Córdoba

O destino desta viagem conduz-nos até Espanha, mais concretamente à cidade de Córdoba conhecida outrora aquando da sua fundação como a “Cidade Rio”.
A história de Córdoba revela-se uma autêntica mescla de culturas, com um passado de cerca de 5.000 anos. A fundação da cidade remonta ao período Calcolítico, nomeadamente, séculos III/II a.C., tendo atingindo o seu expoente máximo sobre governação Romana e posteriormente no período do Califado. O povoado fundador da cidade habitava um conjunto de cabanas nas proximidades da atual cidade de Córdoba, numa área conhecida aos dias de hoje como Colina dos Queimados. Os habitantes inicialmente viviam da riqueza mineralógica e da pecuária, num vale encaixados na proximidade do rio Guadalquivir, cuja navegação comunicava com o mar Mediterrâneo.

As notícias de riquezas depressa correram mundo, e naturalmente despertaram o interesse do expansionista império romano, que no ano 169 a.C., ocupou uma das colinas nas imediações fixando um pequeno núcleo populacional. No decurso da administração romana, surgiram os primeiros monumentos que ainda hoje podem ser visitados, mais concretamente a Muralha, Ponte Romana, Templo Romano, Palácio Maximiano Hercúleo e Anfiteatro. No ano de 572 d.C. findado o período glorioso de ocupação romana, Córdoba terá vivido uma fase conturbada, consequência da ocupação Visigoda e inerente perseguição aos Judeus, que até aqui viviam em harmonia completamente integrados na sociedade Romana.

Este período conturbado viria a ser decisivo, visto que as tropas berberes provenientes do Norte de África em 771 d.C cruzaram o estreito de Gibraltar, não tendo encontrado oposição à tomada da cidade. Durante a ocupação Muçulmana Córdoba terá vivido o seu período mais esplendoroso distinguido como capital de Al-Andalus, título que até aqui pertencera à cidade de Sevilha.

Atualmente, a cidade de Córdoba ainda ostenta vestígios do deslumbrante império do Califado e convivência Judia, sendo de salientar a Mesquita, Medina de Azahara, a Sinagoga, o Bairro Judeu, a Torre de Calahora e as cavalariças reais, numa clara alusão ao cavalo árabe. De uma forma dispersa é ainda possível observar alguns traços na toponímia arquitetónica da cidade, nomeadamente a construção de ruas, praças, fontanários, banhos e pátios decorados com flores ao estilo árabe/judaico. A perda de território no sul de frança e consequente desentendimentos Árabe e Muçulmano, potenciou a reconquista cristã. A expansão cristã prosseguia na península ibérica e no ano de 1236 é reconquistado pelo Rei D. Fernando III de Castela-Leão a cidade aos árabes. O cristianismo assentava essencialmente num processo de envangelização, sendo que de imediato foram erigidas diversas igrejas assim como a principal mesquita transformada em Catedral.
Visitar Córdoba é uma verdadeira imersão ao período do Califado em todos sentidos, sendo que recomenda-se evitar o período compreendido entre Julho-Setembro, pois o calor tórrido poderá dissuadir o mais prevenido dos viajantes.

Ponte Romana – Ponte Velha
Uma das portas de entrada da antiga cidade muralhada de Córdoba é através da sua Ponte Romana, cuja visita é imperativa. Construída no apogeu do império romano acredita-se que a mesma integrava a denominada Via Augusta, que interligaria Roma a Cádis. Observe os imponentes arcos da ponte na sua plenitude, verdadeiras obras de arte características da exímia construção romana. Apesar de algumas obras de restauro perpetuadas ao longo do tempo, dois dos dezasseis arcos ainda mantêm a originalidade. Nas imediações da ponte, poderemos vislumbrar a existência de moinhos de construção medieval que estão respetivamente figurados no brasão atual da cidade.
A ponte romana de Córdoba é responsável pela ligação de dois outros monumentos icónicos, cada um respetivamente em cada extremo, nomeadamente, a torre de Calahora e a Porta da Ponte. A paisagem idílica desta ponte foi recentemente escolhida pela Sétima Arte na gravação da famosa série “Game of Thrones”.

