Sara Novais Nogueira

Palavra ao Associado AILD

Sara Novais Nogueira nasceu em Portugal. Licenciou-se em Educação de Infância (antes do acordo de Bolonha) e trabalhou como educadora/docente em Portugal. Instalou-se em Paris em 2012 onde trabalhou como educadora e como tutora de português na Universidade Sorbonne – Paris 4 onde, atualmente, está a finalizar o mestrado de Línguas, Literaturas e Civilizações Estrangeiras – especialização de português, com um trabalho de pesquisa sobre a presença da literatura brasileira e africana de expressão portuguesa nos manuais escolares de Portugal e a influência do mercado editorial nessa presença. Fez parte da comissão organizadora do Printemps Littéraire Brésilien. Participa em algumas conferências internacionais ligadas à literatura lusófona e à educação. Ligada ultimamente também à tradução, fez parte do grupo de tradução Esther e participa no projeto Mapas do Confinamento.

O que faz profissionalmente? Sempre foi a sua paixão?

Sou educadora de profissão e debruço-me sobretudo a questões vinculadas à docência, nomeadamente através de uma pesquisa em Mestrado (que penso finalizar este ano), onde interrogo práticas educativas e o peso do ensino da literatura na formação de leitores. A fomentação do gosto pela leitura nos mais jovens, de preferência desde a infância, deve prevalecer. A minha paixão sempre foi a educação e tudo o que a ela diz respeito e o facto de a poder coadunar com a literatura é, na minha opinião, essencial.

Para a Sara é portanto uma prioridade unir educação e literatura?

Para mim educação combina com arte. A arte da literatura na educação é, sem dúvida, o meu campo de estudo e é onde tenho investido mais o meu tempo por achar fulcral o incentivo à formação de leitores desde os primeiros anos de vida. E para que assim seja, é fundamental que pais, comunidade educativa e comunidade local estejam numa simbiose uníssona e que, como numa orquestra, todos juntos toquem a mesma melodia para que esta saia perfeita.
A criança é um diamante em bruto a ser lapidado desde a mais tenra idade.

Porquê ir viver para França?

O vínculo entre razões pessoais (aproximar-me de parte da minha família) com o interesse de conhecer a prática educacional do ensino do português como língua estrangeira na França, um dos países europeus que conta historicamente com a maior população de luso-falantes fora dos espaços da lusofonia e que desde os anos 20 investiu no ensino da língua portuguesa. Esse vínculo fez-me querer conhecer os contextos educacionais em França.

Pensa regressar ao seu país de origem?

Penso regressar, sim, mas não a curto prazo. De momento os meus projetos profissionais e pessoais estão direcionados para continuar a trabalhar e a residir em França.

O que mais gosta em Portugal?

O que mais gosto em Portugal, para além das paisagens e da gastronomia, das quais sinto muito a falta, é do nosso sol, da nossa luz, do nosso mar e do nosso convívio caloroso com os amigos e a família.

O que menos gosta?

O que menos gosto em Portugal é o facto de, às vezes, não darmos o devido valor ao que temos e a quem somos. Os portugueses deveriam valorizar-se mais. As coisas já estão a mudar nesse sentido mas há ainda um longo percurso a fazer, pois o legado ditatorial que tivemos no nosso país bloqueou bastante os portugueses, deixando isso nos genes. Há que mudar isso.

Porque se tornou associada da AILD?

Acho que devemos dar valor ao que é nosso e, assim sendo, desde que vim para Paris, sempre tentei promover a cultura lusófona, dar a conhecer aos outros aquilo que nos define. Tenho participado na organização de eventos ligados à literatura e fiz parte da organização, durante 4 anos, do Printemps Littéraire Brésilien, cujo mentor é o Professor Doutor Leonardo Tonus.
O convite para me tornar associada da AILD surgiu através do escritor Nuno Gomes Garcia que viria a proporcionar a junção daquilo que tanto me motiva e de poder trabalhar com uma equipa cujos objetivos são em comum e foi, assim, a simbiose perfeita para poder promover aquilo que sempre quis ao lado de uma equipa sólida e empenhada, cujos objetivos convergem todos para o mesmo interesse em comum: divulgar aquilo que é tão “nosso”. A missão, a visão e os valores da AILD refletem o mote do meu intuito e foram o fio condutor para querer trabalhar com uma equipa empenhada, dinâmica e séria e que desconstrói a ideia de Associação que tantas vezes tem uma conotação negativa aqui em França.

Quais os projetos que pretende desenvolver na AILD?

Como diretora do conselho cultural da AILD em França pretendo, acima de tudo, divulgar a cultura lusófona e dar a conhecer o que nos define, seja na área da literatura, na música, no teatro, no cinema, ou na fotografia.
O meu objetivo é promover e apoiar projetos ligados à cultura e dinamizar ações que vão de encontro com os nossos valores e dar a conhecer uma comunidade lusófona dinâmica e empenhada, nos mais diversos ramos, que contribuem todos os dias para a sociedade onde estão inseridos. E trazer, também, para França artistas lusófonos que possam mostrar-nos os seus trabalhos. Alargar a cultura da comunidade lusófona não só aos lusófonos mas, também, à comunidade local através da realização de colóquios, da promoção de livros de literatura lusófona, exposições, entre outros eventos.
A divulgação da literatura infanto-juvenil lusófona é, para mim, também um pilar fundamental e um objetivo a desenvolver.

Considera importante a nova rede internacional que a AILD está a criar?

É fulcral, nos dias de hoje, esta ligação. Cada vez mais a tecnologia se desenvolve e nós temos de ver isso a nosso favor e utilizar isso como um meio de nos unirmos, mesmo estando espalhados por todo o mundo. Assim sendo, a inovação e a partilha desta rede internacional é notável. É, sem dúvida, pertinente para criar uma ligação embrenhada em cooperar naquilo que nos une: a língua portuguesa.
Diferenciação, inovação, ética, empenho, rigor e cooperação são as palavras-chave que definem esta Associação. Fazia muita falta a França ter uma associação que se diferenciasse das demais. A palavra associação na França tem uma conotação nem sempre agradável e temos de desconstruir esse conceito. A jovialidade, a diversidade e qualidade de projetos que a caraterizam é fundamental e vem criar uma união basilar com toda a comunidade.

Uma mensagem para as comunidades lusófona.

Desejo profundamente que a comunidade portuguesa que vive em França continue a proporcionar aos seus jovens a continuidade com a língua, a cultura e a civilização portuguesa/lusófona.
Não deixem de ensinar diariamente a língua (e a cultura e civilização) lusófona aos vossos filhos. Isso deve ser um legado a manter. Reforçar os laços com a nossa língua mãe é manter viva a nossa língua.
Segundo Vygotsky “o ambiente social do indivíduo que utiliza a segunda língua como forma de comunicação influencia o processo de aquisição desta”.
Ao longo da sua vida, quer no ambiente familiar, quer na escola e no meio social, a criança desenvolver-se-á e adquirá competências culturais. Além disso, o facto de criar vínculos com pessoas de diferentes nacionalidades fá-la-á apreender de forma cognitiva a sua formação enquanto indivíduo ao longo da sua vida. A pluralidade cultural vigente e evidente nesta realidade globalizante que vivemos é cada vez mais fundamental para prepararmos as crianças para atuarem como seres sociais no mundo. E ensinar a língua portuguesa é, na minha opinião, prepará-las para enfrentarem o mundo.

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