Lema d’Origem
Empresa associada do mês

Pode-nos contar um pouco sobre o seu percurso profissional do António Lopes antes de se tornar Diretor Executivo da Lema d´Origem?
António Sá Gué, é o meu pseudónimo literário, sendo o meu nome de batismo António Manuel Lopes. Nasci a 9 de outubro de 1959, na Freguesia de Carviçais, concelho de Torre de Moncorvo. Frequentei engenharia civil, curso que deixei a meio para ingressar voluntariamente nas fileiras do Exército Português. Passei pelos postos hierarquicamente mais baixos até ingressar no Instituto Superior Militar, curso que terminei em 1989 e permitiu-me ascender a oficial.
Enquanto oficial, a minha carreira decorreu com normalidade. Percorri todos os postos da carreira de oficiais até ascender a tenente-coronel, posto que neste momento detenho. Desempenhei as mais variadas funções de planeamento e direção dentro do Estado-Maior das diferentes unidades militares por onde passei e das quais destaco: Oficial de Operações, Oficial de Pessoal, Oficial de Justiça. Além dos cursos que frequentei para desempenhar as diferentes funções para as quais fui nomeado, frequentei, como qualquer oficial, os cursos obrigatórios para ascender na carreira militar e nos quais destaco: curso de Promoção a Capitão e curso de Oficial Superior. Ao longo da minha vida mantive sempre uma relação emocional com os livros e, em 2007, estreei-me com o meu primeiro romance, As Duas Faces da Moeda. Desde então tenho publicado diferentes obras, sempre na área da ficção que passam pelo romance, como já se disse, e pelo conto.
Tenho publicadas as seguintes obras:
As Duas Faces da Moeda; Papiro Editora, Porto, 2007;
Contos dos Montes Ermos; Editora ArtEscrita, Rio Tinto, 2007; 2.ª edição, Lema d’Origem, Valongo, 2010;
Fantasmas de uma Revolução, Papiro Editora, Porto, 2008;
Na intuição do tempo, Lema d’Origem, Valongo, 2009;
Ultreia! Caminho sem Bermas, Lema d’Origem, Valongo, 2010;
Fermento de Liberdade, Lema d’Origem, Valongo, 2011;
Quadros da Transmontaneidade, Lema d’Origem, Porto, 2012;
O MANCO – Entre Deus e o Diabo, Lema d’Origem, Porto, 2013.
Em Busca do Ser, Lema d’Origem, Lema d’Origem, Porto, 2014
O Hominídeo Humanizado, Lema d’Origem, Porto, 2015Reflexos de Mim, Lema d’Origem, Porto, 2018
Como surgiu a Lema d’Origem e qual a sua missão no panorama editorial português?
A Lema d’Origem nasceu pelo inconformismo do seu editor, neste caso, eu próprio. Depois de ter editado a minha terceira obra percebi que as editoras não estavam interessadas em divulgar os seus autores. Tudo era muito comercial. Dei-lhe mesmo um lema: “Autores Primeiro”. Perante este inconformismo só tinha dois caminhos: ou seguia o caminho que se me apresentava ou me transformava em editor. Fiz alguns cursos para perceber o mundo em que me ia inserir e assim aconteceu. A primeira obra editada foi da minha autoria, Na Intuição do Tempo, para ter a certeza que não cometia erros. Os primeiros anos foram de aprendizagem até as coisas se tornarem algo mais sérias. Consegui aguentar-me até hoje.
Como vê a evolução do mercado editorial em Portugal nos últimos anos?
Vejo-o com olhos de pessimista. Parece-me que os grandes grupos editoriais dominam o mercado, e assim continuará. As pequenas editoras para continuarem a existir terão de agarrar-se a “nichos de mercado” e, simultaneamente, procurar abrir horizontes em outras áreas do conhecimento, menos comerciais, mas importantes para o país. Eles, os pequenos grupos editoriais, estão condenadas a fazer praticamente um serviço público, publicando obras que, comercialmente, são menos rentáveis, mas muito importantes para o país.

Qual é o perfil dos autores que publicam com a Lema d’Origem?
Na área das ciências sociais e humanas poderei classificá-los como investigadores independentes. Ou seja, gente que pela força da profissão que desempenham ou desempenharam estão ligadas à cultura e fazem investigação muita de carácter local na área da história, antropologia, etc.
Na área da ficção procuro encontrar e dar voz àqueles que me parecem terem algo a dizer e não escreverem banalidades.
