Filipe Santos Costa
Presidente da AICEP
Desde 2023, traz consigo um vasto e sólido background académico e profissional. Doutorando em “Estudos de Segurança e Estratégia” na FCSH da Universidade Nova de Lisboa e mestre em “Desenvolvimento e Cooperação Internacional” pelo ISEG da Universidade de Lisboa, Filipe Santos Costa conta com uma grande diversidade de experiências que vão desde consultoria até jornalismo e docência. Com um percurso profissional que inclui representações diplomáticas em São Francisco e Xangai, além de colaborações com agências especializadas da ONU em Genebra e a AICEP em Madrid, Filipe Santos Costa destaca-se como uma figura multifacetada no panorama da diplomacia económica portuguesa, preparada para enfrentar os atuais desafios do mercado global e para protagonizar um novo ciclo de atração de investimento para Portugal e de apoio à internacionalização das empresas portuguesas.
É desde junho de 2023 presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), assumindo há cerca de nove meses os comandos do organismo público que promove a globalização da economia portuguesa. O que o levou a aceitar a desafiante posição de Presidente da AICEP?
Ser um desafio estimulante, que me permite servir o meu País. Desde cedo que exerço funções públicas, ligadas à promoção de Portugal na economia internacional. É um orgulho e uma honra poder apoiar as empresas portuguesas pelo Mundo e captar investimento estrangeiro, com o objetivo último de estimular o crescimento económico e dos rendimentos em Portugal. Tenho a oportunidade única de contribuir para fazer uma diferença positiva na economia e na competitividade do País.
No seu discurso de tomada de posse afirmou estar preparado para “enfrentar os atuais desafios do mercado global e protagonizar um novo ciclo de atração de investimento para Portugal e de apoio à internacionalização das empresas portuguesas”. Dito isto, por onde tem passado a estratégia de promoção da globalização da economia portuguesa?
A nossa primeira prioridade tem sido reforçar a atratividade e promoção de Portugal como destino para investimentos produtivos, sejam nacionais ou estrangeiros.
Queremos atrair investimento intensivo em capital e tecnologia, gerador de bens transacionáveis de elevado valor acrescentado, e apreciador das qualificações e dos salários dos portugueses. Trabalhando sobre as apostas nacionais, já ganhas, na transição energética e na transformação digital, queremos atrair investimentos estratégicos e estruturantes de indústria verde e da economia de dados.
Paralelamente, trabalhamos no apoio à internacionalização das empresas, com especial atenção à diversificação de mercados, e na promoção das exportações, procurando aumentar a sua incorporação nacional e o seu perfil tecnológico. Promovemos a imagem de um País inovador e sustentável. Acreditamos que a dinamização da globalização da economia nacional passa pelo sucesso da dupla missão da AICEP: atração de novo investimento produtivo para Portugal e promoção da internacionalização das empresas portuguesas.
Mostrou estar desde logo disposto a enfrentar os desafios do mercado global. Considerando os desafios económicos atuais, quais são os principais obstáculos que esperam nos próximos anos na promoção da internacionalização da economia portuguesa?
Existem vários desafios, mas também oportunidades, para a promoção da internacionalização da economia portuguesa.
Desde logo a incerteza económica global, fruto das guerras e tensões geopolíticas, que afetam a logística, os fluxos de energia e das matérias base, que prejudicam o ambiente de negócios e podem impactar as empresas portuguesas que operam no estrangeiro.
Daí que seja tão importante uma boa estratégia de internacionalização, em especial com aposta na diversificação de mercados, para que as empresas não fiquem dependentes de um só mercado, ou seja, de um só ciclo económico.
Já a oscilação dos preços de combustíveis tem demonstrado que a aposta pioneira de Portugal em energias renováveis se revelou a escolha certa. Verificamos, por exemplo, que a quebra global de 4.500 milhões de euros nas importações portuguesas de bens em 2023 é mais que justificada pela quebra de 6.000 milhões de euros nas importações de combustíveis fósseis e derivados. Assim como a diminuição de 800 milhões de euros nas exportações de bens é mais que justificada pela diminuição de 1.500 milhões de euros na reexportação dos mesmos combustíveis fósseis e derivados transformados.
