Gulbenkian premeia activismo ambiental

O Prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de um milhão de euros, distingue, pessoas ou organizações que através da sua liderança têm dado um forte contributo para atenuar os grandes desafios que actualmente se apresentam à humanidade: as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Este ano, os contemplados foram três projetos de ativismo ambiental fortemente focados nas comunidades nativas. Esta quarta edição, presidida pela ex-chanceler alemã, Angela Merkl, foi a mais concorrida de sempre e destacou-se pela grande diversidade de projectos, tendo sido submetidas 143 candidaturas, provenientes de 55 países.
A maior parte das candidaturas partiu do hemisfério sul, talvez por se tratar da região mais explorada, com maior degradação ambiental, fortemente afectada pelas alterações climáticas e, onde as populações mais sofrem com as actividades das empresas exploradoras de recursos.
Importa destacar que nos três projectos premiados, existe um fio condutor entre eles – todos procuram envolver as populações na preservação do ambiente.
Os prémios recebidos por Bandi “Apai Janggut”, Cécile Bibiane Ndjebet e Lélia Wanick Salgado são o corolário de todo o seu percurso de vida na defesa do ambiente e as suas acções são verdadeiramente inspiradoras para outras pessoas e comunidades espalhadas pelo mundo.

Apai Janggut

Bandi “Apai Janggut” – O “guardião” da floresta contra o desmatamento ilegal

Bandi “Apai Janggut”, é reconhecido pelos seus pares como o “guardião” da floresta e líder da comunidade indígena Dayak Iban Sungai Utik Long House, situada na floresta tropical de Kalimantan, na ilha de Bornéu. Os últimos 40 anos da sua existência têm sido preenchidos no combate ao desmatamento ilegal das florestas para a produção de óleo de palma, além da oposição a outros interesses corporativos cujo modus operandi está relacionado com fortes impactes no ambiente e na qualidade de vida das populações.
Com a sua longa luta, Bandi “Apai Janggut”, conseguiu que o governo da Indonésia concedesse o direito de propriedade de 9 500 hectares de terra à comunidade Dayak Iban. O propósito é simples – preservar o legado dos seus antepassados de modo a poderem transmiti-lo nas mesmas condições aos seus descendentes. Honrar a terra como se honram os pais, é esse o seu propósito de vida. Do seu ponto de vista, a educação e a formação são a chave para a desejada sustentabilidade. O valor do prémio agora arrecadado será empregue na formação de recursos humanos de modo a capacitá-los para a preservação ambiental.

Cécile Bibiane Ndjebet

Cécile Bibiane Ndjebet – A defensora da igualdade de género e dos direitos das comunidades à floresta

Nas últimas três décadas, a camaronesa Cécile Bibiane Ndjebet tem-se empenhado na defesa da igualdade de género e no direito das comunidades à floresta e aos seus recursos naturais. Além de se ter envolvido no restauro de mais de 600 hectares de terra em estado de degradação, tem-se empenhado no sentido de influenciar políticas de igualdade de género na gestão das florestas em 20 países africanos. A sua acção compreende a proposta de políticas florestais para garantir os direitos das mulheres na posse de terras, na silvicultura e no maneio de recursos naturais, assim como a mobilização das mulheres das zonas rurais para o restauro dos mangais, ao longo da costa dos Camarões.

Lélia Wanick e o marido Sebastião Salgado

Lélia Wanick Salgado – A restauradora de ecossistemas e promotora da recuperação e da conservação ambiental


A ambientalista brasileira Lélia Wanick Salgado criou, conjuntamente com o marido, o famoso fotógrafo Sebastião Salgado, o Instituto Terra, cujo objectivo primordial se centra na conservação e educação ambiental e na reflorestação do Vale do Rio Doce, Estado de Minas Gerais, Brasil. Ao longo das últimas duas décadas e meia, com a colaboração de pequenos agricultores, foram responsáveis pela plantação de cerca de 3 milhões de árvores, tendo reflorestado mais de 2 mil hectares e recuperado cerca de 1,9 mil nascentes. Esta regeneração dos habitats proporcionou condições para o regresso de várias espécies de animais e o aumento da biodiversidade. Este projecto é considerado uma referência mundial no que ao restauro dos ecossistemas e à preservação ambiental diz respeito.
Que lição poderemos tirar destes três exemplos? Do meu ponto de vista, importa destacar o impacto positivo e significativo que pessoas ou instituições verdadeiramente empenhadas podem causar no meio ambiente que as rodeia e no restauro de ecossistemas degradados. As suas acções restauraram florestas, recuperaram recursos hídricos e o equilíbrio ecológico das regiões, além de contribuírem para a melhoria do clima, combatendo assim os efeitos nefastos das alterações climáticas. Parafraseando António Gedeão – “sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança”.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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