Marta Pereira da Costa

© Maria Rita

Marta Pereira da Costa é uma renomada guitarrista portuguesa, reconhecida pelo seu talento único na interpretação da guitarra portuguesa e pelo seu papel na preservação e inovação do fado. Ao longo da sua carreira, Marta conquistou destaque internacional, levando a sua música a palcos de vários países e colaborando com artistas de renome, tanto em Portugal quanto além-fronteiras. A sua abordagem combina tradição e modernidade, proporcionando interpretações emocionantes que encantam públicos variados. Além de performer, Marta é uma dedicada divulgadora cultural, que promove a riqueza da música portuguesa e contribui para o seu reconhecimento global. Marta é Recipiente do Prémio Instrumentista, Fundação Amália Rodrigues, e o seu segundo trabalho discográfico, “Sem Palavras”, recebeu o Prémio de Melhor Instrumental com o single “Dia de Feira”.

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Quem é a Marta Pereira da Costa, para além de uma das mais talentosas Guitarristas portuguesas?

Para além de guitarrista, sou mãe de gémeos, de 16 anos. Ser mãe era o meu maior sonho e é o mais importante e mais gratificante da minha vida. Sou desde sempre uma maria-rapaz, adoro desporto, não posso ver uma bola :), adoro futebol, sou benfiquista ferrenha :), adoro padel, Yoga, adoro ski aquático, adoro o mar, é a olhar para o mar que me sinto feliz. Gosto de guiar. Sou apaixonada por viajar cá dentro e conhecer Portugal e dar Portugal a conhecer aos meus filhos e amigos que nos visitam. A melhor experiência que tive em família foi fazer uma roadtrip com os meus filhos numa autocaravana.
Gosto muito de viajar pelo mundo, e sou uma privilegiada por o meu trabalho permitir isso. Adoro conhecer bons restaurantes e as várias cozinhas do mundo, gosto muito de cozinhar e receber os meus amigos em casa, juntar pessoas, antes e depois de viajar. Gosto muito de aprender, tudo. Por mim aprendia música a vida inteira. Gosto de ir a concertos, conhecer outros músicos e fascinar-me com os seus talentos, em momentos de partilha. Sou uma pessoa apaixonada pela vida.

Como e quando se deu esta ligação com a Guitarra Portuguesa?

O meu pai é o grande responsável: é um apaixonado por Fado e pela guitarra portuguesa e gostava que eu aprendesse. Tive a minha primeira aula com o guitarrista Carlos Gonçalves. Uma pessoa tão importante na história da guitarra portuguesa, autor da “Lágrima”, acompanhou a Amália Rodrigues vários anos. Um privilégio ter tido contacto com ele. Foi aí que começou o fascínio pela guitarra e o interesse em aprender tudo, as guitarradas, os fados, conhecer os guitarristas, e fadistas. Foi na guitarra que comecei a compor e foi através dela que descobri como me exprimir. Levo-a para todo o lado comigo.

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Sendo um instrumento de elevada exigência física, como tem superado as lesões por um lado e por outro manter um elevado ritmo de treino para conseguir atingir o nível que alcançou?

Depois de muitos anos a tratar várias lesões, percebi que tinha que trabalhar na minha condição física e fazer prevenção e manutenção de forma regular para tentar proteger-me das lesões. Sempre tive muitas lesões, mesmo no desporto e tem a ver com a minha estrutura física. Percebi que tinha mesmo que ter esse cuidado de prevenção. Faço sempre alongamentos antes dos concertos, confesso que no final também deveria fazer, mas acabo por me esquecer e ir receber as pessoas que querem falar comigo. Sou acompanhada pela Fisiogaspar, onde tenho sessões regulares de fisioterapia e ginásio complementar. Desde aí que tenho tudo muito mais controlado. Também são importantes períodos de repouso. Às vezes o esforço exagerado pode ser contraproducente. Fui aprendendo com os anos a fazer essa gestão e a procurar a melhor ajuda. Toco muitas horas diárias e passo o dia com as unhas postas. Por vezes tenho que trabalhar com a minha equipa no booking e preparação de templates, ou estar presente em calls, e a guitarra fica de lado à espera de uma oportunidade. Mas não passo um dia sem tocar. Há sempre exercícios e rotinas para trabalhar a técnica, e o que mais gosto é de aprender de ouvido músicas novas. José Fontes Rocha, também guitarrista de Amália Rodrigues, com quem toquei muitos Domingos no Clube de Fado, dizia-me para ouvir e tocar outras músicas na guitarra portuguesa.

Como evoluiu o seu processo de composição? Foi fácil? Quais as principais influências?

