Aquilino Ribeiro
“Alcança quem não cansa” – I Parte
Não me escasseiam as palavras para escrever sobre Aquilino Ribeiro. Escasso é-me o espaço…
Aquilino Gomes Ribeiro, filho do Pe. Joaquim Francisco Ribeiro e de sua criada, Mariana do Rosário Gomes nasce às 13 horas do dia 13 de Setembro de 1885 na aldeia do Carregal, concelho de Sernancelhe. Da primicial década de sua vida nos deixa testemunho numa das tábuas do seu políptico autobiográfico “Cinco Réis de Gente”.
Vai de seguida dar continuidade a seus estudos no Colégio da Lapa, onde ingressa a 11 de Junho de 1895 aí ficando até 1900. A segunda tábua autobiográfica a retratar-nos o seu adolescer em clausura surge-nos com o título “Uma Luz ao Longe”.
Seguem-se os estudos no Colégio da Roseira, em Lamego. “A Via Sinuosa” dá-nos esse ficcionado testemunho.
Em 1902 passa por Viseu a fazer Filosofia e em Outubro desse ano ingressa no Seminário de Beja, de onde é expulso em finais de 1903 por se ter revoltado contra a autocracia do prefeito, irmão do director, o Pe. Ançã.
Segue para Lisboa e inicia a sua carreira de jovem jornalista com colaboração em periódicos opositores ao regime monárquico vigente. Torna-se um fervoroso republicano e, das fileiras da maçonaria e da carbonária, seu braço armado, destaca-se no ebuliente ambiente revolucionário lisboeta pelo activismo político e pelo seu desassombro.
Em 1907, no humilde quarto na pensão da Rua do Carrião, ao manipular engenhos explosivos com o dr. Gonçalves Lopes e o caixeiro Belmonte de Lemos, uma explosão vítima os dois companheiros. Aquilino salva-se e é preso incomunicável na esquadra do Caminho Novo de onde se evade pelos seus próprios meios a 12 de Janeiro de 1908. É procurado por todo o país e, porém, está escondido a escassos 100 metros do Terreiro do Paço, na Rua Nova do Almada.
No dia 1 de Fevereiro de 1908 dá-se o regicídio que vitima o rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe. São principais autores o seu compadre Manuel Buíça e Alfredo Costa, abatidos no acto.
“Lápides Partidas”, “O homem que Matou o Diabo” e, de edição póstuma “Um Escritor Confessa-se” completam o referido conjunto de obras autobiográficas.
Aquilino foge para Paris, para o seu primeiro exílio (1908/1914). Matricula-se na faculdade de Letras da Sorbonne e insere-se no meio boémio de então. Em 1913, a editora Aillaud & Bertrad publica o seu primeiro título, “Jardim das Tormentas”, com prefácio de Malheiro Dias e capa de Anjos Teixeira.
A 28 de Fevereiro de 1913 casa com uma jovem estudante alemã, filha de um banqueiro berlinense, Grete Luísa Maria Tiedemann. Nasce o seu primeiro filho, em Paris, a 26 de Fevereiro de 1914, de seu nome Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro, futuro juiz conselheiro.
Com o eclodir da Grande Guerra, Aquilino e a família regressam a Portugal, onde desde Outubro de 1910 está instaurada a República. Aquilino dá aulas de Português, História e Geografia no Liceu Central de Camões, em Lisboa, até 1918, ano em que ingressa como 2º bibliotecário na Biblioteca Nacional, a convite de Raúl Proença. É director Jaime Cortesão. Em 1921 nasce a revista Seara Nova cuja direcção integra. A sua produção literária e jornalística dá-lhe renome no mundo das letras.
A Revolução de 28 de Maio de 1926 instaura a ditadura militar. No ano seguinte participa na revolta militar de 7 de Fevereiro, que visa repor o regime constitucional de 1911. Aquilino é destituída das suas funções na BN e vê-se compelido ao 2º exílio, em Paris.
Entretanto, sua esposa adoece com a pneumónica. Aquilino regressa clandestino a Portugal a tempo de presenciar o seu falecimento.
Em 1928, no decurso da Revolta do Castelo, Aquilino é de novo preso, em Contenças, Mangualde e conduzido ao presídio militar do Fontelo, conjuntamente com o seu amigo Dr. António Gomes Mota, médico, natural do Freixinho, Sernancelhe. Evadem-se rocambolescamente menos de um mês depois, fugindo a pé para Soutosa na noite de 15 de Agosto, dia da romaria da Sra. da Lapa.
Aquilino parte para o seu 3º exílio, em Paris, o qual durará até 1932 e no decurso do qual mantém uma intensa actividade política com outros revoltosos exilados.
Viúvo, casa em segundas núpcias, na capital francesa, com Jerónima Rosa Dantas Machado, filha do presidente da República também exilado, Bernardino Machado. Nasce o segundo filho, Aquilino Ribeiro Machado, em Beyris, Bayonne, 1930. Engenheiro de profissão, virá a ser o primeiro presidente da Câmara de Lisboa, pós 25 de Abril de 1974.
Em 1932 dá-se o regresso à pátria, tendo Aquilino sido amnistiado.
Escrevi na revista “aquilino” o texto que segue:
“Os exílios de O Homem que Matou o Diabo”
Aquilino não foi afeiçoado à brandura cortesã dos salamaleques sedosos das tertúlias inconsequentes. Agreste como o planalto da Nave no pino do Inverno, rijo como o milenar granito musgado dos penedais da Lapa, tão atrido no seu interno ‘Jardim das Tormentas’ quanto prenhe da mais debordante liberdade na sua ‘Via Sinuosa’, Aquilino cai nos seus braços para e tão a seu jeito, súbito, agir marcialmente pela sua causa, contra toda a tirania, desigualdade, opressão… as ‘Lápides Partidas’.
Fê-lo contra a monarquia decadente e torcionária nas mãos de João Franco tombada de 1906 a 1908. Fê-lo contra os repressores da Iª e da IIª República.
Nesta sincronia de 1908 a 1932, nestes 24 anos de intensa vida, Aquilino passa mais de um terço deles afastado de sua terra, forçado a um exílio distante, degredado de seus afectos. E porém, ‘matar o diabo’ é exorcismo e expressão que bem se lhe molda aos actos, nos modos e na sua porfiada luta até ao final, em 1963.”