Karin Monteiro
Nascida na cidade do Cabo, em Africa do Sul, Karin de Villiers Monteiro é filha de um jovem médico emigrado da Alemanha, nos anos 1930, e de uma sul-africana de ascendência francesa. Passou a infância e a adolescência no norte da Namíbia. Em criança expressava-se já em três línguas: em casa, falava em alemão, com alguns dos seus amigos, em inglês, com outros amigos e pessoas nativas, em afrikaans, integrando no seu vocabulário palavras-chave dos hereros e dos bosquímanos, revelando desde logo uma educação enraizada numa multiculturalidade e diversidade identitária.
Completou os estudos secundários na Cidade do Cabo e ingressou, seguidamente, na Escola de Ballet do Conservatório de Música da Universidade daquela cidade, na qual frequentou, paralelamente, cursos de História de Arte, Pintura, Desenho e Literatura Inglesa. Fez um bacharelato em Política Africana e Estudos de Desenvolvimento.
Casou com um português, já estabelecido em Moçambique, e teve dois filhos. Viveu em Lourenço Marques (atual Maputo), entre 1956 e 1976, onde fundou uma escola de Ballet e frequentou, por correspondência, o curso de Belas Artes da Universidade de África do Sul. Foi no conturbado período de transição para a independência de Moçambique, entre 1974 e 1976, que Karin Monteiro começou a fotografar, tentando captar nas películas o leque de identidades que a circundavam e que, entretanto, se alargara vertiginosamente.
Durante longos anos trabalhou como repórter fotográfico, tendo colaborado com variadíssimos jornais, revistas e projetos editoriais, tanto no continente africano, como no europeu. Em 2012 retirou-se da vida de fotojornalista. Vive atualmente entre Moçambique e Portugal e dedica-se, entre outras coisas, a organizar o seu acervo fotográfico, hoje revestido de interesse histórico.
As imagens que aqui apresentamos correspondem precisamente ao período inicial da atividade de Karin Monteiro como repórter fotográfico (1974-1976). Elas foram a tentativa de captar as condições sociais e humanas do início da independência de Moçambique face ao governo de Lisboa, não deixando de refletir a diversidade, motivo sempre constante no olhar humanista que a fotógrafa tem sobre o mundo.
Em janeiro de 2024, Karin Villiers Monteiro contratualizou com a Câmara Municipal de Lisboa a doação, ao Arquivo Municipal, de um conjunto de 3330 negativos, em rolo de 35 mm, a preto e branco, referentes a um vasto levantamento que fez sobre a calçada portuguesa, nos anos 1980 e às suas primeiras reportagens fotográficas, feitas em Moçambique, comprometendo-se esta instituição a preservá-lo, inventariá-lo, digitalizá-lo e divulgá-lo.
O presente texto foi baseado nas informações cedidas pela fotógrafa, no âmbito do processo de doação da coleção fotográfica ao Arquivo Municipal da Câmara de Lisboa e de conversas que fomos mantendo à distância, para a elaboração do presente artigo, enquanto Karin Monteiro se encontrava em Moçambique.
Bruno Ferro