Pandemia e ambiente: Uma relação intrínseca
As consequências da pandemia no ambiente, sem que sejam duradouras, são evidentes, assim como o papel do ambiente no surgimento de novas pandemias.
A destruição da natureza e, em particular, a desflorestação e o tráfico ilegal de animais selvagens, poderão originar, num futuro próximo, o aparecimento de novas pandemias. É essa a convicção de um grupo de especialistas da associação Preventing Pandemics at the Source. As mudanças operadas no uso do solo são elementos facilitadores da propagação de novas doenças, pelo contacto mais próximo de humanos com outras espécies selvagens.
Estas são as conclusões de um estudo tornado público na revista Landscape Ecology. Na mesma linha, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) refere num relatório que, cerca de 70% das doenças, desde 1940 até à presente data, tiveram origem em animais, particularmente em consequência do aumento exponencial do consumo de carne e nas mudanças causadas pelos humanos na natureza.
Também a globalização é um agente facilitador da progressão das epidemias levando a que, rapidamente, se transformem em pandemias, como aconteceu com a Covid-19.
Se por um lado se notou alguma melhoria temporária na qualidade ambiental e na redução das emissões diárias de CO2, sobretudo nos centros urbanos, por via do confinamento e do fecho de atividades não essenciais, por outro, a pandemia criou condições para que a desflorestação aumentasse em várias regiões do globo (América do Sul, África e Ásia). Tomando por base os dados revelados pelo Global Land Analysis and Discovery, verifica-se que durante a pandemia, entre fevereiro e junho de 2020, os alertas de desflorestação aumentaram em 40%, 95% e 150%, nas regiões da América do Sul, Ásia e África, respetivamente, em comparação com a média do período homólogo de 2017 a 2019. Entre as principais causas para este avanço indiscriminado da destruição das florestas estão: a venda de madeira, a expansão da agricultura intensiva e a mineração a céu aberto, facilitadas pela diminuição das fiscalizações dos governos, que canalizaram as suas prioridades para o combate à Covid-19.
A percepção de melhoria momentânea provocada por esta pausa, evidencia-se em relatos de observação de animais selvagens a passearem nas artérias das cidades, em fotografias a mostrarem o céu limpo em locais, onde, anteriormente, a poluição era perceptível (Himalaias, por exemplo) e nas águas mais limpas do rio Ganges no norte da Índia e até nos canais de Veneza, em Itália. Mas isso não deve ser motivo para comemorações antecipadas e só comprova que, mesmo com grandes mudanças, os ganhos ambientais são, proporcionalmente, reduzidos. Ainda que exista a percepção de que alguns animais selvagens conquistaram novas áreas urbanas, a realidade diz-nos que, no cômputo global, o resultado é desfavorável para aqueles, se tivermos em conta o habitat perdido em consequência da desflorestação, dos incêndios e de outras agressões aos ecossistemas.
Durante esta pandemia, as emissões de CO2 diminuíram cerca de 5.5%, permitindo uma melhor qualidade do ar. No entanto, na perspetiva da ONU, nos próximos 10 anos, o mundo precisa reduzir, anualmente, para valores próximos dos 7.6%, ou seja, mesmo com estas restrições provocadas pela pandemia, a redução ficou aquém das expectativas. Todavia, num cenário de recuperação económica pós-pandemia, as empresas vão querer recuperar o que perderam neste período de restrições, pelo que se prevê que as emissões poderão aumentar novamente para níveis insustentáveis.
Os benefícios de uma menor poluição do ar são imediatos para a saúde da população. De acordo com a Universidade de Stanford, só na China, calcula-se que terão morrido menos 50 a 75% das pessoas devido às melhorias verificadas na qualidade do ar. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a má qualidade do ar, é responsável, todos os anos, pela morte de vários milhões de pessoas.
Importa ainda referir que, a pandemia está a ser aproveitada pelos dirigentes políticos para aprovarem de uma forma quase encoberta e envolta em nevoeiro, vários diplomas legais que irão prejudicar irremediavelmente o ambiente e empobrecer a democracia, numa fase em que as pessoas, estando em confinamento e sendo os ajuntamentos proibidos, não se podem manifestar.
Estas ações irão prejudicar os interesses colectivos das populações, em favor de interesses particulares e das grandes corporações. São exemplos disso, a assinatura de contratos de prospecção, pesquisa e exploração mineira, contra a vontade expressa das populações, e a nova lei das expropriações, que diminui os direitos dos proprietários sobre as suas propriedades e facilita os processos de expropriação. Estas situações terão grandes impactos sociais e ambientais.
Os impactes pandémicos notam-se também no aumento dos resíduos domésticos e hospitalares e nas máscaras abandonadas no ambiente, depois de usadas.
A história diz-nos que, durante as crises económicas e nos momentos de recuperação posteriores, as políticas de protecção ambiental tornam-se mais frágeis. Na ânsia de uma recuperação económica rápida, a humanidade regressará rapidamente a um consumo exagerado e à sobreexploração de recursos, que são as causas primárias para a degradação da natureza. Todavia, nem tudo será mau. Espera-se que haja alguma mudança nos hábitos de consumo e uma maior consciência, com mais pessoas a apostarem na sustentabilidade e na preservação dos recursos. Resta-nos a esperança nessa franja social, mais esclarecida e com maior consciência ambiental que, com certeza, tirará lições para o futuro e alinhará os seus padrões de consumo com as necessidades de preservação do ambiente e da saúde do planeta. Para a grande maioria, logo que esta imposição momentânea termine, regressa a “nova normalidade”, baseada nos velhos hábitos e, com ela, as graves consequências que nos trouxeram até aqui. E a história poderá repetir-se, outra vez.
Catarina Monteiro
4 anos agoEspero que o Mundo Acorde Rápido!
É Urgente Mudar Atitudes!
Precisamos Agir!
O Capitalismo Não É Verde !
Não às minas!💀💀💀
Sim à Vida!😊❤️🌳🕊️🍀🐞🌻🐝😽