O que é o EMDR?


Esta forma de psicoterapia é em muitos aspetos diferente das chamadas psicoterapias tradicionais, mas também semelhante em alguns aspetos.
Mas antes de esclarecer o paragrafo anterior, quero começar pelo início… o que é o EMDR?
O EMDR é uma forma de psicoterapia, originária dos EUA que em 1987 teve o seu início com a Dr.ª Francine Shapiro, poderá encontrar os detalhes da criação do EMDR na página da Associação EMDR Portugal, https://www.emdrportugal.pt/emdr/historia-do-emdr/
Os resultados dos movimentos oculares bilaterais foram, deste o começo, muito impressionantes. Com uma redução substancial do desconforto sentido em relação a pensamentos ou memórias visuais.

A Dr.ª Francine Shapiro estando no meio académico na altura, conseguiu organizar um estudo comparativo para o tratamento da Perturbação de Stress Pós-traumático (PSPT) em veteranos da guerra do Vietname. Os resultados foram impressionantes, sujeitos com mais de 20 anos de sintomas de PSPT, tiveram remissão dos seus sintomas. Este estudo mostrou uma eficácia acima dos 90%.
Sendo o EMDR uma abordagem de Psicoterapia a sua aplicação em pacientes está vinculada a Psicólogos, e Médicos Psiquiatras. Outra característica desta abordagem de Psicoterapia é a sua estrutura metodológica de base, que é baseada em 8 fases.
A primeira fase é a Recolha da História e Organização do Plano terapêutico. Esta primeira fase é comum à maioria das psicoterapias, o que difere é no foco como a recolha da história da pessoa é feita.

Poderá existir um foco em uma situação traumática ou então um foco no problema que o paciente nos traz. Este foco vai ajudar a filtrar a informação e permitir que a recolha da história seja em função da dificuldade apresentada e assim recolher mais informação de qualidade e menos informação geral que não está no foco de mudança do paciente.
A segunda fase é a Preparação, esta fase envolve vários procedimentos comuns a outras psicoterapias, como o estabelecimento e reforço do vínculo terapêutico. Dentro desta fase também são esclarecidas as dúvidas que o paciente possa ter acerca do EMDR e efetuados exercícios de regulação emocional, já aplicando a estimulação bilateral. Esta aprendizagem, ou reforço, de regulação emocional é bastante importante para o paciente se manter dentro da janela de tolerância em termos emocionais.
A terceira fase é a Avaliação. Nesta fase o paciente começa a focar em uma das situações identificadas na fase de recolha de história e se procede a ativação dos 4 canais principais de reprocessamento; Imagem, Crença\Cognição Negativa, Emoção, Sensação Corporal associada ao evento traumático. Nesta fase, como preparação\ativação também se pergunta qual foi a pior parte do evento, e a partir daí seguimos para a fase 4.

O Reprocessamento, é a fase mais impactante e conhecida do EMDR, em que a pessoa, com o apoio da estimulação bilateral fornecida pelo Psicoterapeuta, revê os acontecimentos traumáticos, e ao mesmo tempo se mantêm no presente em ligação ao apoio do Psicoterapeuta. Esta é uma fase particularmente sensível, em que a sobre ativação pode ser re traumatizante ou a sob ativação não produzir a libertação da tensão corporal e emocional relacionada ao trauma. A presença do Psicoterapeuta em sintonia emocional com a pessoa faz com que seja um processo de partilha profundo em que muitas associações são feitas e muitas emoções são sentidas no corpo. Esta fase pode demorar desde alguns minutos a várias horas.
Quando o reprocessamento e\ou desensiblização estão terminadas, existe espaço para associar uma nova crença\cognição positiva e dar continuidade ao protocolo. A fase 5, que corresponde a Instalação da Crença\Cognição positiva é um tempo de estimular e reforçar as ligações neuronais adaptativas para a resolução do trauma. Esta fase também decorre com estimulação bilateral.

