Mobilidade global e atração de talento

Como alguém que trabalha diariamente com imigração, ajudando as empresas portuguesas a trazerem legalmente os melhores talentos do estrangeiro para dar resposta às suas necessidades corporativas, acabo por refletir bastante sobre a questão da mobilidade global como forma de ter a pessoa certa, no cargo certo, no país certo. Passo a explicar.
O ritmo vertiginoso do desenvolvimento tecnológico e a digitalização cada vez maior de todas as coisas está a criar um gap entre as oportunidades de emprego para estas áreas e o número de profissionais qualificados para ocuparem as respetivas vagas. E isto não é apenas em Portugal. Estamos a falar de uma carência a nível mundial e, por princípio da eficiência, é necessário, por um lado, criar mecanismos de Recursos Humanos que permitam identificar quem são estes profissionais e onde os encontrar, como também desenvolver regulamentos legais que possibilitem uma circulação mais fácil e mais veloz destes talentos, onde quer que eles sejam necessários.
Do ponto de vista legal, pode pensar-se que este tipo de lei já existe em alguns países – no caso de Portugal temos o exemplo Visto de Residência para Exercício de Atividade Profissional Altamente Qualificada – criado justamente com a ideia de ser um tipo de processo mais célere e desburocratizado, para permitir a vinda mais rápida de profissionais das Tecnologias de Informação e Comunicação para o nosso país e dar resposta aos inúmeros projetos que todos os meses vão surgindo em milhares de empresas.
Contudo o sistema carece de uma atualização que permita retomar a celeridade deste tipo de processos, não apenas em Portugal, mas em todos países em que o mercado das TI esteja em peso e em franco desenvolvimento.

Se há alguma coisa que as tecnologias trouxeram foi um sentido de urgência e pressa quase constante, mudando não só a nossa forma de fazer as coisas – seja na vida pessoal, social ou profissional – como também, sobretudo, a nossa forma de as sentir e de as pensar. Mudou com isto a nossa exigência, e projetos que antes poderia esperar-se que demorassem oito meses, agora querem-se terminados em quatro. Tendo isto em consideração torna-se imperativo a conceção de procedimentos que permitam que estes profissionais contratados além-fronteiras possam ter os seus processos migratórios concluídos com maior grau de eficiência.
E não precisamos de nos restringir às áreas das Tecnologias de Informação. Vários sectores, desde a Engenharia e da Arquitetura, passando pela Restauração e Hotelaria, até ao Marketing e Design precisam de novas políticas que permitam esta migração global dos talentos espalhados pelo mundo, para dar resposta a projetos, inovar e trazer valor acrescentado para as empresas e para os países em que estejam inseridos.
O número de migrantes internacionais em todo o mundo continuou a crescer rapidamente nos últimos quinze anos, atingindo 342 milhões em 2018, ante 244 milhões em 2015 e 222 milhões em 2010. (Relatório de Migração da ONU 2018).
Vivemos numa era de mobilidade humana sem precedentes e isto exige novas abordagens por partes dos governos no que concerne às políticas de migração e de empreendedorismo internacional. Pascal terá dito que “o grande erro que podemos cometer uns com os outros, é excluir”. Unamos então os talentos do mundo para benefício de todo o globo, começando por pensar mais em Mundo e menos em Nação.

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