Gentrificação verde

A revitalização de zonas degradadas das cidades englobada nas políticas de combate às alterações climáticas, tem conduzido, não raras vezes, à expulsão dos residentes dos seus locais de origem para as periferias e à sua substituição por outras classes sociais economicamente mais favorecidas e dominantes. Esse processo de mudança do mosaico urbano designa-se por “gentrificação”, um conceito criado pela socióloga britânica Ruth Glass no âmbito das alterações sócio espaciais operadas na capital inglesa – Londres – após a II Guerra Mundial. A partir da segunda metade do século passado, os antigos bairros operários londrinos passaram por um processo de valorização e reforma urbana que culminou na atracção de novos moradores mais abastados e no consequente afastamento dos seus moradores mais antigos, mormente, operários e imigrantes. Mais tarde, no início deste século, William Budd alargou o termo “gentrificação” à vertente da revitalização ambiental em áreas urbanas, passando a utilizar o termo “gentrificação verde”.

Se o princípio das intervenções urbanas assenta na promoção de práticas mais verdes e sustentáveis tendo em vista uma melhor qualidade de vida para as pessoas e consideráveis ganhos ambientais, o resultado, em termos sociais, acaba por ter efeitos adversos no agravamento das desigualdades. Por norma, as medidas de revitalização previstas nos planos municipais contribuem para a valorização económica das zonas intervencionadas através da construção de novas estruturas comerciais e culturais, organização de grandes eventos turísticos, melhoria das redes de transportes públicos, criação de novos condomínios fechados ou grandes áreas ajardinadas e parques que, por seu lado, contribuem para o aumento do custo de vida e da especulação imobiliária. Muitas vezes, os promotores das iniciativas verdes não conseguem prever nem têm em consideração os impactos dessas estruturas nos residentes social e economicamente mais vulneráveis. Perante isto, a mudança de perfil dos moradores acaba por ser uma inevitabilidade.
Porque favorecem o modo de vida das elites, pouco acessível ao comum dos mortais, os processos de “gentrificação”, grosso modo, e da “gentrificação verde”, em particular, são muito criticados pelos habitantes excluídos, por grupos ambientalistas e de defesa dos direitos humanos.

A “gentrificação verde”, sendo apresentada, frequentemente, como um processo fundamental para a valorização de determinadas zonas urbanas, não está imune a graves impactes ambientais, nomeadamente, ao aumento da poluição, ao crescimento urbano descontrolado e desordenado, à impermeabilização dos solos e à destruição da biodiversidade e da vegetação nativa, entre outros.
Sendo assim, o que pode ser feito para mitigar estas consequências? Em primeiro lugar, o planeamento das intervenções urbanas deve ser inclusivo, tendo em conta a realidade dos habitantes da zona a intervencionar. Por outro lado, devem estar incluídos planos para criação de habitação acessível para os moradores locais. Além disso, importa criar e manter espaços públicos de lazer, acessíveis a todos.
Para concluir, urge referir que, se os investimentos na sustentabilidade urbana não tiverem paralelo na justiça social e ambiental, resultarão, muitas vezes, em acentuadas e graves consequências socio-ambientais e em maiores desigualdades, daí a importância de um cuidado e justo planeamento das intervenções a efectuar no meio urbano, quer pelo sector público, quer pelos privados. Cidades mais verdes, sim. “gentrificação verde”, não.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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