Um resultado visível da bem-sucedida transição energética em Portugal, com a crescente substituição de energias fósseis – carvão, petróleo e até gás natural (as importações de gás natural retraíram 15,85% de 2022 para 2023) – por energias limpas e endógenas, nomeadamente na produção de eletricidade e gases renováveis. Conseguimos mais segurança por via de uma maior autonomia energética, que resultou nesta saudável diminuição do nosso comércio internacional de bens, contribuindo na transformação da balança comercial de bens e serviços de negativa em positiva, de 2022 para 2023.
Esta é uma tendência que se manteve em janeiro de 2024, com as importações e exportações de combustíveis fósseis a recuarem respetivamente 28% e 4,6% face a janeiro de 2023, e o saldo, agora positivo, da nossa balança comercial a crescer.
Em fevereiro de 2023, o secretário de Estado da Internacionalização afirmou que a preocupação do conselho de administração da AICEP é preparar as empresas, nomeadamente as PME, para um conjunto de exigências que agora fazem parte do mundo da exportação. Dito isto, de que forma a AICEP planeia envolver as pequenas e médias empresas (PMEs) no processo de internacionalização, considerando que muitas delas podem enfrentar recursos limitados e desafios adicionais ao expandir para novos mercados?
A AICEP está a disponibilizar um conjunto alargado de produtos e serviços que cobrem a cadeia de valor do processo de exportação e internacionalização das empresas, permitindo responder às suas questões fundamentais: “Como?”, “Para onde?” e “Com que apoios?”.
Na AICEP, as empresas têm acesso a produtos adequados à fase de internacionalização em que se encontram, desde listas de potenciais clientes, a sessões informativas sobre os mercados, a informação regulamentar, à participação em missões empresariais, apoio direto da nossa Rede Externa, bem como o acesso a programa de incentivos de apoio à internacionalização.
Além de apoiar a internacionalização das empresas portuguesas, a AICEP trabalha na sua prévia capacitação, pois uma boa preparação é fundamental para o sucesso dessa internacionalização. A AICEP procura fornecer as informações, formações e ferramentas que permitam às empresas portuguesas tornar-se ainda mais competitivas na arena internacional. Não podemos ignorar o contexto mundial que vivemos, em especial um cenário macro marcado pela reestruturação das cadeias de valor globais, em que importa dar resposta às dificuldades e aproveitar as oportunidades. Habilitando o setor exportador a fazer face aos principais desafios e a abraçar as novas tendências internacionais, a AICEP tem duas grandes apostas na sua vertente de capacitação: o e-commerce e os critérios ESG. O e-commerce é um canal cada vez mais relevante no conjunto do comércio. Ter uma estratégia de comércio eletrónico é ter uma estratégia de globalização, cada vez mais indispensável para as empresas de bens de consumo, sobretudo no B2C, sendo uma aposta da AICEP ajudá-las nesse propósito. Temos várias iniciativas, desde workshops com marketplaces, a ferramentas digitais que recorrem a Inteligência Artificial, a cursos de e-learning.
Adicionalmente, a medida “Internacionalização via e-commerce”, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que visa dinamizar as exportações online de produtos e serviços portugueses, é gerida pela AICEP e tem uma dotação de 23 milhões de euros para apoiar 1.500 empresas portuguesas até 2025.
Paralelamente, lançámos o Programa ESG para PME Exportadoras para capacitação nos critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança Empresarial), que serão exigidos pelos normativos, desde logo da União Europeia, pelas cadeias de produção das grandes empresas e pelos próprios consumidores, cada vez mais sensíveis a estes temas. Trata-se de um programa com iniciativas de capacitação genérica e capacitação específica para PME, em que a AICEP será uma entidade agregadora e de apoio às empresas na sua transição para uma maior sustentabilidade.
Quais são atualmente os principais fatores que influenciam a capacidade das empresas portuguesas de se internacionalizarem com sucesso e de que forma a AICEP planeia abordar esses fatores?
A abordagem aos mercados internacionais deve ser muito ponderada, com uma efetiva análise e estudo dos riscos e vantagens por forma a tomar uma decisão consistente e estratégica, em especial para as PME.
