A pegada ambiental da moda rápida

Na actualidade, as indústrias ligadas ao sector têxtil, mormente, as cadeias de venda de roupa de baixo custo, assentam o seu modus operandi numa oferta constante de novos modelos, produção em massa e preços extremamente baixos, que resultam num elevado volume de vendas, que por seu lado se reflectem em graves consequências para o meio ambiente.
A indústria da moda representa um consumo exagerado de recursos naturais, onde se incluem elevadas necessidades de água e grandes áreas de terras para cultivo de algodão e de outras fibras utilizadas na produção dos tecidos.
Perante estes impactes ambientais, a União Europeia está a tomar medidas a vários níveis ao abrigo do plano de economia circular até 2050, não só para reduzir o volume de resíduos produzidos, mas também para aumentar o ciclo de vida dos materiais utilizados e promover a sua reciclagem.
A Agência Europeia do Ambiente estima que, em média, cada cidadão do bloco comunitário seja “responsável” por gastos de 9 metros cúbicos de água e necessite de 400 metros quadrados de terra e 391 quilogramas de matérias-primas para satisfazer as suas necessidades em termos de vestuário e calçado. A título de exemplo, para fabricar uma simples t-shirt de algodão são necessários 2700 litros de água doce. Importa ainda referir que a compra de têxteis na UE gerou valores na ordem dos 654 kg de emissões de CO2 por consumidor e, em média, as pessoas consomem, por ano, na ordem dos 26 kg de produtos ligados à indústria têxtil e deitam ao lixo cerca de 11 kg de roupa usada, que acaba incinerada ou depositada em aterros. Ora, estes números são preocupantes.

Em termos de contaminação, estima-se que a produção têxtil seja responsável por cerca de 20% da poluição da água potável à escala mundial devido ao uso de herbicidas, pesticidas e outros produtos químicos utilizados no tingimento e no acabamento das peças.
Todavia, a contaminação das águas continua a jusante, pois, em apenas uma única lavagem de uma peça de vestuário de poliéster estima-se que ocorra a libertação de cerca de 700 000 fibras de microplásticos que poderão vir a entrar na cadeia alimentar. Globalmente, a cada ano, a lavagem de produtos sintéticos provoca a acumulação de mais de meio milhão de toneladas de microplásticos nos oceanos. Além disso, a poluição provocada pela produção têxtil tem implicações na saúde das populações, dos animais e dos locais onde as fábricas se localizam.
Ao nível das emissões de gases com efeito de estufa, as estimativas apontam para cerca 10 % das emissões de carbono a nível mundial.
Os números da reciclagem também não são animadores. Grande parte dos resíduos têxteis acabam depositados em aterros e as taxas de reciclagem são muito baixas, se tivermos em conta que apenas 1% do vestuário reciclado é transformada em novos produtos.

Por outro lado, os níveis de doação de roupa têm baixado, assim como os consertos de roupa usada. Em muitos casos, fica mais barato comprar uma peça de roupa nova.
A justificação para este aumento desenfreado do consumo de moda rápida está, em grande parte, relacionado com a publicidade produzida pela indústria têxtil e com a sua promoção através dos meios de comunicação social que a fazem chegar a mais pessoas e a um ritmo cada vez mais rápido.
Perante isto, que soluções poderão ser adoptadas pelos consumidores e pelas marcas? Quer uns, quer outros, poderão apostar em produtos mais duráveis e em soluções mais sustentáveis e conscientes, nomeadamente, promovendo a reutilização e a reciclagem, numa vertente de economia circular.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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