Roménia
Por terras do Conde Vlad Drácula
A visita à Roménia poderá levantar algumas incertezas, sem dúvida que estamos perante um destino turístico invulgar, todavia a curiosidade aguça a alma do viajante.
A viagem prossegue até esta nação dos Balcãs, do Leste Europeu limitada por um conjunto de países, nomeadamente, Hungria, Ucrânia, Moldávia, Bulgária, Sérvia e banhada pelo Mar Negro. Uma análise etimológica da palavra Roménia, significa terra dos Romanos e antevê as influências de uma outrora grande nação Romana.
No ano de 513 a.C., o território atualmente conhecido como Roménia, seria habitado por um povo conhecido como os «getas», estes tinham como origem uma pequena tribo vinda da Trácia habitando a região que à época era conhecida como Dácia. A consequente expansão do império Romano tornou esta zona alvo de diversos conflitos armados entre tribos e as forças do imperador Júlio Cesar, que viria a falecer sem garantir o controlo desta região. A organização Romana prevaleceu sendo que apenas em 106 d.C, o imperador Trajano consegui estabelecer o controlo da região. A permanência dos romanos e consequente romanização, daria origem à língua romena. Todavia a queda do império romano e as sucessivas invasões de outras tribos fez como que administração romana, apenas dois séculos depois, tenham abandonado a região.
O período Medieval foi igualmente conturbado com diversas invasões dos Eslavos, Búlgaros e Magiares. Durante este período, foram criados diversos estados locais, sendo os principais Moldávia e Valáquia e Transilvânia, regiões sob controlo Turco-Otomano. Sucederam-se diversos períodos de soberania Húngara, culminando em 1699 com a integração no império Austríaco. Em 1877, a Roménia obtém a independência após uma longa disputa territorial entre Turcos, Romenos e Russos. No ano de 1981, é coroado o primeiro Rei Romeno Carlos I. O território romeno ainda excluído de algumas regiões, como Transilvânia, Bessarábia só após o fim da primeira Guerra Mundial, e consequente queda dos impérios Austro-húngaro, escolheram a unificação com a Roménia, resultando na denominada Roménia-Maior. Mas esta terra de conflitos não ficaria por aqui. Durante a Segunda Guerra, parte do território a leste foi anexado pela Rússia e a consequente invasão alemã levou a uma anexação Húngara, nomeadamente a zona da Transilvânia. Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Transilvânia regressou ao domínio Romeno, embora algumas regiões nunca mais tivessem sido recuperadas. No início dos anos 60, o governo comunista romeno conseguiu assegurar alguma independência da União Soviética, tendo elegido o último grande ditador Europeu Nicolae Ceausescu que só viria a ser derrubado por uma revolta popular em 1989.
A história conturbada da Roménia, poderá assustar o viajante mais inusitado, todavia a chegada à capital Bucareste via aeroporto Otopeni, transparece completamente o contrário. A capital romena longe dos traços comunistas, revela uma edificação europeia longe das congéneres do Leste. O espanto é tal que por momentos pensei estar em França e não estaria muito errado não fosse arquitectura da cidade influenciada pelo urbanismo Francês, tendo-lhe sido inclusive granjeado o apelido de “Bucareste – Pequena Paris do Oriente”. A vida em Bucareste é semelhante a qualquer cidade cosmopolita europeia; convido os viajantes a imiscuírem-se pelas ruas da cidade, repleta de jardins, fontes e pequenos estabelecimentos comerciais. Alguns estabelecimentos de recôndita entrada, escondem o esplendor de uma vista sobre a cidade. Recomendo efetivamente uma visita diurna e noturna a um bar panorâmico sobre a Bucareste, o por do sol sobre os telhados cobertos de metal são um verdadeiro espetáculo visual. Excluindo o centro histórico de Bucareste, falamos de uma cidade com uma dimensão considerável pelo que recomendo como meio de transporte preferencial, o uso de plataformas digitais, excluindo os táxis devido aos inúmeros relatos de problemas.
Parque Herastrau
Localizado a norte da cidade de Bucareste encontra-se o verdadeiro Oásis da cidade, o parque Herastrau foi construído no período de 1930-1936 em torno de um lago pantanoso. Em redor do lago, os jardins foram crescendo, servindo a população local para prática desportiva assim como um simples passeio. A viagem em torno do lago poderá demorar algumas horas, mas a cada abertura a vista sobre o lago é deslumbrante, para os mais aventureiros/românticos existem embarcações que permitem atravessar o lago. No interior do parque existe um jardim japonês que de certa forma nos transporta para aqueles parques coloridos de flores nipónicas.
Museu das Vilas – Muzeul Naţional al Satului
Nas imediações do parque Herastrau encontra-se o denominado “Village Museum” um dos mais representativos museus estenográficos da Roménia. De uma forma sucinta trata-se da recreação de habitações típicas «272 Habitações» de agricultores e famílias de toda a Roménia. Inaugurado no ano de 1936, esta recriação das habitações é obra do sociólogo Dimitrie Gusti tendo sido atribuído o seu nome ao museu. Este inusitado espaço é efetivamente imperdível, sendo possível observar diversos tipos de habitação e seus interiores, contemplando a forma invulgar como se vivia nas diferentes regiões da Roménia.
Palácio Mogoșoaia
Situado a 15 km dos limites da cidade de Bucareste podemos visitar o Pálacio Mogosoaia, trata-se de uma obra-prima de arquitectura bizantino romena. Construído em 1706 pelo governante da Valáquia Constatin Brâncovenau, viria albergar diversos elementos da família real. Neste museu poderemos revisitar a história das três regiões que deram origem à Roménia, nomeadamente: Transilvânia, Moldávia e Valáquia. Nas salas de exposição podemos compreender a arte militar por detrás das batalhas contra o império Otomano-Turco. Este palácio, revelou-se como uma verdadeira pérola escondida, caracterizado por uma arquitectura peculiar que contrasta com a vida repleta dos jardins circundantes. O jardim do palácio acerca-se de um lago repleto de vida que torna toda esta conjetura idílica.