Como vê o impacto das redes sociais e das plataformas digitais na divulgação de livros?
O impacto é grande, sem dúvida, mas parece-me que pelo impacto que têm acabam por dificultar o surgimento de novos talentos. Explico: a quantidade de obras editadas anualmente são muitas, elas formam um teto de onde é muito difícil fazer sobressair este ou aquele autor. Ora, a multiplicidade de spots publicitários, todos muito apelativos, dificultam o surgimento de novos talentos. Parece um paradoxo, e talvez seja, mas é essa a minha perceção.
O setor editorial português pode aprender algo com mercados internacionais?
Não sei responder. Diz-me a minha intuição que não. O Mundo está de tal forma globalizado que as tendências sentidas em determinado ponto geográfico são imediatamente aproveitadas no outro ponto.
Quais são os grandes projetos da Lema d’Origem para os próximos anos?
Não tenho projetos definidos. O grande projeto será continuar a existir, mas sem perder esta ligação ao interior profundo. Nunca defini critérios editoriais, como já disse em várias ocasiões, esta linha editorial direcionada para o interior do país, a que chamam de baixa densidade populacional, que tenho vindo a seguir, não foi planeada, foi-me surgindo ao longo do tempo, resultante de ligações pessoais que fui criando, especialmente enquanto autor, mas também pelas ligações emocionais a estas terras – ligações que posso apelidar de genesíacas.
Existe alguma obra ou autor publicado pela Lema d’Origem que considera um marco especial para a editora?
Sim, creio que sim: a Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Creio que foi especial por aquilo que ela representa para nós portugueses. Há nela esse sentir português de algum aventureirismo. Há nela a busca de uma vida melhor que fez de nós um povo de emigrantes. Foi tão especial essa edição que quis fazer dela um objeto de arte, que creio o livro não ser, enquanto objeto, e convidei o artista Nuno Mendanha a criar trinta e três desenhos inspirados nessa obra universal.
Como sente a portugalidade? É um tema presente na sua empresa?
O tema está sempre presente, não por tentar defini-la, mas sim estudá-la. Se a portugalidade é a nossa memória histórica, não me faltam obras de história local e de personalidades locais que pesaram em momentos históricos do país, mas menos conhecidos. Se a portugalidade é a nossa cultura como elemento central de união, não me faltam obras de cariz antropológico e ficcional embebidas nesse caldo cultural português. Se a portugalidade é sentir a cultura profunda das regiões mais autênticas deste país, então não me faltam obras de cariz etnográfico. Se a portugalidade é perceber a cultura judaico-cristã que está na nossa origem e nossa forma de estar e ser, então temos muitas obras nesse teor. Se a portugalidade é descrever o mundo com um certo linguarejar, muito rico, que foge ao padrão, então não me faltam obras nesse campo.
A AILD está a criar uma rede internacional de pessoas que se vão poder interligar e colaborar entre si. Como vê este projeto e quais as vossas expectativas?
As expectativas são grandes. Pode muito bem ser um grande potenciador os nossos negócios. Nenhuma empresa cresce isolada, especialmente neste tempo de globalização, logo, estar em rede é a melhor forma de podermos crescer e de nos darmos a conhecer.
Tendo em consideração que esta entrevista será lida por muitos empresários espalhados por todo o mundo, que palavras deixaria sobre a AILD relativamente a esta plataforma global?
Nos momentos inicias da Lema d’Origem sempre achei que um projeto editorial como este, teria de estar inserido em associações de carácter cultural, por razões que me escuso a enumerar, mas que me parecem fáceis de concluir. Sou mesmo cofundador algumas dessas associações às quais a Lema d’Origem se mantém ligada. Essas associações estão vivas e desenvolvem atividade cultural anual. Apenas a título de exemplo falo do “PAN (Poesia e Arte na Natureza) – Encontro e festival Transfronteiriço de Poesia, património e Arte de Vanguarda”. Este festival realiza-se anualmente em Morille (Espanha – Salamanca) e em Vilarelhos – aldeia do Concelho de Alfândega da Fé. Outro exemplo com muito sucesso são os “Encontros Transfronteiriços do Património”. Anualmente estudamos o património de duas aldeias raianas, uma espanhola e outra portuguesa, publicando uma obra a que chamamos Cadernos do Património.
Neste sentido, penso que a AILD, é uma associação com muito potencial, saiba ela conglomerar toda a diáspora histórica do nosso país, e pode muito ser um motor de desenvolvimento para muitas empresas e até para o país.