Emigração e qualificação
Um mito recorrente sobre a emigração portuguesa afirma que há, hoje, um fenómeno novo: a maioria dos emigrantes que saem de Portugal seriam qualificados. O mito sustenta-se num facto – há uma maior percentagem de emigrantes qualificados do que no passado –, mas é duplamente falso. Primeiro, porque houve fluxos qualificados na emigração portuguesa desde, pelo menos, a década de 1960; segundo, porque a maioria dos emigrantes portugueses que hoje saem de Portugal continuam a ser pouco qualificados.
Nos anos 60, a emigração qualificada era relativamente invisível. Por um lado, porque envolvia um número muito reduzido de emigrantes, em termos absolutos, em consequência dos baixos níveis de qualificação da população portuguesa à época. Por outro lado, porque se dirigia, sobretudo, para as então colónias africanas, não aparecendo por isso nas estatísticas sobre emigração internacional. Porém, a dimensão deste fluxo mais qualificado ficou amplamente documentado com a chegada dos retornados a Portugal.
Neste século, tem crescido a percentagem de emigrantes com curso superior, refletindo, desde logo, o aumento da qualificação da população portuguesa.
Porém, em termos acumulados, a emigração portuguesa continua a ser pouco qualificada: em 2011, apenas 11% dos emigrantes portugueses a residir em países da OCDE tinham o ensino superior. Esta realidade é, em parte, o resultado acumulado da história, pois quanto mais recente é a emigração, qualquer que seja o seu destino, maior é a percentagem de qualificados.
Na emigração para os destinos europeus mais antigos da emigração portuguesa, a maioria dos novos emigrantes continua a ser pouco qualificada. Por exemplo, apenas 14% dos novos migrantes portugueses entrados em França em 2012 eram licenciados, percentagem que subia para 23% entre os imigrantes marroquinos e para 33% entre os argelinos (e 61% entre os chineses). Em contrapartida, a emigração para os novos destinos é mais qualificada. Por exemplo, em 2020, mais de 40% dos emigrantes portugueses a residir no Reino Unido eram licenciados.
No futuro, com o contínuo aumento da qualificação em Portugal, é provável um crescimento da emigração mais qualificada, uma vez que a probabilidade de um português licenciado emigrar é, como já foi calculado, cerca de quatro vezes superior à de um português com o ensino básico. O que não anulará os fluxos menos qualificados, mas se traduzirá numa maior heterogeneidade da emigração portuguesa.