Cidades Verdes

A Revolução Silenciosa

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Até 2050, cerca de 70% da população mundial viverá em cidades, segundo refere o último relatório da ONU. Actualmente, esse número ronda os 50%. Vivemos num tempo de grandes mudanças. O betão cavalga montes e vales, e se agiganta. Onde outrora existiam árvores, hoje proliferam prédios e asfalto. Todavia, algo está a mudar nos ambientes citadinos, como se de uma espécie de revolução silenciosa se tratasse. O futuro quer-se verde, feito de folhas, flores e animais, em perfeita harmonia com as pessoas. As cidades verdes do futuro serão espaços de acolhimento da biodiversidade, com especial preservação da natureza, privilegiando o bem-estar de todos. Nalgumas delas, já se observam transformações nos dias de hoje, quer seja pelos jardins suspensos que florescem nos telhados; pelas microflorestas urbanas; pelos corredores ecológicos; pelas hortas comunitárias; ou até mesmo, pelas colmeias. Estes espaços verdes urbanos, verdadeiros ecossistemas vivos, apresentam grandes vantagens na redução do calor e da poluição, na absorção de CO₂ e na atracção de insectos polinizadores, borboletas e aves. Por outro lado, aproximam as pessoas, favorecem as relações sociais, reduzem o stress e melhoram a saúde mental. Tomemos como exemplo Lisboa. Se bem que muito ainda haverá por fazer, a capital portuguesa tem dado passos firmes na transformação ecológica da cidade.

Em vários bairros da cidade há famílias e associações de moradores a cultivarem legumes e ervas aromáticas em hortas comunitárias e a plantarem árvores de fruto para autoconsumo. Estes espaços favorecem a biodiversidade e tornam-se pequenos refúgios para animais. Também a nível institucional tem havido alguns progressos, tornando a cidade mais acolhedora em termos de mobilidade, ecologia e ambiente, com destaque para o Corredor Verde de Monsanto, os jardins em Alcântara e a Floresta Urbana de Marvila. Fruto destas intervenções, temos hoje uma cidade mais verde e mais humana, com mais árvores, ar mais puro, mais sombras e menos carros.
Citando casos análogos – Paris, Tóquio, Singapura, Bogotá, Toronto, Detroit, Medellín, Nova Iorque e Melbourne, entre muitas outras cidades mundiais, têm dado passos importantes na construção de um futuro mais verde. Paris prepara-se para transformar 100 hectares de coberturas em espaços verdes e, a par com Nova Iorque, estas duas cidades cosmopolitas transformaram antigas linhas férreas desactivadas em corredores verdes. A Coulée Verte em Paris e a High Line em Nova Iorque encontram-se hoje cobertas por flora autóctone e transformaram-se em espaços de eleição para o convívio harmonioso entre pessoas e animais. Cobrir telhados e fachadas com vegetação já e uma exigência legal em Toronto.

Em Singapura, as chamadas “florestas verticais” mais não são que grandes arranha-céus, cobertos de vegetação do topo até à base. Em Tóquio, plantam-se arrozais entre edifícios de betão e, em Havana, a agricultura urbana fornece boa parte do sustento para milhares de pessoas. Bogotá e Medellín, através do projecto “Corredores Verdes” transformaram faixas de estradas em passagens verdes que ligam parques e encostas, criando rotas seguras para os animais, ao mesmo tempo que melhoram a qualidade doa ar. Em Melbourne, cada árvore tem um número e um e-mail, e os cidadãos escrevem-lhes cartas de profunda gratidão. Em Detroit, centenas de hortas tomaram o lugar de terrenos abandonados pela crise industrial. Todas estas mudanças de paradigma supra citadas têm servido para criar verdadeiros refúgios da biodiversidade e para aumentar a resiliência alimentar, baixar as temperaturas no interior das cidades, melhorar a qualidade do ar, promover a educação ambiental e fortalecer os laços sociais e de pertença das comunidades. Mais que uma mera tendência, as cidades verdes são uma necessidade. Silenciosamente, a mudança está a acontecer…

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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