Temos empresas com produtos e serviços altamente diferenciadores, assentes em vetores como a inovação, a qualidade ou o serviço, mas aquelas que conseguem vencer no mercado internacional são as que percorrem o caminho da internacionalização de forma organizada, estruturada, ou seja, estratégica. A qualidade e inovação dos produtos e serviços são essenciais para atrair e manter clientes num mercado global altamente competitivo. A adaptação cultural é outro fator determinante para construir relacionamentos comerciais sólidos, bem como a agilidade e flexibilidade às mudanças dos mercados e dos clientes. A notoriedade da empresa, que passa por uma estratégia bem definida de marketing, e a sua eficiência operacional, nomeadamente logística, são outros fatores a ter em conta. Atualmente, a observância dos critérios ESG, de sustentabilidade, podem conferir uma vantagem competitiva adicional.
Estes são apenas alguns pontos a considerar para uma internacionalização de sucesso, pois os desafios com que as empresas se deparam nos mercados internacionais são os mais diversos e exigentes. É por isso que a AICEP, também com a sua Rede Externa presente em mais de 50 mercados, está naturalmente disponível para prestar o indispensável apoio às empresas, designadamente às PME que pretendam iniciar um processo de internacionalização ou diversificar os seus mercados. A título de exemplo, o Plano de Promoção da AICEP para 2024 investe cerca de cinco milhões de euros em mais de 150 ações de apoio à internacionalização das empresas portuguesas em mais de 40 países. Este plano promocional externo aumenta a aposta em mercados extracomunitários, para uma maior diversificação das exportações nacionais. Entre os principais mercados em foco para 2024 estão os EUA, China, Japão e Canadá, apenas para dar alguns exemplos. A AICEP tem um papel fundamental no acesso das nossas empresas aos países terceiros, fora da União Europeia.
A Agência, por um lado, proporciona a realização efetiva de novos negócios, mas também contribui para o acesso ao mercado e aumento da visibilidade da oferta nacional, através de vários tipos de ações, nomeadamente: missões institucionais e empresariais, participação em feiras comerciais, campanhas promocionais e publicitárias, mostras de produtos, realização de seminários, programas de reuniões e visitas de importadores a fornecedores portugueses.
A colaboração com outras entidades públicas e privadas poderá ser uma das estratégias a seguir para garantir o sucesso das empresas portuguesas no estrangeiro?
No desenvolvimento da missão de promoção do Comércio Externo faz parte da atividade profissional dos trabalhadores da AICEP participar ativamente em fóruns, conferências, feiras e missões, por vezes institucionais, mas em geral com empresas e associações de empresas, em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente como oradores para apresentar a oferta nacional de um determinado setor, ou para ligar exportadores nacionais a importadores estrangeiros, ou para diligenciar dossiers alfandegários, técnicos ou sanitários de acesso aos mercados estrangeiros pelos “Product of Portugal” e os “Made in Portugal”.
Nestas atividades, essenciais para a internacionalização da economia nacional, é fundamental o trabalho desenvolvido, especificamente, pelos trabalhadores da rede externa da AICEP, que implica também a realização de deslocações profissionais a Portugal, integrados em comitivas empresariais, para acompanhamento das visitas de importadores estrangeiros que vêm a feiras nacionais (‘missões inversas’) ou para cumprir programas de contacto com fornecedores nacionais, preparados pela AICEP ou por associações empresariais setoriais. Gostaria de aproveitar para referir que a AICEP está a repensar a sua Rede Externa, de acordo com critérios objetivos e de eficiência, privilegiando os mercados de maior potencial de crescimento, em duas vertentes. Em primeiro lugar, foco em mercados onde exista uma maior concentração nas principais praças emissoras ou plataformas de IDE produtivo, com maior potencial para Portugal – pretendemos cobrir cerca de 90% do IDE emitido no mundo. Em segundo lugar, mercados extracomunitários com maiores oportunidades de crescimento das exportações nacionais, onde a AICEP seja uma mais-valia no tramitar de dossiers de acesso ao e no mercado.
Para exemplificar, posso referir que encerrámos recentemente as Delegações da AICEP em Havana e em Teerão e vamos abrir, ainda este ano, Delegações em Riade e em Singapura.
A cooperação e colaboração com as Câmaras de Comércio também é uma das grandes apostas para promover a internacionalização das empresas portuguesas?
Acreditamos que quanto mais se trabalhar em conjunto, mais e melhor apoio se dará às empresas nacionais.
Temos como um dos nossos propósitos, no nosso Plano Estratégico para o triénio 2023-2025, aprofundar o relacionamento entre a AICEP e as Confederações e Associações Empresariais, Câmaras de Comércio Portuguesas no estrangeiro e as Câmaras de Comércio estrangeiras em Portugal, identificando áreas de cooperação e de complementaridade de serviços prestados às empresas portuguesas, no apoio às exportações e à internacionalização.