Mesquita – Catedral
Durante anos, a mesquita de Córdoba foi considerada a maior mesquita do mundo, refletindo o poder de Córdoba como lugar islâmico no Ocidente durante o califado. Declarado pela UNESCO como Património da Humanidade é sem dúvida o monumento mais visitado da cidade. No seu interior destaco o Pátio das Laranjeiras que nos faz transportar para um jardim Marroquino repleto de laranjeiras, palmeiras e oliveiras, e com pequenas fontes devidamente ornamentadas que serviriam para purificação.
No exterior do pátio da mesquita é ainda possível contemplar a torre do campanário. A origem da torre tem por base a remodelação do minarete da mesquita construída no Séc. X. Inicialmente o minarete englobava quatro pares de arcos em ferradura ao coberto de uma cúpula. Após reconquista cristã da cidade o antigo minarete foi ornamentado com elementos do Barroco dando lugar a uma torre campanário da catedral.
A visita ao interior da mesquita é deslumbrante, com uma imensidão de colunas e arcos em ferradura devidamente ornamentados. O contraste de cores transporta o visitante ao período do califado. O elemento central da mesquita é mihrab, que consiste num espaço mais reservado de oração na mesquita. Devidamente orientado para Meca, o mihrab é devidamente ornamentado, talhado a ouro repleto de inscrições do Corão.
Caminhando ao longo da sala observamos a existência de uma catedral cristã datada de 1236. A Catedral de Córdoba destaca-se pela construção de pequenas capelas no interior, abóbodas e túmulos destinados aos reis cristãos.


A Judería de Córdoba
O distrito mais antigo de Córdoba no epicentro da cidade, caracteriza-se por um conjunto de ruas estreitas, executadas em pedra e devidamente ornamentadas com flores. Aproveite para passear pelas ruas e saborear uma refeição ligeira num dos pátios refrescantes.
No distrito da Judería visitem os seguintes locais: Sinagoga, Capela de Mudéjar de São Barolomeu, Souk municipal, Praça de Maimónides, Rua das Flores e Casa de Andalusí.
A Sinagoga localizada no coração do Bairro Judeu, representa a passagem dos Judeus por Córdoba antes da expulsão preconizada pelos Reis Católicos. O acesso ao monumento é efetuado através de um pátio que interliga com a sala de oração. O interior devidamente ornamentado é repleto de inscrições e devidamente caiado com gessos.

Alcácer dos Reis
Este edifício rodeado por muralhas conta com mais de seiscentos anos de história e terá servido diversos propósitos, desde quartel militar, residência real, prisão e centro administrativo. Este monumento localizado a poucos metros do rio Guadalquivir, servia de ligação aos banhos da época do califado. No seu interior, podemos observar diversos objetos históricos pertencentes à realeza.
Alcácer dos Reis terá vivido o seu momento áureo em 1486, local em que se reuniram os reis de Espanha com Cristóvão Colombo por forma a preparar a viagem às Índias. Recomendo uma visita aos jardins reais, repletos de fontes, palmeiras, ciprestes e laranjeira.
Medina Azahara
A oito quilómetros da capital podemos visitar as ruínas do lugar mais importante de Al-Andaluz. Declarada como Património da Humanidade pela Unesco desde 2018, Medina Azahara é um dos sítios arqueológicos mais importantes. A visita deste monumento arqueológico é imprescindível para assimilação da história de Córdoba. Na visita pelas ruínas desta outrora imponente cidade podemos observar o Alcácer, residência real do califa, destacando-se como a zona mais bem conservada da Medina.
A visita a Córdoba não ficaria completa sem mencionar a história culinária Mediterrânico-Árabe. Recomendo deliciarem-se com um Salmorejo, um prato típico de verão possível de ser encontrado o ano todo nos restaurantes. O Salmorejo consiste numa espécie de sopa fria de tomate com ovo cozido e presunto revelando ser uma aposta certa por forma a vencer as altas temperaturas que se fazem sentir. Para os mais audazes e ao ritmo espanhol, podem igualmente provar rabo de touro, que essencialmente é um estufado com batata cozida.
Na realidade, a melhor recomendação para uma visita a Córdoba é imiscuir-se pelas ruas, seguindo sem rumo definido. Uma verdadeira cidade histórica pluricultural com traços predominantes dos períodos do califado.

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