Mitos e factos nas migrações internacionais

A emigração é hoje um fenómeno com forte impacto na opinião pública. Jornais e televisões, para não falar das redes sociais, falam-nos de um mundo em que as migrações seriam crescentes e omnipresentes. Mesmo no campo académico, manuais de referência sobre o tema têm títulos como “A Era das Migrações”. E, no entanto, qual é a percentagem de emigrantes no mundo? Qual é a percentagem da população mundial que vive fora do país em que nasceu: 5, 10, 20 ou 40 por cento?
A resposta poderá surpreender muitas pessoas: menos de 5%. Ou seja, mais de 95% da população mundial é composta por indivíduos que não arredam pé do país em que nasceram. E esta percentagem não está em crescimento. Embora haja hoje mais migrantes do que nos anos 60 do século passado, isso deve-se ao crescimento da população mundial, não a uma maior proporção de migrantes nessa população, que se tem mantido constante. Primeiro comentário sobre estes dados: convém deitar um pouco de água fria nas proclamações incendiárias, apocalípticas, demasiadas vezes feitas a propósito do fenómeno migratório.
É certo que o que é verdade numa visão mais macroscópica pode ser enganador quando se muda de escala. De facto, sabemos que o fenómeno migratório é seletivo e concentrado.

Por exemplo, e segundo dados de 2020 das Nações Unidas, nos EUA, a taxa de imigração, ou seja, a percentagem de residentes no país que nasceu no estrangeiro, é de 15%, valor três vezes superior à taxa migratória mundial de 5%. No Canadá, sobe para 20%. Na Europa, países como a Suíça, Suécia, Áustria e Alemanha têm taxas de imigração da ordem dos 20% ou superior. No polo oposto, Roménia, Eslováquia, Bulgária e Polónia têm taxas entre os dois e os três por cento. Segundo comentário: países com taxas de imigração baixas estão entre aqueles em que mais longe se foi no discurso xenófobo anti-imigração, na maioria dos casos com tradução eleitoral relevante.
Portugal, com uma taxa de imigração de quase 10%, está mais próximo dos países do Leste europeu do que dos países continentais do Norte. Como está ainda mais próximo do Leste quando se olha para a taxa de emigração. Com mais de 20% da população nascida no país a viver no estrangeiro, Portugal é um dos maiores países de emigração na Europa, posição em que tem a companhia da Croácia, Bulgária, Lituânia e Roménia. O que sugere mais dois comentários. Primeiro, como em tudo o mais no mundo as migrações são muito desiguais e, portanto, sendo baixa a taxa global de migração, ela é elevada em alguns países, ora nas entradas (imigração), ora nas saídas (emigração). Pelo que o que não é problemático à escala global pode ter consequências relevantes à escala regional ou nacional. Segundo, a surpreendente inclinação a Leste de Portugal enquanto território migratório.

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