Neste sentido, já estamos a trabalhar numa reorganização das Fileiras acompanhadas pela AICEP, um trabalho conjunto com as Associações Setoriais com vista a contribuir para uma estratégia de promoção integrada.
Acompanhamos mais de 270 associações setoriais que passarão a estar organizadas em 10 Fileiras, articuladas com o IAPMEI, de modo a posicionar, com maior valor acrescentado, a oferta nacional em mercados externos: Fileira do Agroalimentar; Fileira da Economia Azul; Fileira da Arquitetura, Engenharia e Construção; Fileira da Metalomecânica; Fileira da Mobilidade; Fileira da Aeronáutica, Espaço e Defesa; Fileira das TDIC; Fileira da Saúde e Ciências da Vida; Fileira do Lifestyle; Fileira das Indústrias Culturais e Criativas.
Já com as Associações Multissetoriais, Nacionais e Regionais, e com as Câmaras de Comércio, procuramos sinergias que resultem numa promoção de Portugal no estrangeiro através de uma presença nacional única, em feiras comerciais e outros eventos.
Além da expansão dos mercados de exportação, quais são as estratégias específicas que a AICEP adotará para impulsionar a internacionalização das empresas portuguesas?
Os nossos esforços de promoção das exportações terão em especial atenção aqueles mercados extracomunitários onde se verificam os maiores crescimentos económicos, dos rendimentos, das classes médias e do consumo. Onde os delegados da AICEP mais podem fazer a diferença para as nossas empresas, no tramitar do acesso ao mercado.
Se é verdade que a União Europeia ainda representa 64% das exportações portuguesas de bens, também é verdade que há uma crescente diversificação, com destaque para a América do Norte. Os Estados Unidos foram o país com maior ganho de quota desde 2020, sendo já o nosso 4º cliente.
Além de consolidar a quota de mercado e progredir em segmentos da cadeia de valor nos países da União Europeia – o mercado interno, próximo e natural para as exportações portuguesas – a diversificação para mercados extracomunitários, maduros e sofisticados, pode ter um papel importante na mitigação do risco para muitas empresas. Como será desde logo o caso de outro parceiro comercial já muito relevante, o Reino Unido, e de países com quem a União Europeia já estabeleceu acordos de comércio livre, como Canadá, Japão ou Coreia do Sul. Não esquecendo uma aposta em novas geografias, especialmente na Ásia, do Médio Oriente ao Sudoeste Asiático.
Também merecem destaque os mercados com os quais Portugal tem um relacionamento histórico, que alavanca fluxos de investimento e de bens de consumo, onde se verifica uma maior presença internacional das PME nacionais. Não só os países da CPLP, mas também outros onde a presença da Diáspora é significativa.
É de assinalar que, em 2023, as exportações portuguesas de bens e serviços para os mercados extracomunitários, já 36% do total, cresceram 6,7%, muito acima dos 3,7% de crescimento no espaço comunitário, ainda 64% do total. Uma tendência que queremos aprofundar.
Assumiu ainda como principal objetivo para este mandato reforçar a promoção de Portugal como um destino atrativo para grandes investimentos produtivos, sejam nacionais ou estrangeiros. O primeiro passo para aumentar as exportações é, sem dúvida, aumentar o investimento produtivo?
Sem dúvida, só podemos exportar o que produzimos. Atrair novos projetos de investimento produtivo significa atrair investimento gerador de bens transacionáveis e aumentar a capacidade de produção, o que contribuirá para novas exportações, num círculo virtuoso que dinamizará o crescimento económico e dos rendimentos no País.
No investimento os esforços começam na criação de condições de acolhimento, que nos permitam concorrer internacionalmente por mais e melhores projetos criadores de riqueza, geradores de bens transacionáveis de elevada intensidade de capital e tecnológica, apreciadores das qualificações e dos salários dos portugueses. Para isso, a AICEP trabalha em três frentes.
Primeiro é preciso conceber legislação que permita a criação e disponibilização de solo de uso industrial viável – para lograr para Portugal novos grandes projetos, os que requerem 50, 100 ou 200 hectares – e promover a simplificação dos licenciamentos urbanísticos, ambientais e empresariais, sempre com a preocupação de elevar a fasquia na compatibilização de uma maior proteção dos valores ambientais com a promoção de um desenvolvimento económico cada vez mais sustentável.
