Brexit

Quando estudamos a evolução da emigração portuguesa é importante identificar os fatores que estão na origem de mudanças nas tendências e padrões observados. Esses fatores podem ser internos ou externos.
Por exemplo, no plano interno, quando se observa a evolução da emigração num período longo, é evidente a relação entre esta e a evolução do emprego em Portugal. Em regra, quando a taxa de emprego sobe, desce a emigração, quando a taxa desce, sobe a emigração. Ou seja, a emigração representa, entre outras coisas, uma forma de escapar ao desemprego.
Tão importante quanto analisar os processos internos que alimentam as saídas do país é a identificação dos fatores externos que explicam a maior ou menor atratividade dos destinos da emigração. Esses fatores podem ser globais, como a crise iniciada em 2008 ou a pandemia da covid-19, ou específicos de um ou outro destino nacional da emigração. Nesse plano, um dos acontecimentos mais relevantes dos últimos anos foi o Brexit, que significou o fim da possibilidade de livre circulação entre Portugal e o Reino Unido.

Durante a crise das dívidas soberanas, o Reino Unido transformou-se no principal destino da emigração portuguesa. Em 2015, na ponta final da crise, migraram para aquele país mais de 32 mil portugueses, o que então representou quase um terço da emigração portuguesa total.

Em 2017, já depois do referendo que aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia, as entradas de portugueses baixaram para pouco mais de 22 mil, prolongando-se a tendência de descida até hoje: em 2022, o número de emigrantes portugueses que entraram o Reino Unido foi inferior a oito mil, um quarto do pico registado em 2015.
Em rigor, houve uma exceção à tendência de decréscimo: entre 2018 e 2019, o número de emigrantes portugueses registados subiu de quase 19 mil para mais de 24 mil. Mais do que novas entradas de portugueses no Reino Unido, este sobressalto deverá ser explicado pela regularização da situação de muitos portugueses emigrados naquele país, nas vésperas da consumação do Brexit (à semelhança do que, no mesmo ano, aconteceu com muitos britânicos a viver em Portugal). Os receios de um maior fechamento no pós-Brexit explicam não só as maiores cautelas com a regularidade da presença no país, como o reforço de proteção procurado com a naturalização como cidadão do Reino Unido. Entre 2015 e 2021, o número anual de aquisições da nacionalidade britânica por emigrantes portugueses passou de 422 para 2561, numa tendência sempre crescente.
O caso do Brexit ilustra bem, a contrario, as razões porque hoje a emigração portuguesa está tão concentrada nesse grande espaço de livre circulação que é a União Europeia.

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