A sexta fase, e o Body Scan, ou sondagem corporal, serve para paciente sentir que o seu corpo está em sintonia com a crença positiva ativada anteriormente. Repetindo internamente a crença positiva e observando as sensações do corpo, conseguimos sentir relaxamento corporal total se o reprocessamento estiver completo. Este exercício permite aceder a sabedoria do corpo para validar ou não se o trabalho interno está completo.
Uma das últimas fases do protocolo standart é o Fecho. Nesta fase o cliente é informado acerca das possíveis reações, por parte do sistema nervoso, nos dias a seguir á sessão. Certas pessoas não têm quaisquer efeitos desagradáveis no pós sessão, mas outras podem experienciar pesadelos, sonhos vividos, sensações corporais, emoções ou outras memórias traumáticas. Ou seja, o nosso sistema nervoso pode continuar a reprocessar traumas por sí próprio. Esta possibilidade reforça a importância da fase 3, onde as estratégias de gestão emocional foram ensinadas ou reforçadas.
A fase 8, é a fase de reavaliação, na sessão seguinte deverá ser avaliada a estabilidade do paciente, e os avanços terapêuticos de maneira a ajustar as próximas intervenções de reprocessamento.
O EMDR é uma terapia muito focada nas mudanças fisiológicas do sistema nervoso, isso é manifesto nos vários estudos de imagem cerebral efetuados antes, durante e depois das sessões de reprocessamento.

Estes estudos encontraram mudanças na própria estrutura do cérebro.
Uma das hipóteses mais aceite na comunidade científica é a hipótese de competição na memória de trabalho, em que o estímulo aversivo \ memória traumática é colocado em paralelo com um estímulo monótono e relaxante. Segundo esta hipótese esta competição de estímulos faz com que a intensidade emocional deixe de ter espaço na memória de trabalho e isso transforma a sensação que a memória transmite. Este trabalho de retirar intensidade emocional ás memórias é algo que fazemos cada vez que vamos dormir e sonhamos. Os sonhos cumprem funções de aprendizagem, quer a nível motor, quer a nível emocional. Por isso, os sonhos podem ser muito vividos nas noites a seguir a uma sessão de EMDR. É o cérebro a fazer aquilo que está preparado para fazer e que na altura do trauma não conseguiu fazer.
Algo muito importante a captar são indicações terapêuticas, sendo o EMDR uma terapia focada em reprocessamento de traumas, naturalmente todas as patologias ligadas á ansiedade tem muitos bons resultado com o EMDR.

As pessoas com fobias também obtém um grande alivio com a terapia EMDR. Não que fiquem a gostar de cobras ou aranhas, mas as reações emocionais e corporais são bastante menos intensas.
Algumas depressões estão ligadas a traumas, como por exemplo acidentes rodoviários, incêndios ou a perda de entes queridos. Nestas situações o EMDR também pode ser uma forma de terapia bastante eficaz.
Com isto tudo, quem conhece algumas das muitas psicoterapias existentes atualmente, já começa a entender que o foco nas situações traumáticas e a utilização de um protocolo de tratamento standard em que a estimulação bilateral faz parte. São características distintas do EMDR. A utilização das capacidades naturais do cérebro em vigília para facilitar a reconsolidação de memórias durante o sono também é uma das características que fazem o EMDR diferir das restantes terapias faladas.

A aliança terapêutica e todos os pressupostos de segurança e empatia também estão presentes no EMDR, tal como um processo que ser um processo que pode demorar muitas sessões para estabelecer uma vivência psicológica saudável. Tal como nas terapias clássicas faladas.
A pratica do EMDR em Portugal é enquadrada pela Associação EMDR Portugal, que faz a acreditação das formações em EMDR e também a acreditação individual dos terapeutas. Assim, se decidir procurar um Psicoterapeuta de EMDR, encontrá-lo-á no diretório da Associação EMDR Portugal.

3 Comments

  • Laureny de Sá
    3 anos ago Reply

    Excelente artigo! Abordagem de um tema bastante complexo de forma clara.

  • Isabel Pinto
    3 anos ago Reply

    Obrigada ao Dr. Pedro Santos pelo artigo útil e elucidativo. Bem haja. Excelente terapia e maravilhosos terapeutas obrigada!

  • Hugo Paulino
    3 anos ago Reply

    Cada vez mais recomendado não é?
    Tenho estado aos poucos a estudar EMDR e começo a perceber que tem um potencial enorme. Grandes referencias no trabalho com Trauma ( Besser Van der Kolk, Gabor Maté, entre outros) falam com um enorme respeito deste trabalho.
    Vou continuar a pesquisar e vou guardar o teu artigo que me deu uma boa ideia de como é uma sessão.
    Obrigado Pedro!

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