Isabel Mateus
Transmontana de nascimento, Isabel Maria Fidalgo Mateus é uma escritora portuguesa, radicada no Reino Unido, desde 2001. Com uma vasta obra, é mais conhecida por abordar temáticas que incidem sobre o Portugal rural e as Comunidades. Tem livros traduzidos para inglês, francês e chinês. Licenciada em Português-Francês Via Ensino na Universidade de Évora, lecionou em Portugal durante 10 anos. Posteriormente, obteve o grau de doutora em Literatura Portuguesa pela Universidade de Birmingham, onde ensinou Língua e Literatura. Em seguida, conciliou ainda o ensino do Português na Universidade de Liverpool com a escrita ficcional e a investigação. Na atualidade, dedica-se exclusivamente ao velho sonho da escrita. O seu novo livro, a lançar durante este mês, é “O menino que queria ver a baleia-azul a passar nos Açores”, Prémio AnimaPIX – Conto 2021.
De Portugal para o Reino Unido. Como foi essa transição e já a incluiu na sua escrita?
Sempre que reflito na minha vinda para a terra da rainha também me lembro da emigração portuguesa para França na década de 60. De facto, vim reunir-me ao meu marido, que havia saído de Portugal à procura de melhores oportunidades, um anos antes, tendo trazido comigo o meu filho de cinco anos de idade. “Reagrupamento familiar”, valorização e realização são as palavras-chave desta aventura em que, como afirmo no poema “Pátria”, pretendíamos “Afinal, MUDAR de vida. Mudar a vida.”
A princípio não foi fácil, sobretudo para o meu filho, tendo este ingressado de imediato no primeiro ano da escola primária, sem saber a língua inglesa. Mas ajudou muito o facto de já termos a vida bastante bem organizada devido aos esforços empreendidos pelo esposo e pai. Eu trazia apenas uma licença sem vencimento do Ministério da Educação para realizar o sonho antigo de prosseguir os meus estudos na área da Literatura Portuguesa. Ainda nesse ano letivo de 2001/2002, ingressei na Universidade de Birmingham onde lecionei e obtive, posteriormente, o meu doutoramento em Miguel Torga.
Todos os meus livros foram escritos nesta grande ilha, e neles se nota uma certa influência anglo-saxónica tanto no tipo de escrita, como em alguns dos temas que abordo. “A Terra da Rainha – Retratos Portugueses no Reino Unido” (capa do artista Ricardo Cabral) é o livro em que mais se destaca a minha vivência daqui. Contudo, dedico partes de alguns dos volumes da Coleção Dos Bichos a este meu país de acolhimento.
Lembra-se como começou a escrever e o processo para a sua primeira publicação?
A escrita de ficção surgiu em virtude do meu percurso académico com a publicação do ensaio “A Viagem de Miguel Torga”, em 2007, tendo o livro a chancela da Gráfica de Coimbra, a mesma casa de edição em que Torga publicou todos os seus livros. Embora tivesse cultivado desde muito jovem a paixão pela leitura e pelas letras, foi somente após esta primeira publicação que a escrita veio para ficar e para me acompanhar de forma mais sistemática e mesmo obsessiva. Em 2009, tive ainda a oportunidade de publicar, através da mesma editora, a obra “Outros Contos da Montanha” (2009) cuja influência torguiana se revela logo no próprio título. Devo acrescentar que o apoio desta editora e distribuidora foi incondicional até à altura em que, infelizmente, fechou portas em janeiro de 2015.
Quais os seus livros que fazem parte do Plano Nacional de Leitura? O que quer dizer este selo para si?
O livro de contos da infância rural “O Trigo dos Pardais” foi o meu primeiro livro a ser incluído no Plano Nacional de Leitura. E confesso que esta distinção, quase no início da minha produção literária, me deu alento para continuar e, além disso, para fazer mais e melhor. Seguiram-se-lhe os três últimos volumes da Coleção Dos Bichos: “Santiago, O Lince da Herdade das Romeiras”, “Mariana, O Urso-Pardo Sábio dos Saltimbancos” e “Barbatus, Um Abutre Quebra-Ossos e os Outros”. No momento, sinto que este selo vale sobretudo pelo reconhecimento que traz à minha escrita bem como pela sua aceitação quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Como surgiu uma publicação em chinês/mandarim?
Tendo-me deslocado, em 2013, a Macau contactei o Departamento de Português da Universidade de Macau a fim de propor a eventual tradução para chinês de alguns dos meus contos. Como o desafio foi bem aceite, em junho de 2014 aconteceu a publicação da edição bilingue portguguês-chinês de “Contos do Portugal Rural” a qual constitui o segundo volume da coleção “Portuguese Insights”. No ano seguinte, pudemos contar, de novo, com a colaboração dos alunos do Curso de Mestrado de Tradução de Chinês e da coordenadora do projeto, a Professora Doutora Ana Cristina Alves. Daí, resultou ainda o terceiro volume da coleção com a publicação também bilingue de “O Trigo dos Pardais”. E eu tive a grande fortuna de me deslocar de novo a Macau, em 2015, para a apresentação desta última obra e para ter ainda a grande alegria de conhecer pessoalmente os alunos com quem tinha trabalhado e trocado impressões apenas virtualmente. As capas dos livros são do artista Carlos Farinha.
Como surgiu o conto “O menino que queria ver a baleia-azul a passar nos Açores”?
A minha participação na edição de 2015 do Montanha Pico Festival contribuiu em muito para me deixar invadir pela maravilhosa paisagem açoriana, pela amabilidade e pela genuinidade das suas gentes. Estava ali em representação de Trás-os-Montes com o livro “Outros Contos da Montanha”, e, pesar de constatar que existiam muitas semelhanças entre o Pico e o nordeste transmontano, onde eu nasci, houve uma diferença no seu passado histórico recente e na atualidade que me tocou e que, ao mesmo tempo, me aproximou dos seus habitantes: a caça à baleia e a posterior observação de cetáceos. E, mais uma vez, esta atividade me fez pensar que, afinal, são características comuns a ambas as realidades a pobreza do solo, a arduidade do dia-a-dia, o isolamento e, em consequência disso, a emigração para fora. Em suma, com esta história quis também assim homenagear o passado e o presente destas ilhas, que ainda não havia contemplado, através da minha escrita.
Há muitas escritas por publicar? E, que livro ainda não escreveu?
Sim. No momento, o meu objetivo é aquele de dar continuidade às temáticas que tenho vindo a abordar: ruralidade, biodiversidade e emigração. Pretendo, assim, escrever mais volumes da Coleção Dos Bichos (há um novo livro no prelo) e ainda um novo romance sobre migrações para breve.
Mais tarde, gostaria de experimentar o género dramático. O que vai ser, certamente, um grande desafio. Também me agradaria muito publicar outra vez poesia, visto que já tenho inclusive alguns poemas inéditos dispersos e mais inspiração para outros.
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