Memória de Portugal

nos tempos da crise 2010-2014

A crise de 2010 a 2014 é História recente, que deixou feridas profundas em várias camadas da sociedade portuguesa, nas suas empresas, na economia e na demografia, no seio das famílias e de uma grande parte da população. Mas ainda assim, é importante, de tempos a tempos, recordar o passado para aprender como lidar com o presente e preparar-nos para um futuro mais próspero.

A crise económica em Portugal teve início em 2010, e em Maio do ano seguinte a Troika chega ao nosso país com um Acordo de Ajuda Financeira de 78 mil milhões de euros. Na sequência da entrada do Fundo Monetário Internacional, o governo português aplicou uma série de medidas de austeridade com o intuito de regularizar as contas públicas.

Algumas destas medidas passaram pela diminuição considerável do salário mínimo nacional, suspensão dos subsídios de férias e de natal na função pública, desapropriação de bens públicos (i.e 40% do REN e a venda dos CTT) e pesados aumentos do IVA, nomeadamente no sector energético. E estamos apenas a nomear as mais marcantes.

Os órgãos públicos começam a falhar, mas as consequências da austeridade tiverem também um vasto e desesperante impacto nas empresas do sector privado. Levou às contratações precárias, à promoção de sucessivos estágios não-remunerados de jovens recém-licenciados e gerou uma grande desconfiança dos investidores estrangeiros que deixaram de empreender em Portugal. Isto levou a um agravamento da economia, várias empresas declararam falência neste período e a taxa de desemprego alcançou valores preocupantes.

O ano de 2012, foi considerado o pico da crise tendo levado dezenas de milhares de jovens portugueses, entre os 24 e os 35 anos, a irem procurar melhores condições de vida além-fronteiras. Segundo os dados do INE nos três anos que a Troika esteve em Portugal, mais de 80 mil portugueses emigraram para os mais variados cantos do globo.

Podemos afirmar que o futuro do nosso país partiu, deixando Portugal envelhecido e sem suficiente mão-de-obra qualificada para poder elevar-nos de novo. Falou-se muito de como o sacrifício do povo luso permitiu uma “saída limpa” do FMI, sendo que apenas três tranches de 76,4 mil milhões de euros (dos 78 mil milhões acordados inicialmente) foram necessárias para nos resgatar da bancarrota.

Mas a verdade é que mesmo nos anos seguintes à saída da Troika, a evolução financeira de Portugal ficou mais lenta e a nossa demografia decadente. A recessão em 2012 alcançou o valor histórico de 4%, apenas superada pelos 5,1% atingidos em 1975, no período pós-25 de Abril e estima-se que nasceram menos de 10 mil crianças no nosso país, entre 2011 e 2015, como consequência da emigração dos nossos jovens, da incerteza e das fracas condições de vida dos que ficaram.

Em 2016, no entanto, uma promessa de mudança começou a surgir no horizonte. As instabilidades sociais e políticas vividas em outros países, os crescentes conflitos em várias partes do planeta, aliados à crescente popularidade turística e mediática de Portugal, tornaram-nos um país aliciante para pessoas de todo o mundo. Investidores estrangeiros recuperaram confiança para aqui arremeterem os seus capitais, alguns dos portugueses que tinham emigrado regressaram a casa e uma nova vaga migratória teve início.

Profissionais altamente qualificados, em carência para diversos sectores do mercado empresarial português, começaram a vir para Portugal com o intuito de aqui criar raízes, trazendo as suas famílias para se estabelecerem no nosso país ao mesmo tempo que as nossas empresas começaram a olhar lá para fora para encontrarem resposta às suas necessidades contratuais.

Por agora, fica a questão: teremos numa imigração flexível e sustentável, juntamente com a recuperação da economia, o remédio para as feridas deste passado tão recente? Ou teremos mesmo neste fluxo migratório uma resposta para a recuperação demográfica e para um crescimento económico sem precedentes e jamais registado na nossa história?

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