Kara Miranda Lawrence

Kara Lawrence é uma artista versátil com experiência profissional em artes geradas por computador e dança flamenca. Atualmente diretora de fotografia digital para filmes de longa-metragem, trabalhou muitos anos em animação para empresas estabelecidas e também para clientes freelancer. O seu trabalho de design variou desde gráficos em movimento, pré-visualização de ação ao vivo, modelagem 3D de aplicações de jogos até à renderização arquitetónica e design gráfico. O seu projeto de tese no programa pertencente ao Bacharelado em Artes Mídia na Universidade Emily Carr foi um filme premiado adaptado do famoso romance de contos de fadas português “A Fada Oriana”. Do lado da dança, com o seu nome artístico “Kara Miranda” uma referência às suas raízes portuguesas, visto que Miranda é o seu nome do meio e o nome de solteira da mãe, tem obtido sucesso atuando em todo o Canadá e nos Açores em vários grupos e companhias de dança.

Quando e como começou a sua paixão pela animação?

Fui abençoada por ter crescido numa família que me apoiava artisticamente, com pais que se conheceram na escola de artes e que incentivaram os meus interesses na dança, música e artes visuais. Sempre existiram momentos de inspiração e influência nesses campos, e desde que o meu pai se tornou um programador, a minha irmã e eu usávamos computadores e jogávamos jogos, num tempo em que tal era muito raro. Por isso, sempre fiquei intrigada com o mundo digital para a expressão artística. Lembro-me de ter ficado maravilhada com os dinossauros gerados pelo computador no Jurassic Park, e, mais tarde, o trabalho da Pixar, que acabaram por me despertar a curiosidade, pensando que esta carreira poderia ser uma possibilidade. Depois de assistir a uma palestra de um compatriota nativo de Victoria e artista conceptual de longa-metragem bem sucedido e respeitado, Iain McCaig, fui compelida sobretudo com o desejo de um dia ser tão apaixonada e feliz por falar sobre a minha vocação com os outros como ele foi.

Tem no seu portfólio, Marvel, Disney, lTV, Netflix, e muitas outras grandes empresas para as quais trabalha. Como é que essa aventura começou e como foi possível chegar tão longe?

Para mim, não foi um caminho fácil e gostaria de compartilhar isso, pois talvez possa dar esperança a outros que estão a lutar para realizarem os seus sonhos. Para além de ser uma indústria internacional muito competitiva que espera um nível elevado mesmo nas vagas de entrada, tive a dificuldade, após ter-me formado na universidade, durante a crise financeira de 2009. Através de inúmeras horas e anos de trabalho árduo, atualizando o meu portfólio de apresentação, enviando candidaturas a empregos, estabelecendo redes de contactos e frequentando cursos extra, nunca me deixei desencorajar totalmente. Depois de me apoiar com vários contratos independentes e trabalhos de arte em campos fora da “indústria” finalmente entrei nela aos 30 anos de idade graças a estar no lugar certo, à hora certa e principalmente por estar preparada para o teste de arte que me foi dado para esse papel. Por isso, o meu conselho para os outros que lutam pelo seu sonho, mantenham-se no rumo, tentem tudo o que puderem, e não percam a esperança se é algo que realmente querem!

“Oriana”, um filme vencedor de vários prémios (adaptado do livro infantil “A Fada Oriana”), foi traduzido do texto original em português. Fale-nos sobre este projeto, e se esperava obter o sucesso alcançado.

Ao procurar ideias de tese para continuar a explorar as minhas raízes através da minha arte, deparei-me com este livro que continha uma mensagem muito forte; fiquei emocionada quando o filho do falecido autor me concedeu permissão para o adaptar. Raramente os pequenos filmes de estreia alcançam muito sucesso, pelo que não era a minha expectativa. O meu foco foi sempre, antes de mais, produzir uma obra que adorasse, e desfrutar do processo de escrever a poesia, colaborar com os engenheiros de som e artistas de voz, e criar o mundo visual. Por isso, foi uma grande surpresa e honra o quão bem recebida foi tanto no Canadá como em Portugal. Desde ganhar os prémios do festival de cinema, um que foi entregue diretamente pelo presidente dos Açores, até finalmente ter o filme integrado no currículo escolar de Portugal, ultrapassou inclusive o que eu tinha imaginado!

