Ferreira de Castro

Viajante_Jornalista_Escritor – Da origem à eternidade

José Maria Ferreira de Castro nasce a 24 de maio de 1898 no lugar de Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis. Órfão de pai aos oito anos de idade e o mais velho de quatro irmãos, a sua educação foi rude e exigente.
Em 1904 entra para a escola primária de Ossela, fazendo em 1910 o exame do 2.º grau da instrução primária que lhe confere as únicas habilitações escolares oficiais que possui. Interessa-se desde muito cedo pela leitura, adquirindo todas as obras de cordel que a sua parca condição financeira podia suportar.

Passa os primeiros anos da sua vida em intensa comunhão com a natureza do vale banhado pelo rio Caima, em Ossela. Com uma especial apetência pela escrita, mas também pelo ar livre e pela natureza.
A 7 de Janeiro de 1911, com 12 anos de idade, emigra para o Brasil, passando parte da sua adolescência, de início no Seringal Paraíso, no interior da Amazónia, e posteriormente, em Belém do Pará, onde trabalhou arduamente para conseguir subsistir.

Em agosto de 1916, com 18 anos, publica, a expensas próprias na Typografia Francisco Lopes, de Belém, o seu primeiro romance, “Criminoso por Ambição”, que distribui porta a porta. A partir daí, começa a colaborar com alguns jornais locais, estabelecendo, a pouco e pouco, relações com pessoas que lhe abrem o caminho na vida jornalística. Produz e publica, por esta altura, algumas novelas, que, apesar de renegadas mais tarde, lhe começam a conferir alguma notoriedade.

Em 1919 (21 anos) regressa a Portugal, reencontra a família em Ossela, mas parte de imediato para Lisboa tentando fazer carreira jornalística. A jornalista e escritora Diana de Lis (Maria Eugénia Haas da Costa Ramos n. 1892 – f. 1930) torna-se sua companheira, em 1927. Por essa altura integra os quadros de “O Século”, coordenando a área internacional. Em 1928, com a publicação de “Emigrantes”, Ferreira de Castro assume definitivamente a sua carreira literária, alcançando notória

consagração em 1930, ano em que publica a “Selva”, a obra lusófona, durante um longo período de tempo, com mais traduções feitas.
A 30 de maio morre a escritora e sua companheira, Diana de Liz e um ano mais tarde uma septicémia põe em perigo a sua vida e em 1932 vai para a Ilha da Madeira, para se reabilitar. O cenário insular serviria de mote ao seu terceiro romance, “Eternidade”.
Em 1934 decide abandonar o jornalismo profissional, nomeadamente “O Século”, de que era redator, manifestando a sua incapacidade em se adaptar aos condicionalismos da censura, apontando um eventual

regresso para quando a liberdade fosse restabelecida. Não obstante, nos últimos meses de 1935, dirige “O Diabo”, semanário cultural de vertente oposicionista. No Estoril conhece a pintora espanhola Elena Muriel com quem viria a casar (Paris, 1938) e a ter uma filha, Elsa Beatriz. Elena Muriel Martinez de La Pera Ferreira de Castro nasceu em Espanha, tendo-se refugiado em Portugal aquando da Guerra Civil no país vizinho.
Em 1939 faz uma viagem à volta do mundo, na companhia de sua mulher, onde recolhe fontes e reúne conteúdos que mais tarde lhe permitem publicar “A Volta ao Mundo” (1944) e as “Maravilhas Artísticas do Mundo” (1963).

A editora Guimarães inicia a publicação das suas “Obras Completas”, que serão ilustradas por Júlio Pomar, Keil do Amaral, entre outros artistas consagrados. Recusa a proposta – e a oferta de trezentos contos – do editor para incluir as obras da primeira fase, anteriores a Emigrantes.
Armindo Rodrigues e Orlando Gonçalves dão voz a um grupo de oposicionistas, convidando-o, em 1958, a candidatar-se à Presidência da República, convite que declina, tal como recusa integrar a comissão de honra da candidatura de Delgado, numa atitude crítica à divisão da Oposição.
Em 1959 visita o Brasil, 40 anos após o regresso a Portugal, a convite da União Brasileira de Escritores. É apoteoticamente recebido, as sessões de homenagem multiplicam-se. É feito cidadão honorário do Rio de Janeiro.

É eleito por unanimidade presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, da qual é o sócio nº2 e Aquilino o nº1. Toma posse a 5 de fevereiro, presidindo até 1964 a uma direção de que fazem parte João José Cochofel, Manuel Ferreira, Manuel da Fonseca e Matilde Rosa Araújo.
Em 1965, Ferreira de Castro recebe a doação da casa arrendada onde nasceu, em Ossela. Dois anos mais tarde, o escritor doa a casa à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, com a condição de a manter como se encontrava na sua infância.
Assinalam-se os 50 anos da sua vida literária. Na Sociedade Nacional de Belas Artes realiza-se uma grande exposição bibliográfica e iconográfica. No Largo da República, em Oliveira de Azeméis, a 30 de dezembro de 1966, é inaugurado um monumento à sua obra, da autoria de Eduardo Tavares.

A União Brasileira de Escritores apresenta, em 1968, a candidatura conjunta de Ferreira de Castro e Jorge Amado ao Prémio Nobel da Literatura. O escritor brasileiro põe como condição a inclusão de Ferreira de Castro. Este, achando-se não merecedor da distinção, aceita, para que Jorge Amado aceitasse a sua própria candidatura.
A sua obra é distinguida, em 1970, com o “Prémio Águia de Ouro Internacional” no Festival do Livro de Nice, França, o que constituiu um dos maiores acontecimentos da vida literária portuguesa. Com o dinheiro obtido neste prémio manda construir, na terra natal, Ossela, Oliveira de Azeméis, uma Biblioteca. Em 1973 a UNESCO anuncia que A Selva está entre os dez romances mais lidos em todo o mundo, publicando-se nesse ano uma nova edição deste grande romance, desta vez ilustrado por Júlio Pomar.
Doa ao “povo de Sintra”, vila onde passou largas temporadas, a maior parte do seu espólio.
Acolhe o 25 de Abril com grande emoção e participa ativamente no primeiro 1º de Maio.

Em 5 de Junho sofre um acidente vascular-cerebral em Macieira de Cambra. Não chega a recuperar e morre no Hospital de Santo António, no Porto, em 29 de junho.
A Editora Lello publica toda a obra do autor, sob o título Obras de Ferreira de Castro.
Com este sucesso editorial, quer em Portugal, quer no estrangeiro, consegue, através da publicação de diversos e sucessivos êxitos literários, alimentar a auréola da notoriedade até falecer, em 1974, com 76 anos de idade. Mas, para além da notoriedade literária, a personalidade humanista de Ferreira de Castro, que tão bem alimentou a sua obra, constituiu uma referência cívica e moral na luta contra o regime ditatorial e em prol dos direitos humanos.
Teve o mérito, num país fechado, “orgulhosamente só”, de promover, através da leitura, a compreensão e cooperação entre povos de tradições culturais diversos, entre homens de convicções diferentes e até antagónicas. Assim demonstrava como a democracia, superando tanto o relativismo como o absolutismo, pode garantir a liberdade de consciência e de opinião numa sociedade pluralista.

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