A insustentável obsolescência programada

Por norma, quando algo se torna obsoleto é porque apareceu um novo produto para o substituir, remetendo os modelos mais antigos para um estado de irrelevância e desactualização. Isto não acontece por acaso. Este processo de criação de necessidades constantes de substituição chama-se obsolescência programada e há uma intenção por detrás deste processo – a maximização do lucro.
A obsolescência programada socorre-se de várias estratégias para tornar um produto inútil e indesejado, levando os consumidores a adquirir os novos modelos propostos pelas marcas. As empresas usam este modus operandi para obterem lucros constantes e mais elevados através de lançamentos de produtos cada vez mais caros.
Algumas das estratégias usadas pelas marcas para atingirem a obsolescência programada passam pela durabilidade programada, obsolescência percebida, actualizações de software e entraves às reparações. Estas técnicas poderão ser usadas isolada ou simultaneamente. O objectivo final é apenas um – levar os consumidores a comprarem produtos continuamente.
Vejamos como cada uma destas estratégias poderá ser aplicada na prática:

Durabilidade programada – Neste caso, as empresas colocam, intencionalmente, nos seus produtos, peças não confiáveis que vão durar pouco tempo, porque sabem que os consumidores vão ter a necessidade de efectuar a substituição do equipamento completo.
Obsolescência percebida – Esta técnica assenta, em grande parte, na força do marketing. O seu produto até pode estar a funcionar bem e até cumpre com as suas necessidades, mas as técnicas aguerridas de marketing utilizadas pela marca vão convencê-lo a comprar o novo modelo – porque é maior, porque é mais cool, porque é mais potente, porque está adaptado ao 5G e à inteligência artificial e por uma panóplia de muitas outras razões.
Actualizações de software – Os equipamentos electrónicos necessitam de actualizações de software com alguma frequência, para resolver problemas de compatibilidades, segurança e melhoramentos tecnológicos, entre outros. As empresas servem-se da necessidade destas actualizações para criarem dependência nos consumidores. Com o tempo, acontecem várias situações indesejáveis, como por exemplo, uma maior lentidão nos equipamentos e, mais grave, o lançamento de novas versões de software incompatíveis com os velhos equipamentos. Em ambas as situações, mais tarde ou mais cedo, a solução passa pela compra de um novo produto.
Entraves às reparações – Várias marcas dificultam a reparação de equipamentos, argumentando muitas vezes que isso se deve a questões de segurança. Um entrave comum tem a ver com a necessidade de utilização de ferramentas especiais para abrir os equipamentos.

Não raras vezes, fica mais barato comprar um novo equipamento que reparar o antigo num técnico credenciado detentor dessas ditas ferramentas especiais. A título de exemplo, a substituição de baterias nos novos smartphones.
Para melhor entendimento sobre o que é a obsolescência programada importa fazer referência a alguns casos concretos, a saber: os cartuchos de tinta para impressoras, protegidos por chips inteligentes, que muitas vezes não permitem gastar a tinta até ao fim; as tendências de moda efémeras, assentes em materiais de baixa qualidade; a lentidão provocada intencionalmente pelas actualizações nos Iphone antigos, que lhes valeu uma multa milionária em França; a reimpressão de livros didácticos para os alunos das escolas com pequenas alterações efectuadas pelas editoras; a descontinuidade de peças para os automóveis mais antigos e a visão de um automóvel como um acessório de moda e status social.
Todas estas situações anteriormente referidas têm um único objectivo – a venda de um novo produto – e várias consequências ambientais.
Para concluir importa referir o seguinte: antes de trocar, antes de comprar, é importante pensar se o produto é mesmo necessário e se é durável. Em caso afirmativo, na hora de optar, dar preferência às empresas que cuidam dos seus clientes e do ambiente, em detrimento das que só pensam no dinheiro fácil e rápido.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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