Literacia em saúde

O termo Literacia em Saúde foi utilizado pela primeira vez em 1974 e desde então a sua evolução e importância tem sido de uma significativa relevância nas abordagens em Saúde.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013) “A Literacia em Saúde está ligada à literacia e implica o conhecimento, a motivação e as competências das pessoas para aceder, compreender, avaliar e aplicar informação em saúde de forma a formar juízos e tomar decisões no quotidiano sobre cuidados de saúde, prevenção de doenças e promoção da saúde, para manter ou melhorar a qualidade de vida durante o ciclo de vida.”
Por ser um conceito dinâmico com impacto multidimensional, o mesmo continua atualmente a ser alvo de análise e reflexão. Atualmente, é um tópico que envolve muitos intervenientes com capacidade para gerar transformações em sistemas de saúde e nas sociedades.
A Literacia em Saúde é uma questão transversal, que abrange desde os cuidados com a saúde à prevenção de doenças, até à promoção e proteção da saúde. A Literacia em Saúde prolonga a nossa vida útil, é importante quando estamos doentes, quando estamos em risco e quando tentamos permanecer saudáveis. Desenvolver competências e capacidades de Literacia em Saúde é um processo que se deve estender ao longo do nosso ciclo de vida.
A Literacia em Saúde em Portugal é problemática ou inadequada em quase 50% da população, pelo que o seu incremento é uma prioridade na sociedade atual, sendo necessária uma abordagem integrada envolvendo os cidadãos, os profissionais de saúde e os decisores políticos.

De acordo com estudos realizados na população portuguesa a prevalência de níveis baixos de Literacia em Saúde na população sénior, na população com baixo nível educacional e na população com baixo status social e com baixos recursos financeiros, é uma realidade, que urge alterar. Por outro lado, verificaram-se níveis elevados em populações jovens, com níveis superiores de escolaridade e com maior status social e maior capacidade económica. A necessidade de aumentar a Literacia em Saúde nos grupos mais vulneráveis, em que a interação mutuamente agravante entre problemas de saúde e o contexto social e económico, é vital, pelo que importa uma abordagem multissetorial e adequação das estratégias das políticas de Saúde, como forma de otimizar o bem-estar físico, mental e social e a qualidade de vida.
A promoção da Literacia em Saúde é crucial e está fundamentalmente relacionada com o desenvolvimento de competências pessoais tal como o aumento da sua capacidade para procurar informação e assumir responsabilidades que se repercutem na redução de riscos, na segurança e em ganhos de Saúde.
Se é verdade que é importante a propagação de fontes de informação sobre Saúde, muito mais importante é a qualidade, rigor e credibilidade das informações difundidas. Mitos ou Verdades? A informação em Saúde, disponibilizada através dos media, deve ser cientificamente correta, ética, fidedigna, relevante e compreensível para a população. Identificar e reconhecer fake news que constituem propaganda produzida deliberadamente com interesses específicos e oportunistas é um alerta indispensável, garantindo a segurança em Saúde. É fundamental produzir e transmitir mensagens credíveis sobre Saúde com qualidade o que implica baseá-las em evidências, pesquisas e estudos imparciais, em argumentos racionais, isentos e livres. Mencionemos como exemplos de fontes credíveis a Biblioteca de Literacia em Saúde do SNS (https://biblioteca.sns.gov.pt) ou a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) (https://splsportugal.com).

