Paquistão

Vale de Hunza

A medicina natural, a medicina convencional e as terapias globais

Muito se tem falado dos tratamentos, diagnósticos, na necessidade de produzir remédios e vacinas. Pouco se questiona sobre as causas, as verdades mais profundas, mais ou menos idealistas ou realistas, aquelas com as quais parte da humanidade ainda não está preparada a enfrentar. Porque existem tantos idosos doentes em Portugal e noutros países, como em Itália e Espanha? Quem de nós não necessitou já – em situações agudas – de uma anestesia geral? De penicilina para curar uma amigdalite? Sem a medicina convencional, especialmente, a do Ocidente, não estaria a escrever este artigo. Também em algumas doenças crónicas, esta medicina nos tem valido e as deslocações ao médico de família, (que nome tão estranho para um técnico de aviar receitas no computador), continuam a fazer com que duremos mais tempo.
A questão que se impõe é esta: esse tempo é de qualidade?
Sim, eles aconselham a deixar de fumar, a fazer exercício, reencaminham para um colega nutricionista. Os médicos e as farmácias vivem de pessoas saudáveis? Também! Felizmente, encontramos médicos e farmacêuticos que nos «vendem saúde».
Sim: temos dentes caninos, apesar de não servirem, agora, para cortar carne crua, e não fora o consumo da carne não teríamos evoluído tanto na nossa robustez. Depois da 2ª guerra mundial e principalmente, a partir dos anos 60, o consumo diário e exagerado da mesma potenciou o aparecimento de doenças como o cancro e os acidentes cerebrais vasculares? As ideologias fundamentalistas e extremadas, assim como a ganância, cegam uns e outros e o bem comum e ficamos desinformados e confusos.
A medicina convencional alopática moderna e ocidental e as muitas medicinas tradicionais de várias e diferentes culturas orientais (agregadas hoje na designação de “alternativa”) precisam unir-se, comunicar, deixar de guerrear e extremar campos de batalha. Apenas assim chegaremos a uma «cura» com base em terapias globais, e globais em todos os sentidos: as que curam o corpo, o espírito e as quais pretendem chegar a toda a humanidade. Muito ambicioso? Uma questão de preservar a continuidade da nossa espécie?
Este artigo é sobre espreitar lá fora, com lupa. Então, cá vamos. Espreitemos:

Verdade ou mito?

O Vale de Hunza, onde, alegadamente se vivia com perfeita saúde e alegria até aos 120 anos faz fronteira entre a Índia e o Paquistão, e parece que ficou conhecido por “oásis da juventude”. Alegadamente – porque não regressamos no tempo, nem lá estivemos – ainda antes do Século XIX, os habitantes da região viviam até aos 110/120 anos, quase nunca ficavam doentes e aparentavam muita jovialidade. Uma pessoa de 90 anos podia parecer ter apenas 50.
Alegadamente, por volta de 1916, alguns ingleses atualizando o mapa da região, descobriram este pequeno reino invulgar, pensando encontrar o “Jardim do Éden”, aqui na Terra. Viviam lá cerca de 30 mil habitantes e falavam um idioma próprio (Burushaski). Os habitantes ficaram famosos por serem um povo feliz, simpático e ativo e com um denominador comum: sem sofrer doenças graves, nem problemas sérios de saúde.
De acordo com o médico escocês Mac Carrisson, que por curiosidade foi conviver com este povo durante sete anos, o segredo da saúde em Hunza residia na alimentação do seu povo, à base de cereais integrais, frutas (principalmente o damasco, considerado sagrado na região), verduras, castanhas, queijo de ovelha e o invulgar pão de Hunza, com restrições de calorias.

O pão de Hunza

Seria 100% orgânico, sem aditivos sintéticos (produzidos em laboratórios e derivados de petróleo), sem agro-tóxicos, nem adubos de síntese, (denominadores comuns em quase todos os produtos que hoje nos dão a consumir).

Jejum e atividade física

Os Hunza só faziam duas refeições por dia, sendo que a primeira acontecia apenas ao meio-dia. Passavam várias horas em jejum, dedicando-se a diversas atividades físicas. A carne não era totalmente cortada na dieta, mas consumida apenas em ocasiões especiais, e sempre em pequenas quantidades. Nas últimas décadas, porém, os hábitos ocidentais também lá chegaram e com isso a qualidade da longevidade degradou-se.
Mas os Hunzas, do Paquistão, não são o único povo que nos pode inspirar – a quem se quer deixar inspirar – com o seu exemplo.
O vale de Vilcabamba no Equador, tem uma tradição fortíssima de cura, continuando a ser um local de romagem para quem busca a cura. Aí, tradicionalmente, comiam principalmente quinoa, arroz e milho como também, muitas hortaliças e algumas leguminosas. A carne era só consumida esporadicamente e de animais silvestres caçados.
Talvez o mais conhecido exemplo seja a ilha de Okinawa, no Japão. Hoje, ainda continuam a levantarem-se de manhã cantando “o calor do coração impede o corpo de envelhecer”. A idade avançada, ali, é vista e vivida como um tempo de liberdade e independência.
Em comum estes grupos tinham (ou têm) um estilo de vida simples em contacto com a terra, recheada de muita atividade física diária, nomeadamente, devido a ocuparem-se da agricultura, caminharem, terem ritmos de trabalho que contam com muita cooperação entre a família alargada, em que os mais velhos são respeitados para o bem de todos, mantendo-se ativos, integrados e colaborantes. Por fim, vivem em zonas muito salubres, longe da poluição, com uma água de qualidade com muitos minerais e nenhum aditivo. E agora o caro leitor pergunta: vamos voltar às cavernas? E a ser pobres? E a comer comida desagradável? Também aqui podemos ser sensatos e curiosos sobre formas de cozinhar deliciosamente e sobre bio – construção. É sempre uma escolha nossa pesquisar e entrar em mundos desconhecidos até aqui.
Em boa verdade, nada que façamos de muito «acertado» ou cuidado, nos torna imortais. Mais saudáveis, em qualquer idade, talvez!

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