Para além da fantástica carreira na animação, Kara Lawrence (ou deveríamos dizer Kara Miranda) é também uma bailarina de flamenco premiada. Porquê flamenco? Poderemos vê-la brevemente a atuar em Portugal?

Quando eu era jovem, vi por acaso a minha professora de ballet a dançar flamenco com o seu marido guitarrista e apaixonei-me pela paixão e pela força. Obviamente que a cultura espanhola é muito singular da portuguesa, mas sempre ponderei se estaria mais ligada às minhas raízes com o seu espírito ibérico. Não há dúvida que a proximidade entre os dois países lhe confere semelhanças com a língua e os sentimentos, e pode-se até verificar essas parecenças emocionais e melancólicas no fado e no flamenco. Tive a sorte de ter sido convidada duas vezes pelo governo açoreano (2007 e 2010) para atuar e participar em workshops tanto com dançarinos locais como com outros de ascendência açoriana de todo o mundo. Um dia eu adoraria regressar para outro espetáculo se as oportunidades se proporcionarem.

Quais são as suas origens lusófonas?

Metade do meu sangue é português – a minha mãe nasceu em São Miguel e emigrou para o Canadá. Ela sempre me incentivou a explorar e a interessar-me pela música, cultura e gastronomia portuguesa. Partilhamos o desejo de incorporar a cultura portuguesa nas nossas vidas artísticas, e recentemente estive em Portugal, cerca de 1 mês, a descobrir e a inspirar-me para futuros trabalhos.

Qual é a sua relação com os Açores hoje em dia?

Tenho sorte de em Montreal existir uma grande comunidade de imigrantes açoreana. Temos um pavilhão açoreano e muitos dos que participam nos festivais anuais portugueses são também açorianos. Depois da pandemia, espero envolver-me mais nessa comunidade e, claro, visitar novamente as ilhas.

Considera que as artes são importantes para o desenvolvimento dos países?

O Conselho de Artes do Canadá acaba de divulgar os resultados do seu estudo sobre a importância das artes para a saúde e bem-estar dos nossos cidadãos: “as artes criam empregos, atraem investimentos, geram receitas fiscais, e estimulam as economias locais através do turismo e das compras dos consumidores”.

Inevitável no momento por que estamos a passar, como está a “sobreviver” a esta pandemia?

Sem dúvida que teve consequências devastadoras para as artes performativas, pelo que a minha carreira de dança, em particular, abrandou e evoluiu para uma prática mais individual do que baseada na performance. Felizmente, a minha experiência permitiu facilmente a transição e trabalhar a partir de casa. Quando consigo estar fora do ecrã, procuro a natureza para me ajudar no meu equilíbrio emocional e físico.

Quais são os seus projetos para 2021?

Além do meu trabalho a tempo inteiro em projetos (inéditos) da Disney, tenho vários projetos de arte em colaboração com a minha irmã e outros projetos pessoais planeados. Um deles tem a ver com o flamenco e cinema num projeto que estou envolvida nos últimos anos com um artista madrileno.

Qual é o seu maior sonho?

Sonho em encontrar continuamente formas de financiar os meus próprios projetos pessoais, voltar a viajar, colaborar com artistas que admiro e continuar a inspirar os outros com as minhas obras.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Continuem a perseverar, mesmo quando os tempos são difíceis. Vocês são o que o mundo mais precisa agora. Não se sintam desencorajados por nem todos apreciarem o vosso valor e, mais importante, continuem a partilhar genuinamente a vossa verdade e luz.

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