Em segundo lugar, garantir a disponibilidade de acessibilidades e utilidades, com destaque para a interligação e provimento de eletricidade verde para a nova indústria e serviços descarbonizados.
E, finalmente, desenvolver o nosso próprio Regime Contratual de Investimento, que nos permita incentivar financeira e fiscalmente estes novos grandes projetos de IDE, mas também os grandes novos projetos e reinvestimentos por empresas nacionais ou já presentes em Portugal.
Sobre este último ponto, gostaria de aproveitar para destacar que a AICEP trabalhou junto do Governo e foi possível alcançar a sua concretização, no passado dia 26 de março, com uma dotação de mil milhões de euros para um primeiro conjunto de grandes projetos de investimento empresariais estratégicos para a economia nacional.
Em junho de 2023 anunciou que estavam “em cima da mesa cerca de 40 projetos externos com um potencial de investimento próximo dos 25 mil milhões de euros”, estando em curso “uma série de investimentos como Portugal já há algum tempo não via”. Decorrido quase um ano, como avalia a captação de investimento direto estrangeiro?
Esses são valores referentes ao pipeline de investimento que, entretanto, foram revistos. Temos atualmente em pipeline 44 projetos de investimento produtivo, sobretudo estrangeiro, no valor total de 32,3 mil milhões de euros. São dados muito positivos que revelam que Portugal continua a estar claramente no radar dos investidores.
Já quanto a resultados atingidos, em 2023, alcançámos um novo recorde de investimentos produtivos angariados pela AICEP, no valor de 3,5 mil milhões de euros. Trata-se de novo investimento estrangeiro e também reinvestimento nacional e estrangeiro, que corresponde à criação de cerca de 8.300 postos de trabalho. Mais uma vez, são dados muito positivos para o País. Outro dado relevante é que angariámos no ano passado mais investimento de cariz industrial do que no ano precedente, o que demonstra que Portugal tem condições únicas para ser uma grande plataforma da reindustrialização da Europa.
Em que setor específico a AICEP está focada em atrair investimentos estrangeiros e de que forma esses projetos contribuirão para a modernização e diversificação da economia portuguesa?
Precisamos primeiro de apostar nos setores habilitadores da transformação da economia portuguesa: a logística de bens, dados e serviços; a produção de energia e de matérias-base (verdes, descarbonizadas e circulares) minerais, metalúrgicas e químicas, com efeito multiplicador no tecido produtivo nacional pelo seu fornecimento em proximidade e – esperamos – em preço.
As nossas fileiras de aposta são depois, primeiro a indústria automóvel, com ênfase na mobilidade elétrica e sintética descarbonizada, extensível ao material circulante ferroviário e à aeronáutica. Em segundo lugar as ciências da vida, com ênfase na farmacêutica. Em terceiro, a agroindústria, sabendo que Portugal é um importador de produtos agrícolas, mas exportador de produtos alimentares. E por fim a metalurgia, um setor onde Portugal soma condições competitivas.
Desde logo, na atração deste IDE partimos com a vantagem competitiva do Portugal Sustentável. De Portugal ser um país pioneiro na dupla transição energética; mas também digital, agora com mais cabos submarinos de telecomunicações que o ligam aos cinco continentes e projetos de centros de processamento, computação e armazenamento de dados.
Por exemplo, é nessa linha e pensando na primeira das fileiras de angariação de IDE, a da mobilidade, que a AICEP está neste momento a procurar ativamente atrair investimento em semicondutores. Uma indústria crucial para a autonomia estratégica de Portugal e da Europa e o potenciar da indústria nacional.
Sabemos que existem em cima da mesa vários projetos em andamento para promover a sustentabilidade e a descarbonização da economia portuguesa. De que forma a AICEP pretende colaborar com esses projetos e em que medida isso se encaixa na sua estratégia global?
Os investimentos estratégicos e estruturantes de indústria verde, sustentável e descarbonizada refletem as tendências globais em direção a uma economia mais verde e sustentável e Portugal tem vantagens competitivas para os atrair, aliás já está a fazê-lo. A AICEP tem no seu pipeline de investimento projetos da fileira do lítio e matérias base para a indústria transformadora e vai continuar a trabalhar para angariar mais projetos de investimento nestas áreas.