Capacitar os cidadãos para selecionar a informação, perante a diversidade com que os media a transmitem, desconstruir mitos e estereótipos, e poder aplicá-la nas suas decisões exercendo os seus direitos em Saúde, é o grande desafio.
A adoção de estratégias e de comportamentos promotores de Saúde, só são possíveis com a colaboração ativa dos profissionais de saúde, com um conjunto de medidas e procedimentos na prática das suas intervenções. O Programa de Literacia em Saúde e Integração de Cuidados, considerado uma das prioridades das políticas de Saúde, visa a integração de cuidados e a centralidade do cidadão no Serviço Nacional de Saúde (SNS) com serviços de saúde centrados nas pessoas que envolvam a melhoria da comunicação disfuncional, em que a simples adaptação da linguagem ao nível da Literacia em Saúde pode ser diferenciadora na sua intervenção, como informação de vital importância e de adesão aos cuidados de saúde. A Literacia em Saúde é uma competência profissional crucial para a saúde no século XXI e relevante para todos os profissionais envolvidos com a finalidade da melhoria da qualidade dos serviços prestados e da qualidade de vida da população em que a boa saúde relacional entre os profissionais de saúde e utentes é um imperativo e insubstituível.
É uma responsabilidade acrescida e desafiante para os profissionais de Saúde, inovar e integrar a Literacia em Saúde do cidadão como parte dos cuidados de Saúde, e é de vital relevância no movimento de mudança social com as novas conquistas da Literacia em Saúde. É desejável que o profissional de Saúde deva saber quando falar, o que dizer e como dizer. Deverá afirmar-se como fonte de informação primordial e privilegiada, utilizando linguagem acessível, assertiva, clara e positiva, disponibilizando informação simples, concisa, confiável, fidedigna e baseada na evidência. A comunicação eficaz requer conhecimento, competência e empatia e é a base em que assenta a Literacia em Saúde. É neste contexto que se iniciaram programas e diferentes atividades formativas nomeadamente nas Escolas Superiores de Saúde e nas Escolas de Ensino básico e secundário. Exemplos como o Curso de Comunicação em Saúde ou a Pós-Graduação em Literacia em Saúde, bem como a utilização de jogos e de livros dirigidos a crianças e jovens na promoção da Literacia em Saúde, de forma lúdica, até ao desenvolvimento e implementação de projetos artísticos no desenvolvimento de competências na relação com a Saúde, uma vez que a Arte é uma ferramenta única e privilegiada na promoção de uma maior Literacia em Saúde.

A Literacia em Saúde é extraordinariamente relevante e é igualmente de relevante complexidade, pelo que os debates sobre esta temática no que concerne a modelos, conceitos, promoção, comunicação, evolução digital e tecnológica deve ser entendida como uma dimensão fundamental na discussão da sua abrangência e aplicabilidade.
Planear é um desafio e uma necessidade determinante na Saúde, com impacto na qualidade de vida dos cidadãos. O Plano Nacional de Literacia em Saúde e Ciências do Comportamento 2023-2030 – Plano Estratégico (PNLSCC) surge no seguimento do Plano de Saúde (PNS 2030) do Serviço Nacional de Saúde/Direção Geral de Saúde (SNS/DGS) que tem por finalidade “Melhorar a saúde e o bem-estar da população em todo o ciclo de vida, através de um compromisso social para a saúde sem deixar ninguém para trás, preservando o planeta e sem comprometer a saúde das gerações futuras.” Neste Plano (PNS 2030), estão contemplados como objetivos estratégicos promover a Literacia em Saúde, dinamizar ambientes promotores da Saúde e promover a longevidade e o envelhecimento ativo e saudável.” O PNLSCC pretende contribuir para o aumento da Literacia em Saúde da população portuguesa, bem como a promoção de comportamentos saudáveis, em alinhamento com os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e sustentado na melhor evidência recolhida pelas Ciências do Comportamento. Assim, “A missão do PNLSCC é contribuir para a criação, implementação e desenvolvimento de ecossistemas para que todas as pessoas residentes em território nacional reconheçam as vantagens da adoção de um estilo de vida saudável, da navegação adequada no SNS e da importância da gestão da doença.”
Assumindo a crescente relevância da Literacia em Saúde, foram definidas pelo PNLSCC 5 linhas de ação futuras: Observatório da Literacia; Literacia em Saúde Digital e Inteligência Artificial; Plataforma de boas práticas; Avaliação da perceção de risco e mobilização social. Os eixos estratégicos para a concretização dos objetivos centram-se nas Boas Práticas em Literacia em Saúde; Análise e Avaliação de dados, informações, e comportamentos em Literacia em Saúde; Comunicação; Mobilização Social; Ecossistemas Promotores de Saúde e Políticas de Saúde.
Cidadãos mais bem informados sobre Saúde são cidadãos mais capazes de tomar decisões adequadas sobre a sua Saúde.
Mais Literacia, mais Saúde!

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