Diu

A Índia esquecida

De um lado, temos uma praia de areia escura cheia de barcos engalanados; do outro, Diu, onze quilómetros de comprimento por três de largura, povoada de cristãos, hindus e muçulmanos, numa cordial comunhão abençoada pelo clima tropical.

A ilha de Diu, situa-se no extremo sul da península de Katiavar, à entrada do golfo de Cambaia, na costa de Guzerate, na Índia. É uma cidade e sede de distrito, que pertence ao território de Damão e Diu. Fez parte do antigo Estado Português da Índia até 1961.
O que em Diu permanece, deixa quase adivinhar a história, porque ainda existem muitas zonas bem conservadas. As muralhas, recuperadas ao longo dos anos, ainda se preservam sólidas, apesar de todas as guerras de que foram palco.
Muito do património de Diu, necessita ainda de recuperação. A título de exemplo, na Igreja de S. Tomé, hoje transformada em museu, existem dezenas de estátuas antigas e pedras que esperam um tratamento mais cuidado, uma vez que se encontram abandonadas no chão, a desfazerem-se. Outro documento histórico importantíssimo, que passa despercebido no meio dos tesouros que jazem abandonados no museu, é a pedra gravada que assinala a morte do filho de D. João de Castro, D. Fernando de Castro.
A 3 de Fevereiro de 1509, travou-se na barra de Diu, em plena costa do reino ou sultanado do Gujarate, a mais importante batalha naval da história da presença portuguesa no Oriente, pois atribuiu-lhes o domínio do Índico, durante tempo suficiente para estabelecerem o que veio a ser o Estado da Índia.
Vista por outro olhar, esse marco estratégico na história da presença portuguesa no Oriente, tem sido essencialmente, assumido apenas como resultado de uma mera vingança pessoal do comandante português pela morte do seu filho, Lourenço de Almeida, um ano antes, no encontro naval entre as mesmas armadas frente a Chaul, cujo resultado, foi desastroso para os portugueses.

Visões históricas à parte, Diu, situada no extremo da península de Katiavar, na confluência de territórios e de culturas diversas, era central em relação aos fluxos comerciais entre o Golfo Pérsico, o Mar Vermelho e todo o Hindustão, com especial destaque para a sua posição como acesso aos ricos portos do Golfo de Cambaia, e reduzida a um pequeno número, mas, existido ainda o culto religioso paroquial, e também, uma escola, frequentada por crianças e adolescentes de diversos credos.
Compreensivelmente, a evangelização foi sempre dificultada e menos bem-sucedida em territórios de predominância islâmica, mesmo com a tolerância como preocupação, como é o caso de Diu. Mas, existe paz entre todos. Com o fim da soberania portuguesa em 1961, a comunidade portuguesa está, então, ainda presente, mas residualmente representada.
Em Diu, encontra espantosos edifícios e magníficas Igrejas, uma imponente fortaleza e pessoas de olhar curioso sobre os visitantes. Diu significa “luz”.


Igreja de São Tomé


A igreja de São Tomé, foi construída em 1598, por ordem do arcebispo Frei Aleixo de Menezes. Encontra-se integrada numa colina isolada, com a capela-mor orientada a poente (como todas as igrejas de Diu), tem uma frontaria virada para o mar, impondo-se como o elemento edificado de maior relevo paisagístico da cidade, a seguir à fortaleza. Impõe-se pela escala das suas duas torres da frontaria, rematadas por uma estrutura decorativa, que contrasta com a fachada da nave, quase sem ornamentação. Funciona desde 1904, como museu arqueológico, onde estão recolhidos múltiplos elementos arquitetónicos e lápides de edifícios relevantes.
Hoje, as ruas interiores da única cidade, que tem o mesmo nome da ilha, fazem lembrar uma Lisboa antiga e arruinada, e algumas ruas mantêm os nomes portugueses. Já muito poucos sabem falar português e, mesmo esses, têm dificuldade em entender o português moderno, entendem-nos quando falamos e dando-nos informações, nomeadamente, sobre transporte feito por autocarro para Nagoa, e a localização da Igreja de S. Paulo, que alberga uma N. Sra. de Fátima, ainda muito venerada. Este naco de «Índia Portuguesa», é então, uma ilha de costa coberta por palmeiras, pássaros e gentes, que são os mesmos de um lado e do outro da ponte, que liga a aldeia piscatória de Ghogla à pequena cidade de Diu. Pacífica e pouco turística, a ilha indiana parece ter parado no tempo.
Algumas cristãs, usam vestidos um pouco abaixo do joelho, mas todas usam também, o tradicional sari indiano, enrolada à volta da cintura que termina com um drapeado sobre o ombro. Vemos Capelas e Templos hindus em todos os lugares que desafiam a curiosidade dos forasteiros, enquanto estes rumam para fora da cidade à procura das praias longas e desertas, que são a atração principal para os poucos que se deixam desafiar por esta ilha. De fachadas altas e brancas, as igrejas são um elemento surpreendente no meio das palmeiras e coqueiros, que sombreiam a estrada fina que rodeia a ilha e debruam a baía de Nagoa.
Nos campos de milho-miúdo, camponeses trabalham debaixo do sol arrasador, e os saris coloridos das mulheres, destacam-se no verde da paisagem.

O Forte
Hoje é uma prisão. A vista de cima é linda, abrangendo o verde da ilha e a linha de terra mais adiante, separadas por um mar azul, que muda de tonalidade com a luz. Os canhões, ainda permanecem seu lugar de sempre, muito bem conservados, mas, o pátio interior não está cuidado, não permitindo outro passeio que não seja à volta das muralhas, ao longo do mar, de uma torre para a outra.

Nem tudo é paraíso
Parte da ilha, foi declarada santuário para pássaros, e as melodias que chegam das árvores dizem porquê. Na zona das salinas, frequentada por flamingos, íbis e muitos outros, dependendo da época do ano, são os corvos e os papagaios que fazem hoje a banda sonora. Garças brancas imobilizam-se, à espera do peixe.
Mas, a paisagem mudou por completo. Agora, existem as salinas da ilha de Diu.
Os trabalhadores nas salinas da ilha de Diu, debaixo de um sol impiedoso, carregam cestos com pedras de sal, de pés descalços, despejando-os numa máquina que as tritura, reduzindo-as a areia branca.

Mercado em Diu e o negócio do peixe
Todas as manhãs, há mercado no centro de Diu. Os camponeses reúnem.se com os produtos da época e do seu esforço: um montinho de beringelas, um punhado de quiabos, algumas peças de fruta e batatas. As donas de casa aproximam-se e discutem o preço.
Em Ghoghla, o negócio é o peixe que chega nos barcos invadidos por mulheres de sari arregaçado e bacia à cabeça. Transportam o peixe para terra, onde é selecionado, vendido imediatamente, ou seco ao sol, pendurado em cordas esticadas sob a atenção dos corvos.
Os pescadores, alguns da costa Sul, aproveitam a paragem para pecar: Diu, também, é uma das ex-colónias portuguesas conhecidas pela livre circulação e venda de bebidas alcoólicas, proibidas ou restritas nestas zonas da Índia. E apenas com uma refeição, um hindu devoto – vegetariano e abstémio – pode prejudicar seriamente o seu karma, comendo peixe e regando-o com uma cerveja. Ainda que haja poucos Portugueses, no presente, Diu é uma região que se mantêm no conjunto dos países e regiões da Lusofonia, a par de Damião e outros. Ainda há memórias coletivas ligadas a esta região indiana. A título de exemplo a rua do mercado da freguesia da Foz do Douro, no Porto, tem ainda, o nome de rua de Diu

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