Portugal é pioneiro na dupla transição energética e digital e apostamos nas vantagens competitivas do Portugal Sustentável: ter eletricidade renovável, para atrair indústria pesada descarbonizada, de produtos-base, verde e circular. Acreditamos que estes investimentos impulsionam o crescimento económico e a competitividade de Portugal.
Já do lado do comércio e das empresas portuguesas, consideramos que a incorporação dos critérios ESG não deve ser encarada pelas empresas como uma obrigação, mas como uma oportunidade que tem viabilidade financeira, comercial e económica. São os próprios consumidores e as gerações mais jovens que começam a exigir a adoção de práticas de sustentabilidade às empresas. Entre as vantagens contam-se os ganhos de eficiência, incluindo melhorias no desempenho financeiro, e o aumento de notoriedade e valor das marcas percecionadas como sustentáveis.
De facto, o ESG deve ser encarado pelas empresas como uma estratégia de negócio e de criação de valor. Por isso, as PME exportadoras que queiram manter a sua competitividade num contexto cada vez mais consciente em relação ao ESG, devem começar desde já a trabalhar e a AICEP, tal como já referi, está a implementar um programa de capacitação em ESG de molde a capacitar as empresas e contribuir para o seu sucesso.
Considerando o crescente interesse global no hidrogénio verde, de que forma a AICEP planeia posicionar o país como um centro de excelência nesse campo e atrair investimentos estrangeiros para impulsionar o desenvolvimento e crescimento desta indústria em Portugal?
O Portugal Sustentável tem, como primeira vantagem neste campo, a disponibilidade e preço da eletricidade renovável. Em segundo lugar a fantástica expertise empresarial e académica lograda pela aposta, que afinal foi atempada e não precoce, na transição energética.
A Economia Verde, do lítio aos gases renováveis como o hidrogénio verde, emerge como um catalisador crucial na atração de Investimento Direto Estrangeiro, pela crescente dinâmica global de primado das questões ambientais, em especial a sustentabilidade por via da circularidade e descarbonização. Empresas e investidores estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental das suas atividades, pelo que as localizações onde a sustentabilidade seja uma prioridade são crescentemente valorizadas.
A Economia Verde abrange setores que priorizam a eficiência no uso de recursos, a redução das emissões de carbono e a preservação ambiental, como energias renováveis, eficiência energética, circularidade de resíduos, transporte sustentável, entre outros. Com as maiores reservas confirmadas de lítio na Europa e grande potencial de produção de hidrogénio verde, Portugal está bem posicionado para beneficiar do aumento de investimento em tecnologias de energias limpas, e com elas atrair indústria da nova mobilidade e da química descarbonizada e circular.
É importante desenvolver uma indústria inovadora e competitiva, ao mesmo tempo que se privilegia a descarbonização da economia, e a AICEP está comprometida com esse desígnio.
Como sabemos, a transformação tecnológica e digital é um pilar importante para a competitividade das empresas portuguesas. Neste contexto da transformação digital, quais são as medidas/iniciativas específicas que a AICEP pretende desenvolver com o objetivo de promover a adoção de tecnologias digitais pelas empresas portuguesas e impulsionar a sua competitividade nos mercados internacionais?
Além da aposta em capacitar as empresas para o e-commerce, de que já tive oportunidade de falar, a AICEP tem desenvolvido várias ferramentas digitais para apoio às exportações, bem como workshops, cursos e outras iniciativas para capacitar as empresas.
Em paralelo, gostaria de referir que a infraestrutura digital e o nível de digitalização de um País são cruciais para a sua competitividade global, influenciando diretamente a decisão dos agentes económicos sobre onde investir.
Portugal tem tido, nos últimos anos, um crescimento sem precedentes de investimento estrangeiro na área tecnológica, sobretudo das gigantes do setor das tecnologias de informação e comunicação, do setor automóvel, da indústria, da engenharia, das ciências da vida, dos serviços financeiros. O País é hoje local privilegiado para a criação de projetos para testar e desenvolver as soluções do futuro e a sua aplicação a várias indústrias, bem como suportar serviços tecnológicos com foco global. Projetos que têm tido um impacto muito relevante nas qualificações, nas formas de organização do trabalho, nas exportações e na sofisticação e complexidade dos serviços prestados. Os Centros de Competência, Desenvolvimento e Software que atualmente existem em Portugal têm contribuído significativamente para a consolidação do hub tecnológico e digital, pelo qual o País começa a ser reconhecido na esfera internacional.
