A Biodiversidade das Berlengas

Hoje, vamos embarcar rumo à Reserva Natural das Berlengas (assim designada desde 1998, quando o Decreto Regulamentar nº30/98, de 23 de dezembro, estabeleceu essa ampliação da Reserva, estendendo-a a todo o arquipélago).
Arquipélago…ouvimos tantas vezes este termo, será que sabemos realmente o que significa?
Na verdade é bastante simples: um arquipélago, corresponde a um grupo de ilhas próximas umas das outras. Claro que nem todos os arquipélagos apresentam as mesmas caraterísticas.
Temos arquipélagos com ilhas mais pequenas ou de maior dimensão e até mesmo, arquipélagos que são países (no caso do Arquipélago do Japão, composto por cerca de 6582 ilhas).

No Arquipélago da Madeira por exemplo, temos duas ilhas habitadas (Madeira e Porto Santo) e duas não habitadas (Desertas e Selvagens), já no Arquipélago das Berlengas, apenas a ilha Berlenga é habitada – um rochedo granítico que atinge os oitenta e oito metros de altura, com um comprimento máximo de mil e quinhentos metros e uma área total de setenta e oito hectares. O arquipélago é constituído ainda por ilhas de menores dimensões, como as Estelas e os Farilhões-Forcadas e outros rochedos. (Ribeiro et al., 2012).

Este espaço geográfico possui uma enorme riqueza quer em termos de fauna (a diversidade de animais existentes na sua região) quer em termos de flora (a diversidade de plantas presentes na sua superfície). Tal aspeto, justifica a remota preocupação com a conservação desse espaço que data ao século XV, conferindo-lhe o título de primeira área protegida portuguesa, com a proibição de caça na Berlenga Grande, por parte de D. Afonso V.
Contudo, as Berlengas possuem um problema que cabe salientar e analisar: as espécies não nativas presentes na região.
O chorão foi levado para este arquipélago pelo Homem, e como este se reproduz facilmente (já que as condições climatéricas são favoráveis ao mesmo), espalhou-se pela ilha da Berlenga, formando um “tapete” que não permite o aparecimento das plantas nativas.

Além disso, temos ainda espécies como o rato-preto ou o coelho (os únicos mamíferos que existem na Berlenga Grande) que também foram levadas pelo Homem, e, prejudicam uma vez mais os animais da região. No que toca ao rato-preto este é responsável pela predação de ovos de muitas aves marinhas (a exemplo os de Cagarra) e talvez (não se chegou a uma conclusão definitiva, embora tenha sido observada uma atividade muito próxima dos mesmos em torno dos ninhos) de crias de Cagarra, e até mesmo de Roques-de-castro, quando estes se encontram nos ninhos a incubar. No que concerne ao coelho, a sua alta competição pelo espaço (ao escavarem tocas, entram por vezes nos ninhos de Cagarra) leva à destruição de muitos ovos.
Nesse sentido, ocorreram diversas iniciativas e projetos que visavam facer face a estas problemáticas, como o LIFE Berlengas. Algumas das estratégias levaram a que se diminuisse cerca de 90% da extensão do Chorão (arrancavam as raízes com as quais faziam rolos, que por sua vez, viravam faixas com cerca de 2 a 3 metros, que deixavam em “repouso”, até que a vegetação nativa recuperasse; de salientar que nas falésias, o trabalho de remoção era ainda mais demoroso e exigia uma maior preparação pelo seu risco), a que se obtivesse um maior controlo (com os trabalhos de monitorização e as medidas de biosegurança) e se irradicassem os mamíferos não nativos (como o caso do rato-preto, em que o último observado remonta a setembro de 2016).
Mas e as espécies nativas das Berlengas?
Desde logo, destaca-se o Airo, sem dúvida uma ave típica, e símbolo da Reserva Natural. As suas semelhanças com um pinguim são surpreendentes, já que não consegue voar e também apresenta um peito branco e o resto do corpo cinzento escuro/preto.
A sua presença era imensa na Berlenga Grande, contudo, a partir da segunda metade do século XX, teve uma diminuição abrupta, não sendo encontrado já há alguns anos quaisquer indícios de reprodução do mesmo (em junho de 2012 apenas se tinha observado um Airo).
Apesar dessa situação penosa, constam neste espaço, outras aves marinhas, Cagarra (que é considerada vulnerável, quer pelos aspetos que já aqui foram abordados, quer pelas capturas acidentais da pesca, que ainda assim, têm sido revertidas por novas estratégias como a utilização de um papagaio mitigador – quando libertado, as aves que habitualmente se situam ao redor da embarcação, tendem a deixar de pousar e afastam-se), Galheta, Corvo-marinho-de-crista, Roque-de-castro e Gaivota-de-patas-amarelas (que também teve um alto controle em termos de nidificação – construção de ninhos – devido ao aumento exponencial da sua espécie nos anos 80, que trouxe desiquilíbrios à ilha).

Voltando-nos para a flora, existem cerca de 100 espécies diferentes, destacando-se as três espécies endémicas, que só existem nas Berlengas, e que por isso, são imprescindíveis para a biodiversidade, tornando-se fundamental garantir que as mesmas não se extingam: Arméria-das-berlengas, Herbinária-das-berlengas, Pulicária-das-berlengas).
Em termos de lazer, as atividades de mergulho são uma das melhores formas de explorar o arquipélago e toda a sua biodiversidade que habita no fundo do mar (assim como os vários navios naufragados ao redor da ilha, o que proporciona um cenário inesquecível). Além disso, pode praticar ainda, vela, caiaque, paddling .
Relativamente aos locais para visitar tem o notável Forte São João Baptista das Berlengas, que foi nos anos 50 totalmente recuperado e transformado em pousada e o Farol Duque de Bragança, que já demonstra o respeito pelos recursos naturais – qualquer matéria com valor económico que pode ser obtida diretamente a partir da Natureza – sendo utilizada a energia renovável – solar, através dos painéis – para o seu funcionamento.
Para conhecer de perto todas estas espécies e saber mais sobre os programas realizados pelos biólogos, e o próprio ecossistema, podemos atravessar os trilhos equipados com mesas interpretativas (com informações sobre arqueologia, história, etc. ) e com tótens direcionais, de forma a percorrermos o caminho com maior facilidade. Além disso, existe também o Centro de Visitantes (espaço amplo construído no Bairro dos Pescadores) que permite a visita e permanência de várias pessoas.
Sendo por isso, a Reserva Natural das Berlengas um espaço tão importante e rico para a natureza, cabe-nos a todos protegê-lo, venha fazer a sua parte!


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