Porque as árvores também se extinguem

Quando se fala em extinção de espécies, associamos esse facto, muitas vezes, apenas às espécies animais. Todavia, há dados recentes que referem que o risco de extinção das espécies de árvores se encontra num nível muito elevado, sendo mesmo o dobro, quando comparado com as espécies animais.

O relatório “State of the World’s Trees”, publicado há cerca de quatro semanas traz, à luz do conhecimento, dados preocupantes sobre a situação actual em que se encontram as diversas espécies de árvores no mundo. As conclusões não são animadoras, antes pelo contrário. Em todo o mundo, cerca de um terço das espécies de árvores, encontram-se em risco de extinção e, algumas centenas, estão mesmo no limiar da existência. São cerca de 17.500 espécies próximas da extinção e cerca de 440 que já não chegam aos 50 exemplares vivos. Correspondem a cerca de 30% das 58.497 espécies de árvores conhecidas no mundo. O número mais elevado encontra-se no Brasil, onde 1.788 espécies se encontram em risco de extinção. Além das espécies mais ameaçadas na Amazónia (pitangas, mogno de folhas grandes, pau-rosa, entre outras), o relatório destaca, não só, algumas espécies endémicas do sudeste asiático, tais como os diepterocarpos e as magnólias, mas também, os ébanos, os bordos, as camélias, os áceres e, até mesmo, os carvalhos.
Este relatório, desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos, além de informar sobre o estado de conservação das espécies de árvores, pretende também funcionar como um grito de alerta sobre a necessidade urgente de se alterarem os paradigmas do consumismo e da conservação dos ecossistemas.


Como várias espécies desenvolvem relações de interdependência, a extinção de uma espécie poderá provocar danos irreparáveis noutras, não só nas vegetais, mas também nas animais.
Importa não esquecer o papel central desempenhado pelas árvores nos ecossistemas e a sua inquestionável importância no combate às alterações climáticas. Muitas espécies de insectos, mamíferos, pássaros e outros animais, dependem delas e, sem elas, teriam grande dificuldade de sobrevivência.
Entre as principais ameaças que as diversas espécies de árvores enfrentam, destacam-se: a agricultura, que, entre desmatação para culturas (29%) e para a criação de gado (14%), ocupa o primeiro lugar, segue-se a exploração madeireira (27%), habitação e outros empreendimentos comerciais (13%), os fogos (13%) e a indústria mineira (9%). Além destas, também as plantações de eucaliptos (6%) e espécies invasoras (3%) dão a sua contribuição. A lista termina com as consequências decorrentes das alterações climáticas (4%).
De notar que, devido à subida dos mares (uma das consequências das alterações climáticas), cerca de 180 espécies de árvores estão ameaçadas, particularmente aquelas que se encontram em pequenas ilhas e não existem em mais nenhum lugar.
Em África, 40% das cerca de 9.000 espécies, encontram-se ameaçadas. Também na Europa, uma região do globo com pouca diversidade arbórea, se regista um decréscimo preocupante de espécies endémicas, nomeadamente, das sorveiras-bravas e dos carvalhos. Em Portugal, tal como em outros locais do planeta, várias pragas e doenças estão a provocar graves danos a muitas árvores.

Além do carvalho, o mocano (que já foi declarado extinto nas Canárias), o cedro-da-madeira, o buxo-da-rocha, o loureiro-de-portugal e o marmulano, todos endémicos da Madeira e presentes na Floresta Laurissilva, são os que apresentam um estatuto de conservação mais crítico. Das mais de 100 espécies de árvores identificadas no território português, cerca de 9 estão ameaçadas.
Apesar dos dados preocupantes deste estudo, o mesmo ressalva que, até aos dias de hoje, apenas 31 espécies de árvores se encontram definitivamente extintas, valor que corresponde a cerca de 0,1% de todas as espécies de árvores conhecidas a nível mundial. Ao longo dos últimos 300 anos assistiu-se a um decréscimo das florestas

em cerca de 40%, a nível mundial. Em 29 países as perdas florestais foram na ordem dos 90%.
Este relatório veio dar um contributo preciosíssimo para o conhecimento do estado de conservação das espécies arbóreas a nível mundial, pois identifica com clareza, quais são as espécies, onde se encontram e porque estão ameaçadas.
A gestão florestal é complexa, se por um lado as populações precisam gerar rendimentos provenientes das florestas, por outro, estas precisam ser protegidas. É esse equilíbrio que precisa ser encontrado e, para que tal aconteça, serão necessários mecanismos globais para dar resposta a um problema, também ele, global.


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