Não sei bem descrever esse processo. O primeiro tema, Minha Alma, foi uma boa surpresa. Já tinha tentado compor antes no piano e não tinha conseguido. Fui desafiada para compor uma música para uma curta-metragem da Ana Rocha. Depois de ler o guião a música surgiu logo na minha cabeça e a guitarra foi o veículo. Foi arrepiante a experiência. Depois queria compor mais e fui atrás de ideias, sensações, paisagens, o mar para mim é uma inspiração, os meus filhos, a minha vida, e assim surgiram os outros temas: Viagem, Movimento, Terra, Dia de Feira, Tempo Parado (na pandemia), Sem Palavras (que dediquei aos meus filhos), Memórias (que dediquei à minha avó materna). A minha grande influência musical é sem dúvida Carlos Paredes, mas também toda a música clássica que fui ouvindo desde pequena e ao longo dos vários anos que estudei piano.

Tiny Desk Concert

De todos os temas que compôs até hoje, qual o que gosta mais e porquê?

Gosto do meu primeiro tema: Minha Alma. Sem dúvida um tema muito especial para mim. Foi como o abrir de um portal para a minha alma. Já me emocionei muito a tocar este tema em palco, entrego tudo nele.

Como surgiu o convite e como foi a experiência (com um enorme sucesso, diga-se) do Tiny Desk?

O convite surgiu em 2019, na minha primeira tournée com o quinteto aos Estados Unidos. Fiz dois showcases no Festival South by Southwest em Austin, e no final do segundo concerto, um senhor veio ter comigo e entregou-me um cartão e disse que queria o meu concerto no Tiny Desk. Não queria acreditar… Tivemos data marcada para 2020, mas com a pandemia ficou cancelado. Em 2022 toquei no Blues Alley em Washington DC e o convite foi renovado e desta vez não perdi a oportunidade e em outubro de 2023 fui com o João Pita e o Pedro Segundo à NPR. Parecia tudo mentira, ou um engano. Como é que eu poderia estar ali? Ao mesmo tempo uma oportunidade gigante para levar a nossa guitarra portuguesa a um palco com esta visibilidade e alcance a nível mundial. Um orgulho e uma alegria imensa. Estava num misto de pânico e de euforia. Mas tentei ser só eu e passar a paixão que tenho pela guitarra portuguesa. Ver os técnicos a dançarem e a gostarem foi a melhor recompensa. Claro que a minha vida mudou, o vídeo já teve mais de 1milhao de visualizações e recebi convites de todo o mundo para atuar.

Sente que incorpora já a missão de levar a Guitarra Portuguesa pelo mundo?

Desde o primeiro momento. Mesmo quando mal tocava e já era convidada para tocar fora, tinha sempre esse sentido de missão por estar a apresentar-me e a levar a nossa cultura pelo mundo. Há medida que os anos foram passando e oportunidades de tocar cada vez mais longe, assumi de forma mais séria essa missão: levar a guitarra portuguesa para o mundo. E também trazer o mundo para a guitarra portuguesa. Nos meus concertos falo de Portugal, das casas de fado, das grandes referências na guitarra portuguesa e em algumas salas, quando se proporciona, também partilho imagens de Portugal para ilustrar os temas que vou tocando. A guitarra portuguesa, enquanto nosso instrumento tradicional, ainda tem um longo caminho a percorrer para que consiga estar num patamar de notoriedade que outros instrumentos tradicionais de outros países já alcançaram, como a guitarra flamenca, o bandóneon no tango, ou o bandolim no chorinho. É continuar a caminhar e a promover concertos instrumentais onde a guitarra portuguesa é voz.

Como se sente mais feliz: depois de terminar uma composição ou numa sala a dar um concerto?

Numa sala a dar um concerto. É um momento de partilha mágico. Não sabia que ia gostar tanto, uma vez que era bastante tímida e envergonhada. Antes tinha medo de não estar à altura e de ser criticada, e sofria bastante antes de entrar em palco. Agora é onde me sinto melhor, sem medo de errar ou de dizer algo menos bem, sou simplesmente eu, num momento de partilha genuína, onde o público também me dá muito. Sei que trabalho muito diariamente, sei que tenho muito para melhorar, sei que nunca haverá uma atuação perfeita, mas em todas elas eu deixo o meu coração no palco. Sem medos. E o retorno é gigante…

Programa para o resto de 2025 e projetos para 2026?

Tenho programadas umas idas a estúdio para projetos que ainda não posso partilhar e vou continuar a viajar: Budapeste (Hungria), Pico (Açores), Mealhada (Portugal), Genebra (Suíça), Barcelona (Espanha), Sesimbra (Portugal), Shanghai (China), Paris (França). E em 2026 já estamos a programar 2 tournées.

Uma mensagem para todos os autores, criadores e artistas do mundo.

Compor, criar e subir a um palco é um ato de coragem, generosidade e partilha. Que a arte nos leve sempre para estes momentos de partilha e encontro, onde todos saímos mais ricos e felizes.

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