidade que o saber permite.

Quais foram as principais influências que marcaram o teu percurso criativo?

A principal influência que marcou o meu percurso foi ter estudado numa escola onde todos os alunos eram superativos e faziam imensas coisas, criava-se espontaneamente a qualquer hora do dia ou da noite. E, eu viciei-me em ser assim e aprendi um ritmo de trabalho!
Através de trabalho continuo, consegui desenvolver uma linguagem e um método. A nível de influências é um misto de muitas coisas, que também passam pelas esculturas e padrões de Niki de Saint Phalle. Contudo, julgo que é mais importante a experiência social e a vivência.
Foi primordial o cruzamento com a Sandra Trindade que é ceramista e outrora fomos da mesma turma. Foi ela, (que tem e para mim sempre teve, um trabalho de excelência), que me introduziu à cerâmica, mostrando-me e explicando-me o básico. Passei a fazer as peças em casa e a levar-lhe para cozer, ao atelier onde ela estava. Estávamos, se calhar, em 2004/05!
Foi fundamental o estágio com o Mestre Oleiro Joaquim Tavares em São Pedro do Corval, aqui aprendi a técnica tradicional, com a sua necessidade de resposta de trabalho e técnica, sobretudo de roda de oleiro.
A influência é sempre tudo o que transportamos connosco.

O que é a Matéria 47 Arts & Crafts Atelier?

A Matéria 47 é um atelier de cerâmica com loja e é um negócio familiar, localizado na Rua Padre Serrão 47 – em Ponta Delgada. Sou a única que está a tempo inteiro no atelier, o meu marido Nelson está sobretudo ao fim de semana e a Maria Delmar, as mãozinhas de 6 anos produzem quase diariamente.
É um sonho pensado de muitos anos e uma coleção de material, equipamentos e saber também com muitos anos. A Matéria 47 é a Matéria de que são feitos os Sonhos, uma espécie de novo elemento da tabela periódica!
Tudo o que vendemos na loja é produzido por nós e de vez em quando aceitamos algumas encomendas, dependendo do trabalho. O espaço é ocupado diariamente por pessoas distintas com diferentes objetivos e quase todos os dias há novas fornadas a sair com trabalhos incríveis feitos por mãos locais e de todos os continentes do planeta, mãos pequenas e mãos grandes.

A formação faz parte da sua multipla atividade, com workshops, ateliers, oficinas, e que englobam todas as idades. O que lhe dá mais satisfação, ver uma criação sua, ou dos visitantes do seu Atelier? Essa interação com outras pessoas também são fonte de inspiração?

Como em tudo na vida, há sempre uma dualidade. Dá-me satisfação plena a minha criação, contudo, também me satisfaz bastante transmitir conhecimento e criar com o outro. As aulas ocupam uma fatia grande dos meus dias e sim, por vezes, tenho dificuldade em ter tempo e espaço para criar. Considero que as aulas são bastante enriquecedoras também para os meus próprios processos criativos, uma vez que, há sempre experimentação e desenvolvimento técnico a cada aula que dou, solidificando mais os meus conhecimentos. Fico muito feliz quando vejo os resultados dos meus alunos e alunas, quer tenham 6 ou 60 anos!

Podemos encontrar online, a atividade “Self Making Souvenir-Pintura de Azulejo”. Em que consiste esta experiência?

Esta experiência, pode ser agendada através dos vários canais de que dispomos online e tem como objetivo pintar um azulejo com a mesma técnica que utilizávamos há 100 anos na nossa azulejaria. É direcionada essencialmente para turistas, tendo também procura por parte de locais e continentais.
Inicialmente, é feita uma introdução à história dos azulejos a fim de se perceber de onde vieram e como chegaram a estas ilhas. Após isto, cada pessoa cria a sua própria mandala através de dobragem, desenho e recorte e, após seleção de cores, pinta-a num azulejo. Teremos tantos resultados diferentes quanto pessoas a fazê-lo. É um trabalho que nunca se esgota nos padrões criados. É uma viagem enriquecedora no tempo, que ensina a valorizar os azulejos e o saber ancestral através de uma experiência pessoal relaxante.
Após 3 dias, os azulejos podem ser levantados no balcão da nossa loja, consistindo numa memória muito bonita da estadia em São Miguel/Portugal.

E em que consistem as “Matérias de Verão, Oficinas de Cerâmica Criativa”?

As Matérias de Verão são Oficinas que acontecem anualmente em Agosto e são direcionadas para o público infantil e juvenil. São 4 oficinas distintas, duas por semana, cujo objetivo é ter um desafio diferente em cada uma delas. A cada oficina, os alunos, fazem e engobam o seu trabalho. Termino os acabamentos e tomo conta dos trabalhos até estarem secos. Após isto, cozem de chacota, vidro-os e cozem novamente de vidrado. São entregues a partir de um mês após a oficina.
Criam-se peças decorativas e utilitárias e o objetivo costuma ser comum. Os resultados são sempre objetos esteticamente bastante interessantes. O interesse pela cerâmica tem vindo a aumentar consideravelmente, em todas as idades.

É uma das artistas colaboradoras da MiratecArts. Como é que esta entidade tem contribuído para a evolução da sua vida no setor artístico?

A MiratecArts tem tido um papel muito importante para o desenvolvimento do meu trabalho, quer do ponto de vista da valorização do próprio trabalho através dos desafios que lança com regularidade quer através do trabalho de promoção que faz continuamente através dos seus meios, abertos ao mundo.
Já fiz muitos projetos com a MiratecArts… desde pintura mural, ilustração, cerâmica in situ na Galeria Costa, na ilha do Pico, oficinas para crianças…. São 11 anos de participações diversas com a MiratecArts, especialmente no Azores Fringe Festival e Festival da Montanha.
É fundamental que exista a MiratecArts, é uma inspiração para artistas e um motivo para criação.
É um orgulho fazer parte da MiratecArts!

Projetos para 2024?

Ora…o ano já vai a meio! É continuar sempre sem interromper a continuidade do trabalho. Pretendo ver resultados de algumas investigações que ando a fazer sobre compatibilidade de materiais e processos de adequação dos mesmos. Há sempre tanta coisa a aprender no mundo da alquimia cerâmica.
Projetos para além dos que tenho diariamente, há um projeto acerca da Natália Correia que ainda está na gaveta e a colocação no destino final, de uma obra já feita. Projetos pequenos vai sempre havendo o ano inteiro.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Persistir sempre! Só a persistência no trabalho poderá conduzir a um trabalho sólido e a uma linguagem constante e evolutiva.


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