Mosteiro Stavropoleos
Situado no coração de Bucareste, em pleno Séc. XVIII, foi edificado o Mosteiro Ortodoxo de Stavropoleos. O nome Stavropoleos é uma versão romena de uma palavra grega Stauropolis, que significa “A cidade de Cruz”. Atualmente, no local do mosteiro apenas podemos visitar a igreja de Stavropoleos construída após dissolução do mosteiro, todavia ainda é possível observar algumas edificações nomeadamente um claustro e um conjunto de pedras ornamentais que engrandeciam este monumento.
Palácio do Parlamento – Palatul Parlamentului
O Palácio do Parlamento, construído a pedido do ditador comunista Nicolae Ceasusecu, caracteriza-se por uma obra de extremos. Falamos do maior palácio do mundo, maior edifício administrativo do mundo que alberga os diversos órgãos políticos e governativos da Roménia. Por outro lado, representa um período de fome, opressão política e condicionamento da liberdade. Considerado uma obra onerosa, ainda no período de opressão, teve por diversas vezes os trabalhos interrompidos por falta de financiamento. De arquitectura moderna, destaca-se pela sua dimensão e localização numa das colinas da cidade. Recomendo uma visita, após o por do sol, nas imediações do palácio na praça Uniri, onde existe uma fonte devidamente iluminada que eterniza uma visão mais alegre para o atual palácio do parlamento. A cidade de Bucareste é uma verdadeira caixa de surpresas, caso disponha de tempo e disponibilidade, recomendo ainda visitas ao “Romanian Athenaeum”; “Parque Cismigiu”; “Basilica de Sfântul Anton”; “ Praça da Revolução” e “Biserica Sfântul Gheorghe Nou”.
Partimos de Bucareste rumo ao ex-libris de qualquer viagem à Roménia, trata-se da imprescindível visita aos castelos históricos. A viagem é longa através das montanhas dos Cárpatos, todavia a paisagem é sem dúvida recompensadora.
Sinaia – Castelo de Peles – Castelul Peleș
O castelo de Peles, situado nas imediações da cidade de Sinaia, no sopé de uma cordilheira montanhosa, é actualmente o segundo museu mais visitado da Roménia. O clima nos Cárpatos é instável, e à chegada a beleza do castelo sobressai no meio de nevoeiro místico. O cenário idílico transporta o viajante para um cenário que exalta a história, arte e natureza. O castelo de Peles, assemelha-se a um palácio e terá sido construído em 1873 pelo príncipe e futuro rei da Roménia Carlos de Hohenzollern. As filas para acesso ao interior são extensas, sendo apenas autorizada a visita em grupo e mediante guia. O tempo de espera até à entrada poderá ser aproveitado a observar os jardins circundantes magnificamente ornamentados com esculturas gárgulas, outras figuras mitológicas etc. O Castelo é caracterizado pelo número elevado de divisões; nele podemos poderá observar os entalhes em madeira, os candeeiros de cristal, assim como mobiliário da época usado pela realeza romena. O estilo arquitetónico de cada sala é único e assenta numa mescla de inspiração romântica, renascentista e gótica. Cada sala, apresenta uma temática própria e a sua decoração destaca as diversas influências preconizadas à época, nomeadamente, Mourisca, Turca, Francesa, Florença e Austro-húngara.
Brasov – Igreja Negra – Biserica Neagră
A cidade de Brasov, representa o coração da região denominada como Transilvânia, cercada por uma cordilheira montanhosa e é conhecida pela sua construção emuralhada. No seu interior podemos contemplar uma praça principal circunscrita por edifícios coloridos ornamentados de acordo com o estilo Barroco. Percorrendo a praça principal, vislumbramos a torre da famosa Igreja Negra, o seu estilo icónico gótico é inconfundível, e no seu interior destaco a maior coleção de tapetes turcos fora de território turco, assim como diversas esculturas.
Castelo de Bran – Castelo do Drácula – Castelul Bran
Localizado na antiga fronteira dos reinos da Transilvania e Valáquia, o Castelo de Bran, conhecido como o Castelo do Drácula é o mais popular monumento da Roménia. Edificado entre 1377 e 1388, o castelo terá servido como inspiração ao escritor Bram Stoker na criação de uma das lendas mais populares de todos os tempos, o Terrível Conde Drácula. A subida até ao castelo é intensa, o seu interior revela corredores estreitos que nos conduzem de sala em sala. No decurso da visita poderá observar numerosas peças de mobiliário medieval, assim como utensílios da época. Uma das salas é dedicada á lenda do Conde Vlad, o Empalador, e ao mito de Drácula, sendo que nela poderemos observar diversos objetos tenebrosos usados na tortura daqueles acusados de heresia.
A visita ao castelo do Drácula acompanhada de uma boa “história” deixa aberta a porta ao imaginário, a dúvida persiste será que o Vampiro Drácula existiu ou é apenas uma produção da ficção?
A Roménia, um destino desconhecido e longe da massificação turística, é sem dúvida uma agradável surpresa. Uma capital com uma história marcada por diversos conflitos armados, levar-nos-ia a pensar numa consequente frieza, mas não poderia estar mais enganado o povo Romeno é saudoso e sabe receber o viajante.
Visitem a Roménia e sem o receio de uma “Mordida Vampiresca”!