Paulo da Costa
Paulo da costa nasceu em Luanda, Angola e cresceu em Portugal. Presentemente reside no sopé das Montanhas Rochosas em Calgary, no Canadá. Os seus trabalhos já foram galardoados com os prémios James H. Gray Award para o ensaio, o Commonwealth First Book Prize for the Canada-Caribbean Region, o W. O. Mitchell City of Calgary Book Prize para ficcao e o Canongate Prize para o conto. A sua ficção e poesia estão representadas em diversas publicações espalhadas por cinco continentes. Alguns desses trabalhos foram traduzidos para Italiano, Esloveno, Espanhol, Servo e Português.
Nasceu em Luanda, cresceu em Portugal, fez a sua circum-navegação pelo mundo e decidiu ficar a viver no Canadá. Foi por causa do seu encontro com o urso, que decidiu ficar a viver no Canadá? Já agora como foi esse encontro?
Esse memorável ataque do urso pardo acordou-me para as prioridades da minha vida, e para não mais adiar a concretização dos meus sonhos pessoais. No meu caso foi regressar à escrita após uma década de interregno, o que havia acontecido desde a adolescência. O encontro com o urso também aprofundou a minha apreciação do mundo natural e da necessidade urgente de preservação dos ecosistemas pristinos.
Quem é Paulo da Costa, o autor que está por trás das suas obras?
Um sonhador, um otimista. Amante da natureza e sempre à procura de crescer como ser humano.
De todos os livros que escreveu, qual aquele que lhe deu mais prazer ou que tem um significado especial?
Learning to Shave, Learning to Leave tem um especial significado, pois contém ensaios biográficos sobre as minhas experiências como pai. Através de conversas íntimas com o meu filho de quatro anos e documentadas ao longo de uma estadia de cinco meses em Portugal, essas narrativas oferecem reflexões sobre a paternidade, sobre o sentido de identidade masculina, enquanto família multicultural e multilingue.
Continua ligado a Portugal de alguma forma, e a Vale de Cambra em especial?
Com a minha família luso-canadiana visitamos Portugal anualmente para manter os laços familiares e linguísticos com toda a família alargada que sempre permaneceu em Vale de Cambra. É assim uma forma de transmitir esse legado e expansão cultural para as novas gerações, tanto lá, como cá.
Quando escreveu o premiado “Scent of a Lie”, demorou cerca de 1 ano a sua escrita, mas a sua publicação só foi possível 5 anos depois. Ainda sente essa dificuldade para a publicação das suas obras?
Ironicamente a dificuldade de publicação parece ter aumentado. Atribuo esse fenómeno, em parte, aos temas difíceis que abordo nas minhas obras. Parece-me que cada vez mais as editoras só apostam em obras de fácil mercado para agradar ao maior número possível de leitores, preferindo assim livros que não façam demasiadas ondas ou desafiem os seus leitores. Como eu não escrevo para agradar a mercados ou trabalho ao sabor dos temas que estão na berra, acabo por não ser uma boa galinha de ovos de oiro no mercado dos livros.
Quais os temas mais presentes na sua escrita e o porquê?
Interessa-me pesquisar as amarras culturais que nos fincam a portos seguros, mas diminutos, interessa-me compreender como podemos viver em comunidade respeitando e incentivando as diferenças, interessa-me explorar as limitações dos nossos códigos linguísticos na comunicação intra-pessoal, na procura de quem somos e de onde vimos.
Escreveu ficção, poesia, ensaios, antologias. Qual a forma literária com que mais se identifica?
Identifico-me com todas essas formas. São tipos de abordagem e linguagens distintas para explorar as nossas narrativas, para comunicar as nossas experiências interiores, assim como a forma de como vemos e interpretamos o mundo. Essas distintas formas literárias funcionam um pouco como quem domina diversos idiomas e se apercebe que cada língua tem os seus pontos fortes e menos fortes de comunicação e apreensão da realidade.
Considera o multilinguismo uma vantagem? Em que aspetos?
O facto de eu estar em contacto com perspetivas distintas de ver o mundo e de estar na vida enriquece-me e permite-me contemplar as minhas próprias limitações culturais e pessoais. Para quem tem uma postura de desejar crescer interiormente, o multiculturalismo é uma porta importante de exposição às muitas facetas humanas de estar e de viver.
Quais são os seus projetos para 2022?
Terminar o manuscrito de ensaios biográficos Learning to Shave, Learning to Leave, assim como encontrar uma editora que queira publicar o meu manuscrito de ficção que tem como pano de fundo a guerra colonial em Angola e a revolução dos cravos.
Pensa regressar a Portugal?
Visito Portugal anualmente e não me surpreenderia se um dia alargasse cada vez mais esse tempo que lá passo. Os meus filhos adoram Portugal.
Onde podemos comprar as suas obras? Em Portugal estão à venda?
Em Portugal os meus livros-papel só se podem adquirir através da Amazon. No formato digital e de áudio-livro também pela plataforma Kobo.
Qual é o seu maior sonho?
Contribuir para deixar um mundo melhor para as novas gerações.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
Dados os desafios de sobrevivência que atravessamos: desde as alterações climatéricas, as desigualdades sociais e económicas, até há ascendência das ideologias autoritaristas e totalitaristas, mais do que nunca o papel do criador artístico tem um relevo importante. Muito embora muitas disciplinas artísticas tenham sido relegadas para um papel mais domesticado, quer de entretenimento, quer de escapismo, penso que chegou a hora de mais artistas refletirem em como poderemos, através das nossas metáforas, imaginação, do nosso olhar crítico, ajudarmos na construção um mundo mais livre e mais justo para as próximas gerações.
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Entrevistado na revista Descendências | paulo da costa
3 anos ago[…] Esse memorável ataque do urso pardo acor-dou-me para as prioridades da minha vida, e para não mais adiar a concretização dos meussonhos pessoais. No meu caso foi regressar à escrita após uma década de interregno, o que havia acontecido desde a adolescência. O en-contro com o urso também aprofundou a mi-nha apreciação do mundo natural e da neces-sidade urgente de preservação dos ecosistemas pristinos. Entrevista completa aqui: https://descendencias.pt/paulo-da-costa/ […]
Manuela Marujo
3 anos agoA seriedade e honestidade de Paulo da Costa fascinam o leitor. Admiro muito o escritor e a pessoa que está por detrás da obra.