A AICEP tem acompanhado e angariado novos centros de serviços para Portugal nos últimos anos, cada vez mais complexos e de maior valor acrescentado: atualmente em acompanhamento cerca de 200 empresas que correspondem a 250 centros que empregam cerca de 85.000 pessoas.
Outra grande aposta é consolidar Lisboa e Sines enquanto centros nevrálgicos para a amarração de cabos submarinos de telecomunicações, que ligam Portugal a vários pontos do globo, e que tragam o valor acrescentado do processamento de dados. Esta dimensão logística, em que o trânsito de dados é mais rápido, por que mais direto com muito mais disponibilidade de Internet, mas não traz aumento de custos, contribui para a dinamização da transição digital e para a atração de projetos de investimento digital e tecnológico.
Portugal está no mapa do novo paradigma da conectividade e no centro da Digitalização da Economia, tão importante para a competitividade das empresas e atração de novo investimento.
Está há quase um ano à frente da AICEP. Desde o início do seu mandato, em junho de 2 023, como avalia o progresso alcançado até ao momento e quais são os principais marcos ou realizações que destaca durante este período?
Aproveitaria para destacar o marco mais recente e muito relevante que foi a concretização do Regime Contratual de Investimento, através da RCM 49/2024, publicada no passado dia 26 de março em Diário da República, e que permite a criação de um sistema de incentivos a «Investimentos em Setores Estratégicos», no âmbito do Regime Contratual de Investimento e ao abrigo do Quadro Temporário de Crise e Transição, algo pelo qual a AICEP tem vindo a trabalhar para permitir a concretização de grandes projetos de investimentos produtivos que a Agência tem vindo a angariar pelo mundo fora. Está previsto um orçamento estimado de 1.000 milhões de euros, alocando verbas, a título de incentivos financeiros, de natureza reembolsável ou não reembolsável, em função da tipologia de projetos e do resultado da análise dos indicadores de avaliação e desempenho dos promotores que a AICEP realize e cuja execução financeira decorrerá até 2030, sem prejuízo da possibilidade de recurso a garantias sobre empréstimos ou benefícios fiscais dependendo do quadro legal aplicável.
Esta dotação de mil milhões de euros permitirá acomodar grandes projetos estratégicos de investimento que a AICEP tem em carteira, nomeadamente três da fileira dos veículos elétricos; um de aeronáutica e um de matérias-base para a indústria transformadora.
Qual é a visão de longo prazo da AICEP para o papel de Portugal no comércio global e na economia internacional?
Importa destacar o modelo virtuoso de crescimento que Portugal tem seguido até agora e que devemos prosseguir: continuar a atrair mais investimento produtivo para aumentar as exportações e a substituição de importações.
Pretendemos consolidar o conceito de “Portugal Sustentável” como um país globalmente competitivo e inovador, atraindo investimentos estrangeiros, promovendo a internacionalização das empresas portuguesas e impulsionando o crescimento económico sustentável.
A AICEP vai continuar a trabalhar para que Portugal permaneça um destino líder para investimentos estrangeiros, destacando a sua estabilidade e segurança, a abertura da sua economia, a qualidade das infraestruturas e qualificação dos portugueses, assim como o seu sucesso na dupla transição energética e digital. Ao mesmo tempo, apoiaremos ativamente as empresas portuguesas na sua expansão para mercados internacionais, designadamente através da sua capacitação e do apoio da Rede Externa da AICEP. A promoção de setores estratégicos da economia também contribuirá para aumentar a competitividade global do País.
A aposta na inovação e desenvolvimento tecnológico, em particular através de novos projetos de investimento em I&D, assim como na sustentabilidade e descarbonização, serão outros fatores determinantes para o sucesso de Portugal. A AICEP pretende contribuir para posicionar Portugal como um player relevante na economia global, impulsionando o crescimento económico para gerar empregos cada vez mais qualificados e aumentar a qualidade de vida dos cidadãos portugueses.
Manuela Freitas
9 meses agoEste Organissmo foi sempre um inoperante para as oequenas médias Empresas… cheio de lobbus!
As pessoas pareviam ter medo não sei bem de quê… Vergonha mesmo. Sao centenas de pessoas que não se petcebe para que servem…
N área textil cheguei a pedir contactos de empresas sendo que a lista que me forneciam tinham dezenas delas que já tinham fechado..